ENQUANTO OS DESASTRES NÃO ACONTECIAM, AS COISAS NO COLÉGIO EINSTEIN SEGUIAM O CURSO NORMAL. Aulas sequenciais, simulados, atividades esportivas, seminários e várias outras obrigações curriculares que os alunos tinham que cumprir. Todos os dias as atividades eram variadas, mas havia um efeito manada que se criava nos dias de jogo, que interrompia essa diversidade de atividades e monopolizava o ambiente do colégio inteiro. Nestes dias, a instituição se moldava às cores do time de basquete, bandeiras com o emblema dos "bávaros de Einstein" eram penduradas pelos corredores e os alunos eram dispensados para o ginásio. A diretora fazia questão que as arquibancadas ficassem lotadas, para que a paixão pelo esporte que os alunos do colégio Einstein carregavam, fosse evidenciada por todos.
Tudo pelo bem do esporte. Ou não...
Os que adoravam toda essa atenção eram Eric e Daniel, as principais estrelas do time de basquete. Os dois desfilavam pelos corredores, em direção ao vestiário, de queixo levantado, olhar vaidoso; surfando na onda de empolgação dos alunos em volta, enquanto recebiam com orgulho a ovação dos meninos e os suspiros discretos das garotas. Um verdadeiro sonho adolescente.
Toda vez era o mesmo furdunço. Gritos de motivação se mesclavam ao clima energizado que poluía o lugar. Para a maioria dos garotos, Eric e Daniel eram os "caras"; admirados como deuses no meio de mortais, por serem detentores da popularidade e do talento esportivo que todo adolescente deseja. Pra resumir, eram os "mais fodas" do colégio, e todo mundo via isso. Mas haviam três garotos que poderiam jurar que eles não passavam de idiotas metidos.
Metidos ao cubo, na verdade.
Naquela manhã, ao chegar ao colégio, Eduardo escalou os degraus na entrada do edifício e se entediou ao ver o banner da partida exposto bem acima da porta. O rosto de Eric e o do capitão da equipa adversária se encarando, a seriedade do confronto escancarada em suas expressões. Eduardo, ao ver aquilo, se irritou, pois, graças a dita partida, seu irmão saiu mais cedo de casa e o deixou sem carona. Estava indignado.
— Eu achava que você detestava ter que vir com o Eric todos os dias? — Rafael comentou, admirado. Ele e Liza ouviram Eduardo reclamar por ter vindo de ônibus desde que o cruzaram no portão. Não conseguiam entender.
— Eu não gosto de andar com ele — O menino respondeu. — Isso não mudou. O problema é que, se ele não me diz antecipadamente que vai sair cedo eu perco a hora e chego tarde.
— Hoje é dia de jogo, relaxa, não tem aulas.
— Eu sei... — Eduardo olhou para outro banner pendurado no fim do corredor e suspirou. — Se não fosse porque a diretora faz questão que todo mundo apareça para apoiar os seus "atletas queridos", eu nem viria pra cá. Os dias de jogo me enjoam.
Ele ouviu Risinhos vindos de trás e se virou com o cenho cerrado.
— O que foi?
Rafael e Liza, andando lado a lado, se entreolharam e engoliram as risadas.
— Nada não... — A menina respondeu.
— Ah tá, agora vocês também debocham de mim!
— Não é isso...
— Então o que é? Eu não tô vendo mais nada que possa soar engraçado por aqui.
Liza tentou responder, mas hesitou. Rafael tomou a frente da conversa.
— É que a sua relação com o seu irmão é... meio confusa.
— Confusa?
— Sim... Vocês levam muito a sério as vossas briguinhas de irmãos e pra mim isso é engraçado.
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Novela JuvenilSempre nos perguntamos como as provocações, as risadas e os deboches podem afetar a vida de alguém vulnerável. Esses cinco meninos podem responder essa questão. Liza, Mara, Tobias, Eduardo e Rafael, são adolescentes vítimas de bullying, que planejam...