21 - Dia Nublado.

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DEPOIS DA APARENTE RECONCILIAÇÃO DO GRUPINHO, ERA DE SE ESPERAR QUE AS COISAS VOLTASSEM AO QUE ERA SEMANAS ATRÁS. Mas, dessa vez, com sutís alterações. Pela primeira vez, os quatro não pareciam estranhos sentados na mesma mesa, e mesmo com a interação entre eles não sendo guiada por risadas, como nas mesas em volta, dava pra ver uma mudança significativa em suas posturas. Dominick, que os observava de longe, conseguia constatar isso. Agora sim eles pareciam unidos.

Havia um certo carinho no olhar de Liza para Eduardo, algo interpretável; como uma semente plantada em terra fértil que se fosse regada e bem cuidada, poderia florir. O mesmo sémen de amor se via entre Liza e Mara, Mara e Eduardo. Talvez — com sorte — aquilo fosse um sinal de que uma boa amizade germinava daquela estranha união. Era possível. Mas para Dominick, um elemento não ajudava na equação: Tobias.

Talvez pelo jeito que o garoto sorria, com um canto da boca mais levantado do que o outro, ou talvez, pela maneira que tentava controlar todos a sua volta; o professor não sabia explicar. Só desconfiava do garoto com todas as forças.

Naquela manhã, estava de pé, apoiado ao ladeio da porta de entrada da cantina, envolto em conjecturas sobre Tobias, o grupinho e seus mistérios, quando sentiu um toque suave no ombro. Se virou e viu Virgínia parada ao seu lado.

— O que o Tobias tem de tão especial que você não tira os olhos dele? — A psicóloga questionou.

Dominick não esperava a pergunta.

— Ah... Eu não estou olhando para o Tobias. — Disfarçou.

— Tá olhando pra quem, então?

O professor se encabulou.

— Para os meninos, em geral... Estou só dando uma inspecionada para ver se está tudo em ordem.

Virgínia não mascarou o olhar suspeito. Dominick logo desviou o assunto:

— E o que te trouxe aqui? Achei que não gostasses de ficar longe do seu consultório climatizado.

A psicóloga sorriu vagamente. Catou o celular e dedilhou sobre a tela enquanto respondia:

— Eu vim auxiliar a diretora, queridinho. Ela tem uma notícia importante para dar a todos.

— E onde está ela?

— Ah... Não sei. — Ela olhou para trás de relance. — Deve estar criando coragem ou sei lá. Assim que estiver pronta vai descer.

A resposta era intrigante, mas o professor estava tão focado em observar o grupinho que ignorou as perguntas que se formaram em sua mente. Com os olhos apontados para a mesa dos revoltados, ignorou a jovem ao seu lado e voltou a esquadrinhar os pensamentos, tentando encontrar uma maneira de se reaproximar dos garotos. Virgínia não deixou o momento passar.

— Isso pode ser obsessão, viu. — Provocou. — Se você quiser eu posso te ajudar a tratar desse problema.

Dominick se afetou. Virou o olhar para outro lugar, dissimulando.

— Do que você está falando?

— Do jeito que você olha para os quatro alunos lá no fundo. É preocupante!

— É que alguém precisa se preocupar com eles, senhorita orientadora.

Virgínia ergueu as sobrancelhas e sorriu desdenhando.

— Se preocupar?! Então você ainda está com aquela sua ideia maluca de que eles planejam um atentado?

Dominick não respondeu. Respirou fundo e vagou seu olhar pela cantina.

— Isso é loucura. — A jovem prosseguiu. — Mas deixa te dizer que eu parei para observá-los nesses últimos dias e, sinceramente, não acho que você esteja completamente errado, queridinho.

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