| Capítulo 43

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Boa leitura
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Durante toda a manhã do dia seguinte, Louise voltou ao vilarejo e tentou fazer daquela modesta casa abandonada e cheia de poeira, uma moradia digna novamente para ela mesma. Limpou o chão, tirou as teias de aranha do teto, consertou os fechos das portas e as cortinas. Jogou fora as louças velhas e quebradas, assim como fez com todo o resto da tralha que ainda estava lá.

Era um trabalho demorado e pesado para que ela fizesse sozinha, mas definitivamente não queria que Albafica faltasse de suas obrigações como cavaleiro para ajudá-la, e ela se sentia ansiosa e disposta o suficiente naquele dia para fazer tudo aquilo, mesmo que depois que terminasse a sensação era de estar quebrada.

Finalizado todo o trabalho, Louise pegou suas coisas e decidiu voltar para a casa zodiacal. Não deveria passar do meio dia e provavelmente Albafica ainda não teria chegado, e ela aproveitaria a oportunidade para preparar algo para eles e depois poderiam relaxar no jardim. Já que Albafica prometeu que a levaria até lá para conhecer.

°°°°°

Caminhando distraída de volta para o santuário, Louise se assustou quando percebeu que estava sendo observada, e por ninguém menos que o cavaleiro da indomável armadura de câncer; Manigold a espreitava ao lado de uma casa, escondido entre dois barris grandes de condimentos.

Os braços cruzados na postura rígida e os olhos fixos na direção dela, indicavam que ele estava pacientemente à sua espera, como se soubesse precisamente onde ela estava.

- Você me assustou Manigold - repreendeu a jovem com a mão no peito

- Não mais do que vocês me assustaram ontem com o segredinho de vocês - rebateu ríspido.

Louise engoliu em seco, não era o melhor momento para lidar com a insatisfação e revolta de Manigold. Ele ainda parecia irado, suas expressões davam indícios de que a qualquer momento ele poderia explodir como uma bomba.

Suspirou, precisava ser cautelosa, principalmente porque não estavam no santuário e haviam pessoas perto deles que poderiam facilmente ouvir sobre o que falavam.

- Eu sinto muito que tenhamos o chateado, principalmente Albafica... - lamentou sincera -. A verdade é que tudo, desde o começo, foi inesperado. Não estavamos planejando contar logo agora que chegamos e...

- Oh! Era uma surpresa para todo o santuário? - a cortou - Desculpe se estraguei a revelação de vocês descobrindo antes. - ironizou -, mas acontece que nem eu e nem os outros cavaleiros somos burros! É óbvio que assim como eu, eles iriam descobrir quando te vissem entrando na casa de peixes com todo aquele veneno e saindo de lá viva!

- Eu sei, eu sei que uma hora ou outra todos iriam notar a verdade. Parece óbvio para quem quer que veja Albafica com toda a sua preocupação em não ter contato com outras pessoas por conta de seu sangue - argumentou Louise aflita -. Acontece que é uma longa história e, pode ser, que as reações não sejam as melhores. Por isso evitamos contar a verdade por agora.

O rapaz a encarava sério, com o olhar afiado. Sentia que estavam escondendo ainda mais coisas dele. Até onde ele sabia, Louise estava morta e longe de ressuscitar, assim como a irmã mais nova. Então, por que ela estava bem ali na sua frente?

Pelo pouco que conversavam quando a jovem vendia flores no vilarejo, Manigold sabia que tanto ela quanto a irmã ficaram órfãs bem cedo e que foram morar com uma tia em uma vila afastada e que quando essa tal tia veio a falecer elas voltaram para Rodorio.

Nunca ouviu uma crítica ou desagrado sequer sair da boca de Louise ou da irmã Margot, em relação ao vilarejo e ao santuário. Exatamente por isso, o fato de ela ter ido embora sem sequer avisar e voltar sem Margot, considerando o fato de que as duas eram grudadas feito carne e unha, o intrigava profundamente.

E como se não bastasse, não só voltou sem a irmã, como voltou com o cavaleiro de peixes e ainda resistente ao veneno das rosas.

Manigold suspirou. Havia algumas pontas soltas que ele precisava e queria saber.

- Me diga uma coisa - pediu descruzando os braços e se aproximando cautelosamente da moça -, porque você foi embora e como se tornou resistente ao veneno?

Louise hesitou. Não sabia exatamente qual seria a reação de Manigold em saber tudo que a levou a mudar de vilarejo e ficar por um ano longe de tudo. Mas ao mesmo tempo seria inútil esconder mais um fato.

No fundo, confiava o bastante no cavaleiro para crer que ele não iria sair espalhando para todos que ela levou uma rosa diabólica para casa e acabou matando a irmã por conta disso. Mesmo que tivesse quase certeza que quando ele soubesse, fosse proferir alguns insultos e calúnias contra ela, por ter sido imprudente na época.

- Tem certeza de quer saber? Não vai me odiar depois de saber o que fiz? - indagou após engolir em seco

Manigold recuou por um momento.

- Essa é a parte que você me conta? Pois bem, quando quiser - respondeu acomodando as mãos juntas nas costas e assumindo a postura de alguém disposto a dar toda atenção à Louise.

A jovem olhou em volta. Havia algumas crianças brincando por perto e alguns idosos caminhando, resolveu não arriscar, já que ainda não conhecia direito todas aquelas pessoas.

- Venha comigo - chamou, e deu as costas caminhando de volta para a casa que em breve seria sua nova moradia

- Para onde estamos indo? - perguntou Manigold no caminho

- Estamos indo para um local seguro onde você poderá saber de tudo sem que ninguém mais saiba.

Chegando na casa, Louise abriu a porta e deu passagem para o cavaleiro, que olhou para todos os lados antes de entrar, visivelmente confuso e desconfiado.

- Que casa é essa?

- É a minha casa. A casa que irei morar quando terminar de concertar tudo.

- Ora - ironizou -. Achei que ia morar com o cavaleiro de peixes na casa zodiacal. Sabe que ele vai ficar decepcionado com isso.

- Tanto eu quanto você sabemos que não é a decisão mais prudente que eu more lá, visto que a casa é para os cavaleiros e que não queremos fazer muito alarde em relação a tudo que envolve minha resistência ao veneno - respondeu cirúrgica -. Além disso, mesmo insatisfeito, Albafica entendeu que simplesmente não seria do meu agrado ficar para sempre na casa de peixes, e concordou que eu ficasse por pouco tempo e depois conseguisse uma casa próximo dele.

Câncer sorriu ávido. Com aquele sorriso que somente ele sabia esboçar.

-Ah então ele quer ficar próximo de você para te proteger? Por que? Você corre perigo? - perguntou de maneira capciosa

- Não é nada disso - negou séria -. Afinal de contas, viemos aqui para outros assuntos. Creio que aqui seja o local mais seguro para que possamos conversar abertamente sem que ninguém ouça. Não quero murmurinhos e nem pessoas descobrindo coisas sobre mim que não sejam da minha boca.

- Oh, tudo bem então. Por onde começamos?

- Pelo começo. Quando um espectro invadiu o vilarejo e quem veio nos defender fora Albafica... Com suas rosas....

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The Spell | Albafica de Peixes Onde histórias criam vida. Descubra agora