Capítulo 7 - Jae

61 5 1
                                    

Alguma coisa mudou, porque Doyoung não está mais discutindo comigo ou com seu irmão.

Não, ele ainda me odeia, é óbvio. Mas ele está me evitando desde a outra noite no banheiro. Encaro minha mão enfaixada na gaze que eu mesmo enrolei hoje cedo em casa.

— Cara, ainda não sei como conseguiu se queimar fazendo chocolate quente. — Meu melhor amigo zomba, rindo com um olhar carinhoso apesar de soar como um idiota. Ele ficou se sentindo mal e preocupado pra caramba quando acordou e fomos tomar café da manhã, só então ele notou minha mão enfaixada.

— Cala boca. Você já fez várias burrices piores.

— É verdade. Lembra daquela festa?

Meu meio sorriso desaparece e o dele também.

— Droga — ele murmura, triste pra cacete. Seus olhos parecem cheios de água, mas ele não chora ou deixa o sentimento tomar conta. Ele foge disso, e eu entendo bem como é tentar esquecer o que aconteceu e seguir em frente quando você tem uma parcela de culpa martelando na sua cabeça todos os dias antes de abrir os olhos e todas as noites antes de dormir. — Aquela festa na casa da Taeha? — ele esclarece, me fazendo lembrar do dia em que ele caiu na piscina e sua sunga sumiu. Todo mundo fala de sua bunda nua até hoje.

Eu rio, balançando a cabeça. Nessa hora o vejo pelo canto do olho, se aproximando com seus amigos. A garota se inclina na ponta dos pés para beijar sua bochecha como sempre e aquele Taeyong o abraça apertado.

Não sei por qual razão ele me deixa tão irritado. Eu sei que não gosto dele perto de Doyoung, e talvez do fato de parecer que ele tem segundas intenções, mas o que quero dizer é que nunca vi Doyoung retribuindo isso. Nunca vi Doyoung se demorar olhando para ninguém como se estivesse apaixonado.

Talvez pelo fato de eu o conhecer desde quando éramos crianças, eu ache com certeza que ele nunca se apaixonou, mas a verdade é que não sei nada sobre a vida amorosa dele. Droga, não sei nem se alguém já partiu seu coração. Alguém já partiu o meu? Acho que não. As pessoas precisariam querer mais do que ficar comigo para chegar perto disso.

Doyoung caminha em nossa direção e sou obrigado a desviar o olhar, só então percebo que a conversa com o irmão dele parou. Ele está olhando para algo do outro lado.

— O que foi?

— Sua moto. — Ele aponta. — Você consertou. Quando?

— Ah, terminei hoje de manhã. Vim da oficina do meu pai, por isso me atrasei um pouco.

— Espera aí, então você não vai com a gente? — Ele joga o polegar por cima do ombro, para a rua, onde seu pai vai estacionar em breve. É sempre movimentado no horário de saída, mas seu pai sempre consegue parar por aqui.

Dou de ombros.

— Preciso levar ela, posso te encontrar na sua casa.

— Queria chamar mais gente hoje, será que minha mãe vai ficar incomodada?

— Não sei se é a hora certa pra isso.

— Tem razão. Eu sinto falta de como as coisas eram no começo do ano passado. Nós dois no ensino médio, só curtindo. Agora só estudamos para esse exame e... — Ele para de falar quando Doyoung se aproxima mais de nós.

Olho para o outro lado, para ver se o pai deles chegou, mas do nada Doyoung o empurra para a rua no momento em que um carro se aproxima. Eu agarro Daesun pelos ombros, segurando-o contra meu peito com a respiração descompassada em puro pavor do que poderia ter acontecido.

Tudo fica meio que em câmera lenta e um barulho alto apita no meu ouvido em meio ao pânico.

Eu o largo e viro para Doyoung ignorando seus olhos arregalados como se estivesse com medo também.

— Você enlouqueceu?!

Blame » dojaeOnde histórias criam vida. Descubra agora