— Para onde vamos? — Parece idiota perguntar só depois de aceitar subir em sua moto, mas eu não contava com sua presença está noite, então estava tão surpreso quanto quando me seguiu e me pediu para ir com ele para sabe-se lá onde.
Ele não me responde por um tempo, a moto corre na estrada vazia e eu aperto as mãos segurando em sua jaqueta, com mais medo do que gostaria de admitir. Ele bebeu? Está dirigindo embriagado comigo? Meu lábio treme de frio com o vento cortante.
— Jaehyun — chamo perto de seu ombro, com medo de verdade. Meu coração dispara com a ideia de que algo aconteça com a gente quando há alguns meses atrás parecia ser impossível.
Quando você é jovem, pensa que as coisas ruins não podem te alcançar, você acredita que elas só acontecem com os outros ao redor e que nunca vai ser pego.
— Jaehyun, por favor...
Sua cabeça vira na minha direção e ele diminui a velocidade. Para perto de um pequeno observatório que fica no meio da estrada para os turistas, mas já é tão antigo e inutilizado que as paredes são pichadas e as grades do parapeito que mostram a cidade, não estão todas ali.
Eu desço primeiro, tentando me recuperar antes de olhar para ele. Ele desce em silêncio, tira o capacete e o apoia na moto antes de colocar as mãos nos bolsos de sua jaqueta. Ele não diz nada enquanto espera. Só fica ali, olhando para o observatório iluminado pela luz da moto e depois começa a acender um daqueles cigarros que o vi fumando na casa da Taehee.
Não sei por que faço isso, mas meus passos são tão pesados em sua direção que ele levanta o olhar antes que eu de fato chegue até ele e tire o maço de seus lábios. Suas sobrancelhas se unem em confusão. Eu quebro o cigarro amassando-o em meus dedos e olho para ele enquanto faço isso.
Sua boca sobe do lado direito, ele sorri com malícia. Sua mão parece procurar outro em seu bolso, mas desta vez eu bato em sua mão e derrubo a caixa no chão. Jaehyun me encara como se estivesse se perguntando qual o meu problema e eu não me importo nem um pouco com este olhar.
Ele se abaixa para pegar a caixa, mas eu a chuto e sorrio quando ele me olha agachado.
Ele suspira, levantando-se devagar como se eu fosse o culpado de sua frustração. Quero rir, porque é ele que está me irritando.
— O que você tem? — explodo de uma vez, dando graças a qualquer coisa no universo por estarmos no meio do nada e assim ninguém pode me escutar gritar com ele.
Seus olhos castanhos se arregalam na minha direção como se o que eu disse fosse um absurdo.
— Eu?! O que eu tenho? O que você tem?
— O quê?
Ele não responde de novo e esse deve ser o meu ponto de ebulição, o máximo que eu consigo aguentar essa semana, porque isso me irrita como nunca me irritei antes. A escola, o meu psicólogo, meus pais, meu irmão, Jung Jaehyun, é tudo um turbilhão de coisas e sentimentos aqui dentro. Sinto-me sufocado. Eu quero gritar com ele, mas as palavras não saem, então ao invés disso eu me afasto até as grades com vista para a cidade.
— Doyoung! — ele grita, vindo atrás de mim
— Me deixa em paz! — Nem ouso virar para ele.
— Doyoung... — ele para de falar de um jeito abrupto, como se alguma coisa tivesse acontecido, então eu finalmente viro a cabeça por cima do ombro para ver o rosto dele. Mas Jaehyun só se calou porque não queria continuar o que pretendia me dizer.
Eu viro totalmente para ele, com o peito subindo e descendo e as palmas das mãos formigando levemente. Observo a forma como ele respira e o espelho: Inspira, expira, inspira, expira, calmo, devagar, ritmado.
— O quê? — pergunto de novo, mais calmo. Ele não faz ideia de como acabou me ajudando.
— Só... não parece ser seguro. — Jaehyun coça o espaço entre suas sobrancelhas. Ele está mentindo ou omitindo algo, mas não consigo descobrir o que. — Olha, está tarde e não sabemos há quanto tempo alguém não vem aqui fazer uma manutenção.
— Você me trouxe aqui — lembro-o.
— Eu sei. — Ele revira os olhos e isso me irrita de novo, mas tudo o que eu faço é dar as costas para ele, querendo que ele se foda. — Doyoung! — Mostro o dedo por cima do ombro, sem nem olhar para ele. Paro quando chego à plataforma metálica, as grades do chão estão inteiras, mas não sei se é realmente seguro. — Doyoung, escuta. — Viro para ele quando percebo que ele se aproximou um pouco mais. A luz da moto ilumina suas costas e a lateral do rosto quando se mexe. — Ok. Fique bravo comigo. Mas fique aqui. — Algo parece errado com seu tom de voz. Estou olhando para minhas mãos, que não tremem quando percebo o que é. Toda a crise que estava tendo se foi antes de começar. Jaehyun soa como se estivesse me implorando. Ele está com medo assim como eu estava minutos atrás em sua moto.
— Não podemos voltar na sua moto — digo, ainda parado. Meus olhos ardem. — Você não pode andar nesta coisa quando bebeu.
Sua expressão muda de um segundo para o outro, como se algo clareasse sua mente. Como se ele me entendesse agora. Ele assente.
— Ok. Desculpe. — Seus olhos se movem para o espaço ao seu lado, como se me mandasse ir até lá. Odeio isso, mas o obedeço. E quando faço isso, ele coloca um braço ao redor dos meus ombros e me puxa mais perto. Sua boca encosta na minha cabeça e ele diz outra vez no meu cabelo: — Desculpe.
— Tá tudo bem — digo baixo, com vergonha. O silêncio entre nós é estranho.
— Quer ver algo? — Ele se afasta olhando para um dos lados da estrada.
— O quê?
— O motivo de eu ter te trazido aqui.
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Blame » dojae
FanfictionApós as férias, Doyoung retorna para o último semestre de aulas antes do seu último ano e precisa enfrentar as consequências de um acidente que mudou, talvez para sempre, a dinâmica da sua família e ele mesmo. Mas além disso, precisa enfrentar a últ...