Se tinha como piorar o dia de hoje, era dessa forma, com Jaehyun esbarrando comigo logo depois que eu passei dez minutos chorando entre as máquinas de comida e bebida.
Por mais que eu sinta meus olhos inchados e estranhos, eu sei que pareço normal para ele — eu me vi no espelho e parecia normal, pelo menos. — Mas a verdade é que neste momento, internamente, estou indefeso e nem um pouco armado contra qualquer coisa maldosa que ele queira me dizer ou me culpar. Então eu olho para o chão e reparo nos nossos sapatos, só para o caso de eu voltar a chorar. Jaehyun usa All Stars azul escuro com laços malfeitos e eu tênis brancos completamente limpos.
— Onde você estava? Seu pai já saiu.
— Eu sei. — Ele me mandou mensagem avisando que estavam indo embora sem mim, foi o único motivo para eu me acalmar um pouco: não ter que dividir o mesmo espaço que o meu irmão-que-eu-quase-matei. Olho para cima por um momento, quando noto o silêncio entre nós. Só agora me ocorre que ele não foi com meu irmão e não tem mais ninguém na escola além dos funcionários. — Você só voltou para me avisar isso ou...?
— Falei para eles que te daria uma carona para casa. — Eu fico confuso por um instante, tão atordoado por ele se voluntariar para me ajudar em alguma coisa logo depois de ser o motivo de uma crise minha. — Pro seu pai não se preocupar.
Agora entendi.
— Relaxa, eu vou voltar de Uber. Você não precisa fazer esse favor pra ele. Eu sei cuidar de mim mesmo. — Um faxineiro começa a jogar água com sabão no corredor e esfregar, ouvindo nós dois, mas eu não me importo porque já estou de saída, exceto que Jaehyun segura minha mão. Eu olho para isso, horrorizado.
— Se você quer que isso acabe logo para se livrar de mim, só aceite de uma vez. — Ele me solta e passa por mim, como se eu devesse segui-lo como uma criança obediente. Eu odeio isso.
Não estou pensando em como vamos para minha casa até que ele me empurre seu capacete e eu repare na única moto estacionada. Só precisava ser fluorescente para essa moto vermelha chamar mais atenção. Preciso tirar os óculos para colocá-lo na cabeça, o que é muito inconveniente.
Jaehyun sobe nela e, enquanto eu subo atrás dele, levanta o suporte do chão. Coloco a minha mochila virada para a frente, entre nossos corpos, sabendo que ele está assistindo. Minhas mãos seguram no banco debaixo de mim e suas sobrancelhas levantam levemente.
— O quê? Não vou agir como num filme clichê romântico e agarrar você.
Jaehyun revira os olhos e vira para a frente. Quando ele acelera e se move um pouco, dando um solavanco, bato o capacete nas suas costas e depois quico para trás.
Olho para o espelho retrovisor por instinto e pego seu sorriso arrogante, mas não consigo dizer nada antes que ele faça outra vez. Desta ele realmente saí do estacionamento da escola e eu me agarro em sua cintura com firmeza para não cair.
Eu odeio andar de moto. Sempre tive medo. Sempre odiei que Jaehyun tivesse uma moto. Ele e meu irmão saiam a noite toda para festas e viagens nesta coisa e eu agradecia aos céus por preferir ficar no meu quarto do que arriscar minha vida assim.
Não percebo que estou de olhos fechados até que Jaehyun toque a minha viseira para olhar para mim. Estamos parados na esquina, onde algumas alunas olham para nós de esguelha e dão risinhos. Meus braços totalmente envolta de Jaehyun.
— Doyoung? Está ouvindo? — Ele pega minhas mãos com as suas e as desliza pela frente de sua camisa, onde sinto seu físico de quem faz algum trabalho físico. Eu nunca tinha reparado que o Jaehyun magricela da minha infância tinha se transformado nisso. Bom, talvez eu tenha olhado de vez em quando, mas mesmo assim me surpreendo por estar tocando-o agora. Ele coloca minhas mãos nas laterais de sua cintura e solta. — Você só precisa segurar assim.
Só agora percebo que andar de moto não é a coisa mais perigosa nesta situação. O perigo é Jung Jaehyun.
Eu juro que devo acender lava de dentro para fora, porque meu rosto está em chamas! Estou morrendo de vergonha e aquelas garotas ainda estão olhando para nós. Quero abaixar a viseira e falar para Jaehyun ir logo para minha casa, do contrário vou morrer.
A única coisa que consigo ver através do capacete é seu cabelo loiro e a lateral de seu rosto, uma de suas covinhas me diz tudo o que preciso saber: ele está tirando sarro de mim por isso. Ele pode negar, mas neste momento provavelmente está se esbaldando na minha humilhação. Ele acha graça.
Espero com o coração palpitando para ver o que ele vai dizer, de que forma vai me zoar. Contudo, Jaehyun vira totalmente para a frente sem comentar nada e me leva para casa.
Quando chegamos, ele estaciona perto da garagem. Eu desço primeiro, soltando as palmas suadas de sua jaqueta e tirando o capacete antes que eu derreta dentro dele. Ainda devo estar vermelho, mas pelo menos posso culpar o capacete por isso, afinal, meu cabelo está grudando na minha testa, suado por alguns minutos dentro daquela coisa. É um dia quente. Sim, é isso.
Jaehyun já desceu quando eu viro para agradecer, mas ao invés de se dirigir a mim, ele me ignora e entra na minha casa, como se eu nem estivesse ali.
Claro, ele só fez isso como um favor pro meu pai. Até parece que somos algo como amigos. Nós nos odiamos.
Entro logo depois dele, mas é um intervalo suficiente para ele ter sumido de vista. Provavelmente deve ter se enfurnado no quarto do meu irmão.
Quando estou subindo meu irmão deve me ouvir, porque quando estou indo para o meu quarto ele está na porta do seu.
— Que bom que chegou. Papai ficou preocupado. Avise ele, está bem?
Assinto uma vez e estendo a mão para minha maçaneta, ignorando a porta fechada atrás de mim como faço todo dia desde o ano passado, mas Daesun me para de novo.
— Como você voltou para casa? — Só quando ele faz essa pergunta que percebo que Jaehyun mentiu. Ele não contou para o meu irmão que ia me dar uma carona. Mas não faz sentido, por que ele mentiria?
Abro a boca para lançar alguma mentira, mas ele fala primeiro.
— Você deveria ter chamado um Uber. Está calor, desse jeito vai torrar se vir andando debaixo do sol.
Balanço os ombros e entro no meu quarto. Espero alguns segundos até ouvir sua própria porta sendo fechada e então me permito suspirar.
Eu não sei por que ando tão agitado em relação ao Jaehyun. Antes costumava ser por ressentimento e raiva, mas agora... Não é mais apenas isso. — Passo as palmas das mãos pelo rosto e jogo o cabelo para trás. — Tem algo de errado comigo.
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Blame » dojae
FanfictionApós as férias, Doyoung retorna para o último semestre de aulas antes do seu último ano e precisa enfrentar as consequências de um acidente que mudou, talvez para sempre, a dinâmica da sua família e ele mesmo. Mas além disso, precisa enfrentar a últ...