Já é tarde quando meu pai chega.
A tarde toda tentei falar com Jaehyun pelo meu notebook, mas ele não respondeu. E não ajuda muito que minha mãe e meu irmão tenham se trancado em seus quartos. A casa é um completo silêncio até o meu pai chegar.
Imagino o que ele vê. Se enxerga que estamos de volta aquela era sombria depois da morte de seu filho mais novo.
Droga, eu odeio ter atirado o estado da minha mãe na cara dela, porque sei que ela sofreu mais do que ninguém. As palavras simplesmente saíram enquanto eu estava com raiva e magoado. Magoado porque todo esse tempo precisei dela também, mas ela nunca esteve disponível. E meu pai queria tanto que estivéssemos bem que era difícil me abrir com ele.
Agora todos sabem sobre mim. Sobre o fato de eu não ser normal como era esperado.
Daesun pode ter sido um grande filho da puta falando isso assim, mas consigo ver através da sua raiva. Acho que Jaehyun era o que o mantinha focado, para seguir em frente depois do ano passado. E quando ele ficou indisponível, Daesun teve o quê? Medo de perdê-lo? Ciúme? — Quero rir quando penso que meu irmão teria ciúme de qualquer um de nós, mas é como Daesun é. Jaehyun é seu melhor amigo. E eu sou irmão dele.
Tento ver pelo lado dele, mas quanto mais penso nisso, mais frustrado eu fico.
Um grito vem do quarto dos meus pais e eu me arrumo, levantando da cama em um pulo.
Acho que ouvi meu pai subir mais cedo, mas nunca ouvi nenhum deles gritar um com o outro. Um burburinho vem do fim do corredor e eu abro a porta do meu quarto, dando de cara com meu irmão.
— O que foi isso?
Daesun dá de ombros.
— O que eu posso fazer?! — minha mãe grita. — O que você quer de mim?
— Não pode continuar desse jeito! — meu pai grita de volta. — Eu fiz de tudo por essa família, mas não aguento mais, Hayun! Não pode me deixar sozinho e esperar que eu faça tudo o tempo todo! É muita pressão. Eu aguentei, porque nossos filhos precisam de nós — ele tenta sussurrar, mas Daesun e eu já estamos perto da porta do escritório onde fica o quarto deles.
— Eu perdi meu filho!
— Eu também perdi! Eu também sinto essa dor quando olho para essa casa e percebo que não vou vê-lo mais correndo por aí. Eu também era pai dele. Eu também queria me permitir ficar desolado e não fazer nada. Eu queria não ter que ir trabalhar todo dia e ter responsabilidades! Eu precisei de um tempo todos esses meses, mas nunca pude fazer isso porque senão o resto dessa família desabaria, já que a minha esposa estava tão deprimida que eu precisava cuidar dela também!
Ouvimos nossa mãe chorar, mas nenhum de nós dois diz nada. Acho que pelo menos compartilhamos da mesma opinião nesse caso.
Sabemos que ele não a está acusando, ele está tentando tirá-la do topor para o qual quer voltar. Minha mãe não pode passar o resto da vida enclausurada. E meu pai também precisa disso, ele precisava desabafar.
Ouvimos ela soluçar no silêncio que se segue.
— Precisa ir para suas consultas, querida. Eu vou te apoiar, sem pressa.
Daesun se afasta da porta e olha para mim, então eu o sigo de volta para o meu quarto.
— Dae.
Ele olha para mim, na porta de seu próprio quarto.
— Eu sei que você está com raiva de nós dois, mas o Jaehyun sumiu depois que a mamãe o mandou embora. Você pode tentar falar com ele? Por favor — imploro.
— Não estou... — Ele revira os olhos e suspira. — Ok. Eu vou checar.
— Obrigado.
— Pare de falar "por favor" e "obrigado" para mim, é nojento — ele fala antes de fazer uma careta e fechar a porta como um irmão mais velho normal.
Na manhã seguinte, nossos pais nos dizem para ir a pé, porque precisam conversar sozinhos, então Daesun e eu saímos logo após o café da manhã.
— Alguma notícia? — pergunto, mas ele nega.
— Perguntei para todos os nossos amigos, mas ninguém viu ele.
O silêncio fica estranho entre nós.
— Eu sei que você é extremamente contra isso e nós praticamente nos odiamos na maior parte do tempo, Dae. Mas eu realmente gosto dele.
— Eu não... te odeio, Doyoung. — Meu irmão faz uma careta, mas para e me olha de lado, falando sério. — Nem mesmo quando você enche o meu saco.
— Eu... Acho que não te odeio também.
— Valeu, bem reconfortante.
— Não é isso. É que, eu acho que só estava irritado com você por causa... do que aconteceu. Porque parecia que você não se importava com nada.
— Eu me importo — Daesun diz, refletindo enquanto seu olhar fixa no caminho à sua frente. — Sei que eu não demonstro, mas eu me importo com tudo o que está acontecendo na nossa família. Eu me importo até demais. E com Jaehyun também. Ele não ficou bem depois do que aconteceu no ano passado, mas finge que sim. Queria que ele se abrisse comigo quando se sentisse confortável, mas talvez você consiga isso antes de mim. — Ele me olha de lado e sorri, triste.
Paro de andar.
— Sabe de alguém que possa nos dar uma carona até a casa dele?
Daesun para também e pensa por um momento antes de assentir.
— Ok. Ninguém vai me contar a missão? — Johnny pergunta, dirigindo o carro de seus pais.
— Shh, Johnny. Estamos tentando falar com a mãe dele! — Minji coloca o dedo indicador sobre os lábios.
A mãe de Jaehyun demora muito para atender meu irmão.
— Talvez ela não esteja em casa? — pergunta Minji, assim que ele desliga.
— Deixa eu tentar — digo, pegando meu celular. Daesun murmura alguma coisa com a Minji, mas eu me distraio quando a mãe dele atende. — Oi, tudo bem?
Os três me olham como se eu fosse um alienígena.
— Olá, querido. Como você está? Faz um tempo que não vem aqui em casa.
— Estou bem e você? — Dou uma risadinha sem graça, porque não tenho como explicar o motivo de ter me afastado. — Eu tô tentando falar com o Jaehyun desde ontem, você pode me deixar falar com ele rapidinho?
— O Jaehyun não veio para casa ontem. Achei que ele estava com você. Talvez ele esteja com seu irmão?
— Ah, tudo bem então — digo, para não preocupá-la por agora. — Eu vou falar com meu irmão.
— Me mantenha informada e, ah, venha aqui em casa qualquer dia. Estou com saudade, vamos comer algumas besteirinhas.
— Claro, eu adoraria — digo, meio tímido enquanto eles me encaram. — Ok, vou falar com ele, tchau.
— E ai? — meu irmão me pergunta, com a cara quase colada na minha.
— Ela não sabe onde ele está.
Minji e Johnny murcham no banco da frente.
— Como ela não sabe? — Johnny questiona. — Para onde vamos agora?
— Ela disse que ele não voltou ontem — digo, olhando para Daesun. — Ela tem essa mania de achar que ele está sempre com você, então nem tentou contatá-lo.
— Ou com você, pelo visto — meu irmão me diz. Ele suspira. — Não tem um... lugar para onde ele poderia ter ido? — Ele meio que murmura, como se não quisesse admitir que não conhece os lugares secretos de Jaehyun.
— Na oficina do pai dele? — Minji tenta.
— O pai dele não deixaria a mãe dele desinformada se fosse esse o caso — falo. — Johnny, segue esse caminho. — Pego seu celular entre os bancos e digito a estrada por onde passamos para a casa da Taeha. — Acho que ele pode estar aqui.
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Blame » dojae
FanficApós as férias, Doyoung retorna para o último semestre de aulas antes do seu último ano e precisa enfrentar as consequências de um acidente que mudou, talvez para sempre, a dinâmica da sua família e ele mesmo. Mas além disso, precisa enfrentar a últ...