Tudo dói. Mas isso é um bom sinal, não é?
Ouço vozes ao meu redor, sons confusos mesclados a palavras. Então a escuridão me leva de volta, porque ela é leve e me dá um escape de toda essa dor. Tenho certeza de que acordo outras vezes, mas não quero abrir os olhos, então eu durmo de novo.
— Doyoung... — alguém sussurra meu nome no meio de um sonho.
Estou deitado de costas, mas queria poder me virar para o outro lado e me afastar da voz.
Assim que a escuridão vem, eu a agarro de volta.
— O que tem de errado com ele? — Ouço a voz de uma mulher. Perdi as contas de quantas vezes a ouvi nos meus sonhos. Quando não era ela, era a voz dele.
— Querido, vamos, acorde — ele diz. Mas não quero. Não quero acordar.
— Doyoung! — A voz do meu irmão me assusta no meio de outro sonho e eu abro os olhos de uma vez. Daesun está parado acima de mim, com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas enquanto mantém a boca aberta como se fosse gritar comigo de novo. Sua expressão se transforma em surpresa, então ele tropeça para trás e a dor finalmente me alcança.
Não consigo respirar.
— Espera, eu vou chamar alguém! — Ele sai correndo da sala escura para um corredor aceso, decorado por paredes brancas e luminárias incandescentes.
Olho ao redor, assustado, procurando mais alguém, mas estou sozinho.
Tudo continua doendo. Absolutamente tudo.
Uma médica e um enfermeiro entram com meu irmão e meus pais logo atrás, e eles começam a mexer em equipamentos e me fazer perguntas. Mas eu só consigo me concentrar na expressão da minha família, na dor e no choque.
Minha mãe segura minha mão e sorri enquanto chora de alívio.
— Você está bem querido. Vai ficar tudo bem.
Não digo nada.
Mas eu sei que não vai.
Oito anos depois
Escrevi uma carta antes de chegar aqui.
Faz anos que não volto para casa e que não o vejo. Mas minha família entende, eu acho. Meu irmão me visita com mais frequência do que os meus pais, apesar dele sempre achar alguma coisa para reclamar na nossa casa.
Os pais do Jaehyun me mandam mensagem de meses em meses. Às vezes eles vêm nos visitar no fim do ano. A mãe dele continua lendo minha sorte e prometendo que vou ser promovido em breve. Taeha convenceu ela a aumentar seu negócio com um pouco de publicidade e marketing nas redes sociais depois que nos formamos, então eles irão viajar esse fim de ano com o lucro desse negócio.
Como previsto, a garota virou minha cunhada. Ela não pega leve com Daesun, então eu gosto dela. Por causa disso, Taehee aparece de vez em quando nas nossas festas de família. Da última vez, ela me disse que estava feliz por mim. Também estou orgulhoso dela. Provavelmente vamos todos nos encontrar no chá de bebê da Minji esse ano, então vou dizer isso a ela.
Respiro fundo, lembrando da carta ao meu lado.
Não que a carta seja muito importante. Nunca saberei se ela é. Mas me conforta o fato de que posso deixá-la aqui com ele. De que ele não vai estar sozinho, assim como eu não estou desde que fiquei com seu caderno de desenhos.
Passo as mãos uma sobre a outra, nervoso. O anel frio no meu dedo me conforta um pouco.
Saio do banco do passageiro do nosso carro e sorrio enquanto seguro as flores e a carta, seguindo pela trilha até a clareira. O vento bagunça meu cabelo e assovia junto com os passarinhos nas árvores.
O gramado está cheio de flores, igual ele disse que estaria.
— É primavera — digo a ele, parando de andar. — E é tão lindo, assim como você prometeu.
Sento com as pernas cruzadas em borboleta e deixo as flores sobre seu túmulo. Eu respiro fundo antes de abrir a carta e começar a ler cada linha e parágrafo.
É sobre nós.
É a nossa história.
Ninguém pode apagar ela.
E sou eternamente grato por ter a possibilidade de vivê-la.
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Blame » dojae
FanficApós as férias, Doyoung retorna para o último semestre de aulas antes do seu último ano e precisa enfrentar as consequências de um acidente que mudou, talvez para sempre, a dinâmica da sua família e ele mesmo. Mas além disso, precisa enfrentar a últ...