Já está tarde e todos estão cansados enquanto refazemos o caminho da trilha até o carro dos pais de Johnny e a minha moto. Talvez seja este estado de ânimo que me faça cometer a maior gafe de todas quando pego o capacete sobressalente e entrego para Doyoung.
Ele segura o capacete, confuso, e Daesun franze a testa para mim logo atrás. Ele é a única outra pessoa que levo na minha moto. Bem, costumava ser assim antes de Doyoung.
Há alguma coisa no olhar de Doyoung além de sua hesitação mas não consigo captar o que é, e ele não parece prestes a me dizer. Então deixo isso para mais tarde, quando tiver a oportunidade de perguntar a ele a sós.
Seu irmão bate em seu ombro e sorri.
— Tudo tem uma primeira vez. — Daesun pega o capacete dele e o coloca sobre sua cabeça, arrumando até o ajuste antes de soltá-lo. — Jae, pega leve com meu irmão. Ele não gosta de motos.
Assinto, antes de subir na moto e ligá-la, esperando por Doyoung. Ele sobe atrás de mim e coloca as mãos em meus ombros como fazia nas primeiras vezes que o levei. Mas quando estamos na estrada, suas palmas se encontram na minha cintura e ele me abraça até seu peito estar colado nas minhas costas e suas coxas colarem no meu quadril. Parece muito mais carinhoso do que é, e acho que estou vendo coisas, até ele dizer acima do vento:
— Estava com saudade de você.
Meu corpo e mente praticamente derretem. O que eu deveria fazer agora que ele me disse isso?
— Você acha que seu irmão vai se importar se nós não aparecermos na sua casa? — grito de volta pra ele, com o capacete abafando cada palavra.
Ele ri, mas é tão fraco que começo a realmente acreditar que tem alguma coisa errada.
— É claro que ele vai notar, Jaehyun.
— Eu preciso te dar um beijo de boa noite. Se segure. — Os braços dele me apertam mais firmemente quando acelero, passando pelos poucos carros na estrada e me adiantando para chegar antes da carona de Daesun. Pelo menos eu sei que com a pausa na casa de cada um deles, vou ter alguns minutos com Doyoung.
Nós chegamos em sua rua silenciosa e vazia sozinhos, sendo iluminados pelas luzes alaranjadas dos postes e as fluorescentes dos comércios fechados. Paro em frente a garagem de seus pais e o espero descer antes de seguir atrás dele e tirar o capacete.
Seu cabelo preto fica uma bagunça depois de nadar e ficar preso dentro do capacete, mas eu gosto tanto, porque não é nada como o Doyoung arrumadinho de sempre. Eu amo vê-lo bagunçado. Amo ainda mais quando sou eu que o bagunço.
— Lindo. — Puxo-o pela camisa e ele cola o corpo no meu, me deixando acariciar sua mandíbula e bochecha. Seus óculos ainda estão guardados em algum lugar e gosto que ele não se apresse para pegá-los, porque sabe que vou beijá-lo.
Nossas bocas se encostam numa carícia suave, com um provocando o outro antes de realmente nos beijarmos. Então a suavidade desaparece e eu empurro minha língua contra a sua e ele me agracia com um de seus melhores gemidos, mordendo meu lábio inferior.
Suas mãos puxam meu cabelo e eu o puxo também, só que para mais perto. Lambendo seus lábios e empurrando meu corpo contra o seu.
Nós sempre perdemos a noção do tempo nos beijando, o que sempre causa atrasos nas aulas ou até mesmo a perda total delas. Então dessa vez me afasto com antecedência, porque sei que a situação de hoje já foi o suficiente e não quero acrescentar mais drama fazendo Daesun nos ver. Mas ele não me deixa me afastar totalmente, sua testa descansa na minha e ele respira tão alto que acho que está hiperventilando.
— Dodo? — falo com ele, mas ele não me responde. — Tudo bem, querido? — Seguro seu rosto nas mãos e vejo seus olhos marejados. — O que foi? O que aconteceu? — pergunto suavemente, tentando não assustá-lo com o pânico que cresce dentro de mim.
— Precisamos parar.
Parar? Minha testa franze, porque estou tão confuso que nem sei o que perguntar primeiro.
— Precisamos — ele respira fundo entre as palavras — terminar. Acabar com isso. As coisas estão tão ótimas em casa nos últimos dias. Com a minha mãe, e eu me dando bem com Daesun. Eu sei que não vai durar se nós continuarmos nos encontrando. E eu também não quero ser o motivo pelo qual vocês se afastarão. — Sua mão passa pela minha sobrancelha enquanto ele olha para cada parte do meu rosto. — Ele é seu melhor amigo e eu não quero tirar isso de você.
Assinto, ainda atordoado, mas agora entendo porque ele parecia tão estranho. Eu sei o que ele quer dizer, e eu também não posso ser aquele que o obriga a sair do armário para os seus pais ou que provoca uma briga com seu irmão. Eu não quero que ele sofra, isso é uma verdade que carrego no peito.
E não posso dizer que não estou acostumado, afinal, fui o período de experiência para muitos caras na nossa escola e o check da lista de muitos outros. Eu sei lidar com isso.
Mas dessa vez dói muito. Dessa vez parece que estou sendo rasgado em pedaços que nunca poderão ser refeitos. Mesmo assim eu me obrigo a sorrir para tranquilizá-lo e concordo com o que ele diz.
— Eu entendo.
Ele parece surpreso, um pouco desconfiado e magoado, mas seu olhar não fica no meu por muito tempo. Ele encara seus sapatos novos e fica em silêncio por muito tempo.
— Isso não quer dizer que eu não goste de você — eu digo, inútilmente, porque não quero que ele duvide dos meus sentimentos por ele, apesar dele não entender tudo o que eu sinto por ele agora. Seu rosto se levanta e seus olhos me encaram novamente. — Mas nós dois precisamos concordar que sabíamos desde o começo que acabaria assim.
Ele assente.
— Acho que sim. Acho que sabia.
— Boa noite, Doyoung.
— Boa noite — ele gagueja e engole em seco, nervoso. — Obrigado por me trazer.
Balanço a cabeça, aceitando seu agradecimento e voltando para minha moto tentando não pensar que esse lugar deveria ter continuado sendo apenas de Daesun. Não deveríamos ter começado algo que terminaria assim.
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Blame » dojae
FanfictionApós as férias, Doyoung retorna para o último semestre de aulas antes do seu último ano e precisa enfrentar as consequências de um acidente que mudou, talvez para sempre, a dinâmica da sua família e ele mesmo. Mas além disso, precisa enfrentar a últ...