Capítulo 13 - Jae

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Empurro a moto pela estrada enquanto Doyoung anda do outro lado. Seu cabelo preto cai nos olhos já que está com a franja abaixada, e seus óculos brilham conforme passamos por um dos únicos postes de luz. O moletom preto que ele usa é folgado demais e esconde as palmas das mãos, só deixando que eu veja seus dedos finos.

Eu o vi tremer antes, mas agora ele parece bem. Ele levanta o queixo como eu gostaria de fazer com a mão sob sua mandíbula e olha para as estrelas no céu enquanto os grilos cantam ao nosso redor. Os carros não passam a essa hora da noite, o que só me faz pensar se vamos deixar seus pais ou seu irmão preocupados. Desvio o olhar quando ele vira para mim.

— É aqui? — Sua curiosidade espontânea faz com que ele desvie da estrada primeiro, observando os degraus de terra em um dos cantos da estrada. — Parece meio sombrio.

— Você tem medo do escuro? — sorrio com malícia, mas só estou instigando-o a ir. Coloco a moto entre duas árvores como costumo fazer e me junto a ele. — Vem! — Seguro sua mão, puxando-o rápido atrás de mim.

— Jaehyun, espera! — Ele escorrega em um dos degraus, mas estamos tão próximos que é fácil esticar o braço e segurá-lo.

Seus olhos escuros me encaram por trás dos óculos tortos. Arrumo eles e sorrio. Doyoung pisca e fica me olhando desse jeito estranho mesmo depois que se afasta. Ignoro, puxando-o mais devagar com a minha mão na dele.

Desde que percebi o motivo dele ter me feito parar antes de chegarmos aqui, me sinto culpado por tomar a decisão de beber hoje a noite. Eu não deveria. E não deveria estragar tudo com ele sabendo o quanto ele odeia a hipótese de estar em perigo, de ver qualquer um que ele ame em perigo. Eu acho que o que aconteceu mudou todos nós.

Há uma clareira à frente, onde um campo de flores costuma desabrochar de dia, mas não é tão fascinante a noite. Solto a mão dele e acendo um dos lampiões pendurado em uma das árvores. Depois de acender o segundo, solto a rede de um dos ganchos da árvore e prendo ao outro. Doyoung senta antes que eu diga qualquer coisa. Seus olhos continuam olhando para o espaço entre o topo das árvores, para a lua crescente e o céu cheio de estrelas.

— Como você conhece este lugar?

— Meus pais me levavam para fazer piquenique perto daqui, quando eu era criança. Descobri por acaso. — Dou de ombros e me sento ao lado dele. A rede abaixa mais com meu peso e Doyoung desliza para mais perto de mim. Nossos braços e pernas encostam um no outro, mas nenhum de nós dois se afasta. Levanto a cabeça para o céu assim como ele, mas meus olhos estão na lateral de seu rosto, no modo como ele engole em seco, no brilho da chama refletido nos óculos. Nos seus lábios entreabertos. Desvio o olhar.

Sempre tive conhecimento do meu desejo por ele. Não sei exatamente quando começou, mas sei que aceitei com facilidade que o queria. Porém nunca fiquei tão nervoso perto dele, nunca quis tanto segurar sua mão e beijar sua boca como se isso fosse o mínimo que eu poderia fazer toda vez que estivesse perto dele. Meu coração nunca bateu tão rápido só de estar perto dele.

— Jaehyun.

Olho para ele novamente, vendo meu próprio reflexo em seus óculos. Minha respiração parece descompassada pela forma que meu peito sobe e desce. Olho sua boca por um momento que não deve ser maior do que um segundo, mas parece o suficiente para me expor.

— Oi?

— Por que me trouxe aqui? — Seus olhos parecem querer dizer alguma coisa, como se esperassem que eu fosse dizer algo também.

Abro a boca mas nada sai por um instante. Um sentimento de culpa me consome. Hoje deixei meu melhor amigo sozinho para ir atrás de seu irmão mais novo que tecnicamente nos odeia. O que Daesun diria se descobrisse o que eu sinto por ele? Se soubesse que estamos os dois aqui.

— Sei lá, estava entediado — minto, procurando por um cigarro dentro do meu bolso antes de lembrar que Doyoung se livrou deles. — Taeha sempre dá essas festinhas e é sempre a mesma coisa.

Olho para ele, mas ele não está olhando para mim. Doyoung assente antes de deitar na rede. O silêncio entre nós ainda é estranho, não estamos acostumados a conversar um com o outro, muito menos ficar próximos sem um motivo.

Eu me deito virado para o outro lado e com o braço debaixo da cabeça. O céu cheio de estrelas me trazendo paz.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Pode. — Olho para ele na outra ponta e ele faz o mesmo, mas desta vez está sem seus óculos. Não vi onde os guardou e não está em nenhum lugar visível de seu corpo.

— Desde quando você fuma?

Não respondo.

— Por quê? Vai me mandar parar?

Ele dá de ombros.

— Não peço nem ao meu irmão, por que pediria para você?

Sorrio de leve, mas a resposta machuca um pouco. Afinal, não somos nada um para o outro.

— Já que você não quer responder isso, então me diz o significado. — Seu dedo passa por seu pescoço, indicando a minha tatuagem. Uma rosa.

— Nenhum. Eu só gostei e fiz.

Dessa vez ele sorri e revira os olhos.

— Você não vai responder nada então — ele constata.

Sorrio.

— Eu disse que você podia perguntar, não disse que responderia. — Mas não é totalmente mentira, gostei da tatuagem e a fiz. Eu não ia contar a ele que lembrava de como ele tinha gostado dela no caderno de um tatuador quando acompanhou Daesun, assim que ele completou 15 anos, para furar a orelha.

Ele continua falando, mas muda de assunto para algo menos pessoal. Eu ouço e respondo vez ou outra com um sorriso que espero que ele não note, porque nunca fiquei tão confortável e feliz antes de cair no sono.

Blame » dojaeOnde histórias criam vida. Descubra agora