Capítulo 22 - Dy

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Jaehyun ainda está dormindo quando eu saio de seu quarto com minha calça e uma de suas camisetas. Seguro meu celular na mão, lendo a mensagem onde meu pai me diz para aparecer para jantar.

É um caso raro termos nossa mãe fazendo uma das refeições com a gente hoje em dia, duas então, não posso nem imaginar a esperança que borbulha dentro dele.

Eu quero acreditar que ela está bem, mas tenho medo de me decepcionar. Ela não tem culpa de se sentir deprimida, porém, sinto falta da minha mãe. Dela estar presente.

Desço as escadas de madeira e vejo a mãe do Jaehyun de relance na cozinha no mesmo momento que ela me vê.

— Oi — digo, envergonhado. Ela provavelmente já sabe de tudo, se não sabia antes, então agora sabe depois de nos ouvir lá em cima.

— Olá, querido. Tudo bem? — Ela abre os braços e eu hesito por um instante antes de me aproximar para permitir que ela me abrace. — Como está em casa?

— Bem. — Eu me afasto primeiro apesar de adorar a forma como ela é calorosa. Jaehyun tem tanta sorte, ele sabe disso?

— Você já está de saída? O Jaehyun não vai te levar?

— Ele está dormindo — digo devagar, sondando sua reação, mas a mulher não faz nenhum comentário estranho ou espertinho.

— Ah, esse garoto. — Ela suspira e volta até o pote sobre a mesa. — Toma, leva alguns biscoitos pra você dividir com sua família. Eles são orgânicos. Vão te fazer bem.

— Obrigado. — Não faço ideia do porquê mas a abraço de novo, um pouco apertado. Quando me afasto ela sorri para mim. — Vou indo então, o carro que chamei já deve estar chegando.

— Cuidado, viu. Vamos combinar um dia pra você jantar aqui.

Paro no arco da sala de estar, surpreso pelo convite.

— Tudo bem, peça para o Jaehyun me avisar. — Aceno e ela devolve, com uma mão na cintura.

Estou conferindo o aplicativo de novo quando ouço alguém se aproximar e levanto o rosto.

Caralho. Fodeu. É meu irmão. Fodeu muito.

Começo a suar frio enquanto penso em alguma desculpa para estar aqui. Deus, que ele não reconheça a camiseta do Jaehyun em mim.

Ele e a Taeha se aproximam juntos, com a garota com quem Jaehyun estava conversando na festa.

— Doyoung?

Eu ignoro o olhar confuso dele e tento parecer natural.

— Que foi? — Acho que estou indo bem, afinal, a gente nunca se trata bem.

— Por que você tá aqui? — Apesar de só ele falar, as garotas me olham estranho também.

— Eu... — Pensa, pensa, pensa. — Vim pegar isso. — Mostro o pote fechado na minha mão.

— O que é isso? — Taeha questiona.

— Biscoitos. Hm, da mãe do Jaehyun. Eu encontrei com ela e ela me disse para levar alguns pra casa. — Isso, provavelmente Daesun vai achar que é por causa de sua amizade com o filho dela.

— Desde quando você fala com ela? — Daesun cruza os braços e arqueia as sobrancelhas. — Achei que odiasse qualquer coisa relacionada ao Jaehyun.

— Não a mãe dele, tá? Eu gosto dela.

Meu irmão solta os braços e me encara desacreditado.

— Você gosta. Desde quando você gosta de alguém?

— Vai se foder, Daesun.

— Não, sério. Eu te conheço desde criança e nunca ouvi você dizer que gosta de nenhum outro ser humano. Nem daqueles dois nerds que andam com você.

A outra menina — que reconheço ser uma líder de torcida — dá uma cotovelada nele e ele sorri para ela, meio que se desculpando pelo termo.

Passo pelo meu irmão, ignorando sua zombaria, mas lembro do jantar e paro novamente. Meu carro chega em frente a casa enquanto isso.

— Daesun? — Ele se vira para mim assim como eu para ele. — Não esquece do jantar com a mamãe hoje a noite.

— Não vou. Eu só queria passar aqui antes de ir pra casa. Jaehyun disse que estava se sentindo mal.

Foi essa a tal desculpa que o Jaehyun falou que daria pro Daesun? Que desculpa é essa? Era óbvio que ele viria ver como ele está, principalmente com o Jaehyun sem responder as mensagens dele no tempo que passamos juntos.

Os três entram na casa do Jaehyun como se estivessem acostumados com isso e eu enrolo um segundo mais antes de virar e entrar no carro.

É natural que nós dois mantenhamos nosso relacionamento em segredo, pelo menos no começo. Ninguém entenderia como do nada ficamos juntos.

Chego em casa com medo de abrir a porta da entrada, evitando descobrir caso minha mãe tenha decidido que precisava "descansar" de novo.

Depois de um minuto, respiro fundo e entro. Ouço barulho na sala de jantar, sinto o cheiro de carne assada e me deparo com meu pai de luvas quando vou até a cozinha.

— Filho! Que bom que chegou, ajuda sua mãe a colocar a mesa. Pega os talheres e leva para ela. Notícias do seu irmão?

Às vezes eu congelo quando escuto ele falar assim. Como se eu só tivesse uma opção para pensar, nenhum outro irmão além do Daesun.

— Ele vem daqui a pouco.

Levo os talheres para a sala de jantar e alguns copos. Encontro minha mãe arrumando perfeitamente um único prato na ponta da mesa. Ela olha para cima e desfaz sua expressão séria com um sorriso.

— Seu pai que te mandou ajudar? Eu disse pra ele que eu podia fazer isso sozinha.

Ela adora organizar. Se tivesse uma segunda profissão, provavelmente seria a de decoradora ou organizadora de eventos. Contudo ela decidiu, antes de qualquer coisa, ser engenheira florestal. É o lance real dela.

— Que camiseta é essa? — ela pergunta depois de começarmos a arrumar tudo em silêncio. — Nunca vi antes.

— É nova. — Não é não.

— É bonita, mas não é o que você costuma usar. Tentando encontrar um novo estilo?

— Tipo isso. — Dou de ombros e sorrio para ela, me odiando um pouco por mentir.

Ouvimos a porta da entrada bater e vozes pela casa.

— Daesun chegou — mamãe se anima. — Ótimo.

— Vou me trocar, já desço — aviso, preocupado que Daesun perceba a camiseta também. Ela não tem nada demais, além de algumas palavras aleatórias em branco para se destacar contra o cinza escuro, e uma estampa duvidosa sobre uma paisagem preto e branco abstrata bem no centro, porém não é algo que eu tenha no meu guarda-roupa.

Quando eu troco a camiseta e penduro a de Jaehyun com cabide no meu guarda-roupa, me sinto completamente bobo. Porque me deixa feliz ter ela aqui?

Vou pensando na resposta enquanto saio do quarto, mas paro na porta que fica de frente para a minha.

O quarto do meu irmãozinho. Ninguém entra mais lá e todos os rabiscos na madeira estão ficando borrados e clarinhos conforme papai manda limpar a casa de poucas em poucas semanas. O homem que faz a faxina não sabe que o quarto não é usado, não sabe a importância daqueles rabiscos infantis ou do que tem dentro do quarto.

Ele tinha treze anos. Alguns anos mais novo do que eu só. Ele faria quatorze dentro de algumas semanas.

Minha mão toca a superfície da porta de leve.

Por que tenho que gostar logo do Jaehyun?

Blame » dojaeOnde histórias criam vida. Descubra agora