Capítulo 14 - Dy

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Ouço o som de um passarinho, mas apesar da luz que atravessa minhas pálpebras não abro os olhos para vê-los.

Sinto-me exausto como se precisasse de mais horas de sono. Meu coração palpita junto da minha respiração suave, o canto dos pássaros continua e eu apenas me empertigo na fonte de calor mais próxima, afastando a manhã gelada. Meu corpo balança de forma estranha em minha cama, é quando começo a perceber que tem algo errado.

Vejo árvores e passarinhos voando num céu cinza, iluminado por uma brecha de luz solar que escapa no horizonte. Pego meus óculos do bolso interno do meu moletom e o coloco. Começo a me lembrar da noite passada justamente quando Jaehyun vira de barriga para cima na rede. Ele nos balança sem consciência disso.

Deve ser muito cedo já que o sol mal nasceu. Não faço ideia de quando caímos no sono lado a lado numa rede no meio da floresta. Um pássaro diferente grasna e outros assobiam, o cheiro de mato e umidade toma o ar ao nosso redor. Faço uma careta de dor quando eu me mexo um pouco e percebo o desconforto de dormir numa rede, minhas costas doem e meu pescoço parece travado.

Sento sem me importar muito com a probabilidade de acordá-lo, porque, sinceramente, o que importa agora é essa dor infernal nos meus ombros. Massageio algumas áreas enquanto espero para ver se jaehyun vai acordar, mas ele nem se move. Seu cabelo parece mais claro sob o céu aberto, e a pele mais pálida. Ele dorme com os lábios entreabertos com uma respiração calma e ritmada deixando-os. Suas mãos estão sobre seu abdômen e as pernas... Oh, não. Bom, parece que ele tem outra coisa com o que se preocupar esta manhã. Droga, e eu também. Ok, vamos ignorar o quão estranho é estarmos aqui, assim.

Levanto da rede e ela dá uma sacudida nada suave, ficando mais leve sem o peso extra do meu corpo. Alongo meus braços e pernas, e preciso confessar que apesar do mal jeito, o lugar é extremamente lindo de manhã, com flores fechadas e grama rasteira. Fecho os olhos, absorvendo os sons da natureza.

Na verdade, estou apenas tentando não pensar na ereção matinal do Jaehyun, e em como meus países baixos formigam.

— Bom dia — a voz rouca de Jaehyun soa atrás de mim, tímida e estranha. Eu nunca o ouvi de manhã cedo, logo após acordar, mas sua voz é tão gostosa que me faz imaginar como seria acordar ouvindo isso... pertinho do meu ouvido.

Viro para ele parcialmente, implorando para eu não estar obviamente vermelho ou com um olhar desejoso. Jaehyun está sentado com as mãos entre as pernas e a cabeça levemente abaixada, como se estivesse minimamente envergonhado. Finjo que não notei nada, porque o que mais eu posso fazer numa situação dessas.

— Parece que vai chover. — Ao dizer, percebo que minha garganta está seca.

— É, parece. — Ele engole quando olha para mim e acompanho o movimento de sua garganta.

— Hm... Acho que nós deveríamos ir embora antes que isso aconteça.

— Sim. — Ele nem questiona. — Você deveria avisar seus pais que está bem.

Procuro meu celular nos meus bolsos, vejo as ligações perdidas do meu pai e de Daesun — até mesmo Hee me ligou uma vez —, e começo uma mensagem para o meu pai.

— Você não deveria fazer a mesma coisa?

— Meus pais estão acostumados comigo dormindo fora.

Tento evitar demonstrar o amargor na minha língua, o desconforto que percorre meu corpo. Estou cheio de ciúme e nunca admitiria isso.

Imagino.

— Porque eu sempre durmo na sua casa... — ele termina de falar ao mesmo tempo que eu.

Começo a sentir o formigamento de estar corando passando pelo meu pescoço. É claro, ele quis dizer que dorme muitas vezes no quarto do meu irmão mais velho e seus pais já estão acostumados.

Assim que meu pai responde dizendo que o deixei extremamente preocupado, um sentimento de culpa preenche meu peito. Olho a hora nas mensagens e finalmente a ficha cai. Precisamos correr se quisermos chegar a tempo na escola!

— Jaehyun, levanta logo, temos que ir pra aula! — Arrumo os sapatos nos meus pés, meio desengonçado.

Ouço a risada de Jaehyun e automaticamente começo a ficar vermelho. Não seria desastrado assim na frente de ninguém, principalmente não na frente dele. Ele deve me achar um pateta. Mas eu nunca me importei com o que ele pensava de mim antes, então por que agora?

— Doyoung.

— Hm? — Finjo que tenho que reamarrar meus cadarços só para não ter que olhá-lo.

— Hoje é sábado.

— Tá, tá, vamos logo! Senão nós não vamos chegar a... — Meu cérebro absorve a informação e eu finalmente olho na cara dele. — Sábado?

Ele assente, rindo de mim. Droga, eu o odeio por isso. Odeio gostar tanto do seu sorriso. Odeio o alívio no meu peito agora que sei que era disso que ele estava rindo.

Começa a chover e ambos erguemos a cabeça para cima, vendo a chuva engrossar muito rápido. Jaehyun levanta sem sinal de desconforto e eu tento não olhar muito em sua direção enquanto ele se arruma e arruma a rede do jeito que estava quando chegamos ontem.

Seus olhos castanhos estão nos meus em um minuto, com um sorriso meio agitado e a sua mão pega a minha antes que eu entenda o que está acontecendo. Ele corre e me puxa junto através dos degraus de terra, de volta para sua moto que está escondida exatamente onde ele deixou na noite passada.

Jaehyun coloca o capacete em mim dessa vez, sem dizer nada e sem me dar chance de protestar. Coloco meus óculos no bolso do moletom outra vez. Subimos um atrás do outro, mas antes de seguir a estrada, ele puxa meus braços por cima de sua cintura, exatamente como eu fiz na primeira vez em que subi na sua moto e estava com medo. Se não fosse o capacete, minha bochecha encostaria em seus ombros. Odeio como gosto dessa ideia.

Meus dedos se fecham ao redor de sua camisa por baixo da jaqueta enquanto estamos na estrada muito mais movimentada pela manhã — eu odeio quando ele precisa passar entre os carros ou perto de caminhões. — A chuva é tão forte que ficamos encharcados rápido. Quando Jaehyun para em frente a uma casa, que só posso imaginar ser sua, eu desço e tiro o capacete sem me importar em colocar meus óculos nessa chuva que o embaçaria.

Jaehyun não faz como eu. Ele olha para mim e sua mão pega a minha muito delicadamente, como se estivesse com medo de que eu me afastaria se ele fosse mais óbvio do que isso. A chuva faz seu cabelo claro grudar em sua testa e os cílios grudarem uns nos outros. Uma gota desliza pelos seus lábios e quando ele os entreabre, ela desaparece.

Não sei bem o que estou fazendo quando me aproximo da moto e deslizo os lábios pelos seus. Não sei bem se ele gosta disso quando me afasto alguns centímetros e olho em seus olhos, mas quando sua mão solta a minha e ele segura minha nuca, trazendo-me para mais perto até ser capaz de colar sua boca molhada na minha, tenho minha resposta.

Jaehyun tem gosto de água e cevada, seu cabelo gruda em meus dedos e a boca abre tanto quanto a minha quando deslizo minha língua na sua. Ele mantém as mãos firmes na minha cintura, por baixo do moletom, e eu preciso ficar nas pontas dos pés para não encostar em sua moto com o escapamento ainda quente.

Não sei se ele sabe que este é meu primeiro beijo, mas se sabe, não parece se importar. Jaehyun solta um gemido na minha boca e eu quero sorrir com a ideia de que ele gosta do meu beijo, de que talvez possa gostar de mim.

Blame » dojaeOnde histórias criam vida. Descubra agora