14 - NUNCA MINTA PRA MIM!

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Se existe uma coisa que me faz sair do serio é a mentira. Ainda mais quando a pessoa se acha esperta e acha que eu sou enganado facil. Tudo o que é encoberto, um dia é descoberto. Isso é um fato.

Naquele mesmo dia em que descobrimos o autor da carta anônima, o Tenente Marcelo Souza Braga solicitou a transferência de imediato do soldado Lammar para uma Unidade de infantaria do interior do estado, e eu, que ainda estava em choque com o choro do Lammar, fiquei sabendo da transferência quinze dias depois que ela aconteceu. Eu fiquei aéreo com tudo aquilo, tentando entender o que eu tinha feito pra deixar aquela montanha de musculos e testosterona chorando frágil daquele geito. Mal sabia que com a descoberta da transferencia do Lammar, eu descobriria outras coisas que me tirariam do meu centro gravitacional.

Eu fui chamado pra substituir o Soldado Jessé no gabinete do General, ja que o Soldado Jessé ficou doentente e não podia sair da enfermaria por recomendações medicas. Naquele dia, eu estava organizando a papelada de cima da mesa quando achei a pasta de transferencia do soldado Lammar. Como era assuntos do alto escalão do quartel, fingi demência e arquivei a pasta junto com as demais. Sala limpa e organizada, eu estava sentado na mesa,quando o telefone tocou...
- Sala do General Dias Azevedo, bom dia!
- Bom dia, por favor, meu filho, o Tenente Marcelo Braga está aí por perto? É a Janete, mãe dele.
- Oi Dona Janete, ele saiu. Foi cumprir as demandas solicitadas pelo Ministerio das forças armadas. Quer deixar recado?
- Não, eu ligo mais tarde. Obrigado!
- Disponha!

Ao desligar o telefone, percebi que ela parecia aflita com algo. Na hora pensei que poderia ter acontecido algo com o pai do Marcelo... ele tinha problemas cardíacos graves, não pensei duas vezes e sai do escritorio atrás do Marcelo, pois poderia ser algo grave acontecendo. No meio do caminho eu o encontrei e passei o recado, ele correu para o primeiro telefone publico que viu e fez uma ligação a cobrar pra casa de seus pais. Minha intuição estava certa, o pai dele iria ter que passar por um transplante de coração com urgência, pois poderia não aguentar muito mais tempo.

Naquela hora eu fiquei desolado com o sofrimento dele... senti que não poderia sair do lado dele em momento algum, o Marcelo iria precisar do meu apoio naquele momento e eu não poderia negar nem meu apoio e nem meu ombro pra quando ele precisasse chorar. Tomado pela sensibilização a dor dele eu me adiantei;
- Estou aqui por você e pelo seu irmão também.
Esquecendo o que ele havia me dito ele indagou;
- Irmão? Eu sou filho Único!

Quando ele disse que era filho único,  senti como se um sino tocasse dentro do meu peito. Aquele sentimento de compaixão foi se convertendo em raiva... O Marcelo mentiu pra mim. Ele disse que a voz que tinha atendido o telefone e o chamado de amor era um irmão com problemas mentais que o chamava assim por que viu a mãe o chamando e a imitou...
Ali as coisas ja começaram a ficar estranhas.
Eu não me conformava com aquilo e passei duas semanas evitando o Marcelo, apesar dele me procurar constantemente, ate que um dia ele questionou;
- Lucianno, o que está acontecendo? To te sentindo frio comigo, distante.
- Serio? E você nem sabe o porque?
- Se eu soubesse o porque, eu não estaria te perguntando.
- Pois bem, vamos lá. Lembra naquela folga que você foi visitar seus pais e que eu liguei pra saber se você estava bem, e atendeu um outro cara dizendo que você estava no banho, ai eu pedi pra me retornar e esse cara te chamou de amor antes de desligar. Você me disse que era seu irmão com deficiência intelectual que te chamava de amor por que sua mãe te chamava de amor e ele aprendeu com ela. Bem, a duas semana atrás, quando você ficou sabendo sobre o estado de saúde do seu pai, eu ofereci a minha força pra você e pro seu irmão, ai você disse que era filho único! Filho Único?! Então quer dizer que eu to pagando de apaixonado e sendo feito de trouxa?!
- Não, Lucianno, eu vou te explicar. Eu...
- Quer saber?! Não precisa explicar nada. Eu ja entendi o que esta acontecendo. Eu fui feito de otário.
- Claro que não, meu amor, eu...
- Não fale mais nada. A partir de agora é cada um na sua pra ninguem sair mais machucado dessa historia.

Dizendo isso eu saí chorando de ódio por ter sido tão ingenuo a ponto de me apaixonar e ser enganado.

Ficamos um mês sem nos falar, ele apenas ditava as ordens e eu as obedecia, e durante a noite, eu ia dormir ardendo de tesão mas não dava o braço a torcer. Uma certa tarde, eu estava terminando de varrer a frente do Galpão do paiol quando o carro oficial das forças armadas parou  na minha frente, Marcelo estava no volante e disse;
- Soldado,  tem um minuto?
- Não Senhor! Preciso terminar isso por ordem direta do Coronel Ortiz.
- Largue este Fanchão, soldado e apresente-se na minha sala em quinze minutos. É uma ordem!
- Sim, Senhor!
Bati continencia e fui em direção a sala do Tenente Marcelo Souza Braga.

Na sala do Tenente, ele veio cheio de explicações:
- Amor, me perdoa. Não é nada disso que você está pensando. Eu tenho um amigo que considero irmão de criação, ele realmente tem deficiência intelectual e me chama de amor por causa da mimha mãe. Eu te quero de volta!
- Explica mas não justifica. A confiança quebrada não se restaura, Marcelo.
- Por favor, me perdoa!
- Não. Você mentiu pra mim.
- Eu te amo!
- Quem ama não mente.
- Quero sentir esse pauzão novamente!
- Então é isso?! É um pauzão que te faz falta? E o carinho? e o amor? E os beijos? E os riscos que corremos? Nada disso valeu pra você?
- Claro que sim.
- Pois parece que nada alem do meu pau valeu pra você!

- Sai da sala e deixei ele chorando com sua propria culpa.

DESEJO CAMUFLADOOnde histórias criam vida. Descubra agora