16 - NO LEITO DE MORTE.

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Era inegável que a situação do seu Augusto, pai do Marcelo era delicada e nessas horas geralmente precisamos estar preparados para o pior, e de alguma forma, eu sabia que o meu sogro não iria sair dali com vida.

Na noite daquele mesmo dia, Seu Augusto acordou e começou a se debater, por conta dos tudos. Assim que foi extubado, chamou Marcelo e dona Vânia no quarto, eles foram e não demorou muito, sairam chorando. Seu Augusto tinha acabado de falecer... Ao correr em direção a Marcelo para conforta-lo, ele me evitou, congelando a minha alma com tamanha frieza. Na hora eu não entendi o que estava acontecendo mas preferi dar espaço a ele devido a dor da perda do pai.

Voltei ao quartel em silêncio ruminando aquela situação, tentando digerir tudo o que estava acontecendo da melhor forma possível. No dia seguinte era o dia em que eu iria me encontrar com o Capitão Penacco, ate pensei em ligar desmarcando, mas não tive coragem. Apenas esperei o horario e fui ao encontro.

Estava me sentindo pesado, triste, e cheio de mágoa pelo que tinha acontecido no hospital. Ao contrário do que imaginei, o Cap. Penacco foi muito legal comigo, me oferecendo o ombro pra chorar e desabafar. Fomos ao pier da cidade e ficamos horas conversando... eu abri meu coração e ele abriu o dele, desabafando todos os problemas que o sufocavam por anos...

Demorei a perceber, mas estava nascendo alí um sentimento que viria a crescer mais e mais. Quando ele foi me deixar no quartel, ao nos despedir, ele me deu um beijo. Na hora, meu pau subiu, mas ele respeitou e me disse; - Você é um cara que vale a pena investir. Eu vou te esperar. E dizendo isso, foi embora.

Ao amanhecer do dia seguinte, o quartel parecia estar em um filme em preto e branco, tudo parecia ter perdido a cor. Fizemos a formação para cumprimentar o Tenente Braga e oferecer a força que ele precisar neste periodo de Luto, passadas as convenções, percebi que o Tenente Braga estava me evitando,  eu não ia atrás dele pra saber o porque, mas aquela historia começou a me deixar fortemente incomodado.
- E aí, Tentente. Vai me evitar pelo resto do ano?
- Lucianno, por favor, não dificulte as coisas!
- Dificultar o que? O fato de que em um dia você me faz juras de amor e no outro dia me trata como um leprozo?
- Eu tenho meus motivos, to sofrendo pra caralho, mas tenho meus motivos.
- Que motivos, Marcelo? O que faria você mudar de opinião e sair do amor para o ódio dessa maneira?
- Eu prometi... Deus! Eu prometi pro meu pai que eu ia me casar e dar netos a ele. Ele ia me olhar do céu! Eu me matei por dentro, mas disse a ele que cumpriria minha promessa, mesmo que seja infeliz a vida toda, eu não iria decepciona-lo.

Marcelo, enchugando as legrimas, tentou me abraçar e me beijar, mas eu estava com tanta raiva que o empurrei com força e o chamei de covarde!
- Covarde? É preciso coragem pra sacrificar a propria felicidade para atender o ultimo pedido de um ente querido!
- Covarde sim, seu pai está morto! Você não sacrificou a sua felicidade, sacrificou a nossa felicidade em nome de um desejo egoista e mesquinho do seu pai!
- Nunca mais chame meu pai de mesquinho! Nunca mais!
- Mesquinho, egoista, sem alma, corpo seco! Ele matou você por dentro pra satisfazer uma vontade tosca! Quer saber? Eu to de saco cheio disso tudo,  você não tem palavra, nem culhões, nem honra! A proxima vez que você disser que vai brigar por alguém, pense duas vezes, você pode ser cobrado por isso; Borra botas.
- Espere Soldado Prado. Eu não acabei...
- Mas eu sim! Passar bem, Tenente Bunda Suja! Dei as costas e saí da sala.

A minha raiva era tanta, mas não era maior que meu desgosto e minha decepção com o Tenente Braga. Eu estava tão irritado que nem conseguia ouvir a voz do tenente. Sem contar que chamar alguém de bunda suja dentro das forças armadas é uma ofensa maior que chingar a mãe de puta!

No dia seguinte, acordei antes do corneteiro, arrumei as minhas coisas e deixei sobre a cama, fui falar com o General Dias Azevedo a respeito de um pedido de transferência para outro quartel mais longe dali possivel. Eu não iria suportar conviver com o pessoal depois dessa saia justa que passei com o Tenente Braga.

Assim que o café terminou, ja fui em direção à sala do General, porém no caminho, dei um encontrão com o Cap. Penacco que estava em visita a pedido do General.
- Prado, Esta tudo bem? Você esta pessimo... está sem dormir?
- Podemos conversar em um lugar mais reservado, Penacco? Eu estou pra explodir. Chorei a noite inteira.
- Vamos conversar no Stand de tiro. Não tem ninguém la agora!

Chegando no stand de tiro, eu desabei, chorei muito enquanto o Penacco me abraçava. Contei a ele tudo o que aconteceu, desde a briga por causa do historia do Irmão com deficiência intelectual até o pedido do pai no leito de morte. Naquela hora o Capitão Leandro Penacco podia se aproveitar da situação e da minha fragilidade no momento, mas ele foi super respeitoso, me ouviu, me aconcelhou e se colocou a minha disposição.
- Sobre você pedir transferência, eu acho que você não deve fazer isso.
- Porquê?
- Por que assim fica facil do Marcelo te esquecer... ele precisa lembrar da covardia que fez com você dia apos dia.

Ele estava certo, se eu pedisse transferência, iria limpar a consciencia dele transferindo a culpa pra mim. Isso não era justo comigo. Desisti da ideia na hora, antes de voltar aos meus afazeres, puxei o Cap. Penacco para o corredor e beijei ele com toda a minha força. Ele pegou no meu pau e sentiu que estava duro igual a pedra e só me disse; me encontre hoje a noite na clareira!

DESEJO CAMUFLADOOnde histórias criam vida. Descubra agora