29 - A FORMATURA.

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A semana seguinte passou como um cometa em frente a terra. Em um piscar de olhos, ja era sábado e ja estavamos todos de malas prontas, nos arrumando para a formatura. Um sentimento de saudosismo nos pegou de súbito. Ja começavamos a sentir saudades sem se quer ter saido oficialmente do quartel. Passamos trezentos e noventa e seis dias alí, construimos laços de amizade, passamos por poucas e boas ali dentro, mas descobrimos que aquilo alí marcava uma das melhores épocas da nossa vida, a época onde nossa juventude teria que dar espaço a responsabilidade, a disciplina e primeira maturidade. Aprendemos sobre hierarquia, sobre consequências,  enfim. Decidi dar uma ultima volta pelo quartel, quando percebi, parecia uma procissão guiada por mim... todos estavam caminhando com olhos marejados olhando para cada canto daquele quartel. Por fim chegamos ao patio onde seria a formatura. Lá, fizemos o juramento a bandeira, assinamos o Certificado de conclusão de tempo obrigatorio do Serviço militar e fomos para a Cerimonia. O General falou sobre o nosso tempo épico naquele lugar sagrado e patriótico e em seguida me chamou pra discursar. A cada passo que eu dava em direção ao palanque, um pedaço da minha historia era revivido na minha mente. Quando eu cheguei no palanque e subi, olhando para aqueles rostos todos, eu consegui me ver entre eles, o menino Luciano, cheio de medo, assustado e ansioso, me olhava com orgulho de la de baixo enquanto eu me preparava para discursar;

- Meus irmãos de Farda!
Boa tarde!
Hoje se encerra em nossas vidas mais um ciclo. Nossa vida é feita de ciclos com principio, meio e fim! Quem aqui não se lembra do dia em que nos apresentamos naquele portão? Eramos moleques, irresponsaveis, cheios de duvidas, de manias, de medos... e hoje? Hoje não somos mais aqueles meninos. Hoje somos homens, convictos de nossa postura, de nossas responsabilidades e da importancia de nosso papel perante a sociedade. Mas nos reverenciamos aos meninos que chegaram até aqui. Sem eles não seriamos nada! Para trilhar o caminho do crescimento é preciso coragem e isso, aqueles meninos do dia da apresentação pós convocação tinham de sobra. O Exército Brasileiro não é lugar para covardes!
Aqui nos provamos o nosso valor diante da sociedade em que vivemos e o nosso amor a mãe Patria!
Viva a mãe Patria!
- Viva!!!
Todos Aplaudiram.

Aquele dia inspirou muitas emoções em todos. A começar do Soldado Lammar que me chamou pra testemunhar o pedido de casamento que ele fez ao Cb. Silveira. Eu estava contente pelos dois. Eles se entenderam e estavam felizes... Eu queria essa mesma felicidade para o Tenente Braga, mas mesmo com o sorriso no rosto, o olhar dele era triste.

Eu recebi logo pela manhã uma caixa de presente com uma carta;
- Lucianno, hoje é o dia em que você conclui seu periodo Militar obrigatorio, fiz questão de lhe comprar um presente para comemorar esse periodo. Te amo! Leandro.
Na caixa havia uma camisa linda e um perfume importado. Eu so conseguia pensar na minha saida do quartel e no encontro que teria apos a formatura.

Com a cerimonia rolando, eu observava tudo a minha volta, eu via os familiares de quase todos os soldados felizes por eles, so não vi os meus familiares e nem os do Tenente Braga, que assistia tudo com olhar apático. Aquilo me cortava o coração, mas eu não podia fazer mais nada, ja havia feito tudo ao meu alcance, agora estava nas mãos dele.

Por fim, a formatura acabou, todo mundo se despedindo e indo embora com suas respectivas familias, quando um carro chegou, o Marcelo se aproximou tristonhamente, me abraçou e disse:
- Tudo valeu a pena! Obrigado!
E em seguida entrou no carro e foi embora.
Naquela mesma hora, o Soldado Lammar e o Cb. Silveira vieram na minha direção;
- Luciano, nos também estamos indo embora. Pedimos baixa e estamos indo morar juntos. O Lammar e eu fazemos questão de manter contato com você e o Capitão Penacco.
- Sim! Anotei nosso telefone nesse cartão. Salve na sua agenda e nos ligue. Queremos que seja nosso padrinho de casamento, heim?!
- Pode deixar... entrarei em contato sim, é uma honra ser padrinho de vocês!
Nos abraçamos e eles também foram embora, por fim, todos foram e eu fiquei alí sozinho na porta do quartel. Quantas lembranças vieram a minha cabeça... uns quarenta minutos depois que todos se foram, me dei conta de que o Leandro não havia aparecido e estava bem atrasado.
- Será que ele me deu o bolo por que eu ja não sou mais soldado?
Mil coisas passaram pela minha cabeça e eu me vi sozinho. Quando eu ja estava pronto pra pegar minha mala e ir para a rodoviaria, o Leandro virou a esquina de carro... meu coração acelerou e eu comecei a chorar, aliviado por não ter sido abandonado pelo cara que amava.
- Desculpa gatão, fiquei parado na estrada por causa de um acidente com um carrão. Você esta chorando? Oh meu amor, não chora. Eu estou aqui!
- Amor, eu cheguei a achar que tinha sido abandonado por você... Meu coração quase parou quando pensei na...
-... Nem repita isso. Você é só meu e eu nunca vou deixar você! Te amo, Lucianno Prado!
- Também te amo Capitão Leandro Dias Penacco!

Quando eu entrei naquele carro com meu noivo e ele partiu, deixei pra traz uma parte da minha historia para viver a minha felicidade. Descobri o quanto é importante você viver a sua verdade seja ela qual for e nunca deixar de vivenciar aquilo que seu coração pede.

Daqueles dias de farda só restaram as lembranças, algumas fotos empoeiradas, a farda de gala que usei no dia da formatura e estas historias picantes que eu contei a vocês... Acredite, isso é mais comum do que vocês podem imaginar. Poder experimentar a vivência dessas experiências so me fizeram perceber o quanto fui feliz ali dentro do quartel e o quanto eu pude colocar em pratica o dito, temido, velado e delicioso DESEJO CAMUFLADO!

DESEJO CAMUFLADOOnde histórias criam vida. Descubra agora