26 - VINTE SETE DIAS E UM PESADELO.

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Quando faltavam apenas vinte e sete dias para a minha formatura e a minha saida do Exercito, eis que cai uma bomba na minha cabeça... Fui chamado ao gabinete do General Dias Azevedo;
- Prado!
- Sim, Senhor!
- A vontade, soldado! Te chamei aqui por um unico motivo; - Hoje, por ordens superiores, o Tenente Braga esta sendo reintegrado a este Batalhão. Depois de conversar com o Alto Escalão do Exercito, eu não consegui mudar a opinião deles.
- Como assim, General? Ja provamos por a mais b que o Tenente Braga é perigoso, vimos do que ele é capaz quando acoado.
- Sim, soldado, por isso te chamei até aqui. Preciso que você reuna outros soldados de sua confiança e montem campana para vigiar o Tenente Braga, qualquer mijada fora do penico, nos o internamos novamente, assim até o alto escalão entender que ele é um sociopata.
- Sim, Senhor! Farei conforme o orientado pelo Senhor!
- Dispensado, soldado!

Assim que sai do gabinete do General Dias Azevedo,  uma crise de panico me tomou por completo, eu  tremia tanto que achei que fosse infartar, meu coração estava tão acelerado que parecia a bateria de uma escola de Samba, fiquei tonto e me sentei na calçada, quando o Cb. Silveira me viu pálido e veio ao meu socorro.

- Luciano, o que está acontecendo?
- To passando mal, crise de pânico.
- Mas o que desencadeou isso?
- Amanhã o Tenente Braga sera reintegrado ao Batalhão! Nossa vida vai virar um inferno. Nem um mês tenho pra me formar e ele volta depois de uma temporada no Hospicio!
- Caramba! Serio isso? Como eles vão reintegrar ele? Todo mundo viu que ele é perigoso.
- Sim, mas são ordens do alto Escalão,  o General Dias Azevedo ainda tentou mudar essa decisão, mas sem sucesso.
- E agora, Luciano? O que vamos fazer?
- Montar campana e ao menor sinal de descontrole, Atiramos um Dardo daqueles que tem no paiol direto nele. Chame os outros, vamos criar um grupo de campana.

Uma Hora apos o meu encontro com o Cb. Silveira, estavamos ja preparando a campana que consistia em vigiar todos os passos do Tenente Braga, e relatar ao General. Foram quatorze soldados, e entre eles, o Soldado Lammar, o Cb. Silveira, o Soldado Souza, o Cb. DaMatta e os nossos soldados de confiança. Tudo preparado, a tensão estava pesada e naquela noite, ninguém conseguiu dormir direito. Faltava realmente pouco pra tudo aquilo chegar ao fim, eu estava ansioso e com medo ao mesmo tempo.

O dia amanheceu, e logo de manhã, o carro do Hospital chegou trazendo o Tenente Braga. Era uma figura que dava pena, abatido, pálido, triste, sem nenhum traço daquela beleza e vigor de outros tempos... Ele estava imerso em pensamentos melancólicos, dava pra ver nos olhos dele que aquela furia insana se extinguiu igual as chamas de uma tocha no final da noite.

Algo dentro de mim ficou mexido ao ver aquele novo Marcelo. Foram quarenta e cinco dias de internação em uma clínica de repouso, fora o diagnostico de Surto Psicotico pós estafa emocional e ele voltou apagado, amoado, sem vida, parecendo um boneco de marionete sem os encordoamentos. Me senti mal vendo aquilo. Ele olhava apenas para o nada e quando desviava o olhar, apenas mirava o chão, era como uma casca vazia, era um Tenente Braga sem a alma.

Meu incomodo foi aumentando a ponto de esquecer todo o mal que ele nos causou e ir de encontro a toda aquela dor.
- Tenente Braga, está tudo bem?
- Aos poucos vai ficar tudo bem, Soldado Prado! Esse tempo na clinica me fez ver o quanto eu errei com você e com todos que passaram pela minha vida. Deixei a patente falar mais alto que minha razão. Isso que você vê aqui, é o peso do fardo do arrependimento! - E dizendo isso, começou a chorar, e acredite, minha unica reação foi abraçar ele.

Um pouco mais tarde, ja quase pela hora do Almoço, eu fiquei observando ele de longe e o vi chorar varias vezes. Aquilo foi me corroendo por dentro de tal forma que fui me entristecendo com aquela situação; - Por mais que ele tenha sacaneado e jogado tudo pro ar, eu não gostaria de vê-lo neste oceano de tristeza... Ele ainda era humano e não merecia aquilo de forma alguma, eu não desejaria aquela tristeza nem ao pior entre todos os seres humanos.

Depois do Almoço, liguei para o Leandro com um aperto no peito e chamei ele até o quartel. Quando o Leandro chegou, eu mostrei a ele o estado do Marcelo e o Leandro chorou.
- Anjo, o que aconteceu com ele?
- Não sei, ele chegou assim, nesse estado deploravel, ja chorou muito desde que chegou e esta com esse olhar perdido no espaço e no tempo.
- Nossa! Sera que fizeram algo de ruim com ele na Clinica?
- Honestamente? Não faço ideia. Mas não consigo vê-lo dessa maneira. Sinto que sou responsavel por isso.
- Luciano, vamos ver se conseguimos ajuda-lo. To me sentindo mal com isso.
- Eu também.

No cair da noite eu falei com o General Dias Azevedo e pedi autorização pra desfazer a Campana.
- Você está maluco, soldado Prado? Ele pode apresentar perigo a você e aos demais!
- General, no estado em que ele se encontra, acredito que não fará mal a uma mosca se quer. Ele esta depressivo, chorando pelos cantos, abatido. Prometo ficar de olho nele constantemente.
- Bem, se você quer assim, assim seja! Mas tome cuidado. Não queremos problemas e ele pode mudar o comportamento de uma hora pra outra.

Ouvindo e guardando as palavras do general, eu fui para o alojamento, onde o Marcelo estava, sentei-me ao lado da dele, e fiquei de olho, mas lá pelas vinte e três horas eu cochilei.
Acordei as três da manhã com o choro dele sentado na beira da cama, novamente o abracei e rezei ate ele dormir novamente.

Naquela hora percebi que precisei deixar toda aquela historia de lado para poder acolher alguém em uma hora dificil. Enfrentar uma depressão é algo que não podemos e nem devemos fazer sozinhos!

DESEJO CAMUFLADOOnde histórias criam vida. Descubra agora