Capítulo 05

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Durante o jantar, Mauro e Simone irradiavam felicidade pela família estar reunida. Mesmo a contragosto, Alfonso desceu para jantar. O ambiente estava impregnado de uma tensa normalidade, onde sorrisos ensaiados tentavam encobrir as complexidades subjacentes dos relacionamentos familiares na mansão dos Herrera.

Enquanto as conversas fluíam e os talheres ecoavam na sala de jantar, cada membro da família estava imerso em seus próprios pensamentos, navegando pelas águas turbulentas das emoções não ditas. O destino da noite, assim como o caminho a ser percorrido pelos Herrera, permanecia incerto sob a luz suave da sala de jantar iluminada por velas.

Alfonso estranhou a presença de um rapaz desconhecido à mesa. Seus olhos observaram cada movimento do intruso, criando uma tensão palpável no ambiente já carregado. Enquanto a família continuava as conversas, a presença do rapaz desconhecido acrescentava uma camada adicional de complexidade ao jantar dos Herrera, deixando Alfonso em alerta diante do inesperado.

Simone: Filho, esse é Ramon, amigo da Any.

Ramon: Prazer

Alfonso apenas assentiu com a cabeça para Ramon. Sua expressão permanecia imperturbável, revelando uma cautela contida diante do novo elemento na dinâmica familiar. A breve troca de gestos indicava uma recepção reservada. O rapaz era amigo de Any, sentado ao lado dela, e os dois conversavam de forma animada. A descontração entre eles contrastava com a atmosfera mais tensa ao redor da mesa. Alfonso, observando discretamente, tentava decifrar a dinâmica entre Any e seu amigo, enquanto a família continuava suas interações.

Simone: Poncho meu querido, você não vai acreditar em quem eu vi.

A atenção de Alfonso, que até então estava em Any e no amigo dela, se voltou para a mãe.

Simone: Marcelo.

Ao ouvir aquele nome, Alfonso fechou a cara na mesma hora.

Simone: Ele perguntou por você.

Alfonso tencionou os músculos.

Simone: Ele disse que qualquer dia vai passar aqui para vê-lo.

Poncho: Que ele tente sorte - com raiva.

Josh: Queria entender o porquê brigaram, eram tão amigos.

Poncho: Aquilo não pode ser considerado um amigo.

Simone: Poncho, eu sei que houve desentendimentos, mas as pessoas mudam. Talvez seja uma oportunidade para resolverem as diferenças.

Poncho: Mãe, certas coisas não têm conserto. E eu não quero revisitar o passado.

Josh: Acho que é hora de superar isso, Poncho. Marcelo sempre foi um bom amigo.

Poncho: Ele não era o que parecia, Josh. Eu não preciso dele na minha vida - irritado

Simone: Só queria entender o que aconteceu para chegar ao ponto de odiá-lo.

Poncho: Às vezes, as coisas simplesmente não funcionam, mãe. Não há necessidade de reviver antigas feridas.

Simone: Mas vocês eram tão próximos, inseparáveis.

Poncho: As aparências enganam, mãe. Nem tudo é o que parece.

A tensão persistia na conversa, revelando as cicatrizes de uma amizade que desmoronara. O passado, ainda enraizado na memória de Alfonso, resistia a ser desenterrado, deixando a mesa envolta em um silêncio carregado de nostalgia e desconforto.

Na infância, Alfonso e Marcelo compartilharam risos, segredos e aventuras, forjando uma amizade que parecia inabalável. Como irmãos de coração, enfrentaram juntos os desafios e descobertas que a vida lhes apresentava. Entretanto, em um momento crucial, algo aconteceu para desencadear uma fissura nessa relação outrora sólida.

O desentendimento, como uma tempestade súbita, transformou a camaradagem em uma nuvem carregada de ressentimento. O que poderia ter sido uma simples divergência de opiniões ou um mal-entendido cresceu para se tornar uma separação profunda. Alfonso, marcado pela ferida da traição percebida, optou por cultivar o ódio em vez de curar as feridas do passado.

Os anos se passaram, mas a sombra da amizade perdida continuava pairando sobre Alfonso. A simples menção do nome de Marcelo despertava sentimentos intensos de rejeição e mágoa. A promissora amizade que outrora os unira agora estava enterrada sob as camadas do tempo, transformada em uma história de desgosto e distância.

Cada olhar, cada palavra não dita durante o jantar, revelava a persistência dessa cicatriz emocional. Alfonso, decidido a manter uma barreira entre eles, continuava a negar qualquer chance de reconciliação. O passado, enterrado sob as camadas do presente, agia como um espectro silencioso que moldava as relações presentes na mansão dos Herrera.

Poncho: Tudo isso é ridículo.

A voz de Alfonso cortou o silêncio tenso na sala de jantar. Seu rosto expressava desdém e frustração diante das tentativas de reconciliação propostas pela mãe. O rancor enraizado em seu coração parecia resistir a qualquer esforço para dissipá-lo. O ceticismo de Alfonso ecoava como uma barreira impenetrável, revelando sua relutância em reconsiderar o passado e dar espaço para a possibilidade de perdão. O jantar continuava, mas a sombra do conflito passado pairava sobre a mesa.

Tentando dissipar o clima ruim, Any resolve quebrar o silêncio:

Any: Bom, se nos derem licença, vou mostrar a casa para o Ramon.

Ramon: Com licença.

Os dois saem de mãos dadas, deixando para trás a atmosfera carregada da sala de jantar. A iniciativa de Any, ao buscar uma distração e trazer um sopro de leveza, oferecia um respiro necessário à tensão familiar. Enquanto a porta se fechava, a esperança de que o passeio pela casa pudesse suavizar as arestas permanecia suspensa no ar.

Poncho: Como se não bastasse, ainda tem essa pirralha achando que a casa virou hotel.

A observação sarcástica de Alfonso cortou o ar, destacando sua frustração não apenas com o passado, mas também com o presente. Sua resistência em aceitar as tentativas de harmonia se manifestava em cada palavra carregada de desdém. Enquanto a família tentava encontrar uma trégua, Alfonso mantinha sua postura rígida, revelando um coração protegido por muralhas de ressentimento.

A noite silenciosa na mansão dos Herrera era interrompida apenas pelo sutil som dos passos de Alfonso, que carregava consigo o peso de suas próprias incertezas. O escritório, seu refúgio particular, estava envolto pela penumbra, iluminado apenas pela luz suave de uma luminária de mesa.

Enquanto Alfonso saía do escritório, seu olhar capturou a visão da porta entreaberta da biblioteca. Uma curiosidade repentina o impulsionou a espiar, revelando uma cena que o deixou paralisado. Any, a quem ele ainda via como a "pirralha" intrusa, estava aos beijos com Ramon.

O impacto da visão foi como uma explosão silenciosa dentro de Alfonso. Seu copo de uísque, símbolo de sua busca por alívio, tornou-se uma extensão de sua mão trêmula. A cena de intimidade entre Any e Ramon desencadeou uma tormenta de emoções conflitantes.

A biblioteca, que antes era um lugar de quietude e conhecimento, tornou-se palco de um drama silencioso. O que Alfonso testemunhou naquela noite ecoaria em suas reflexões e moldaria os próximos capítulos da história.

Ao testemunhar a cena na biblioteca, uma enxurrada de sentimentos tumultuou o interior de Alfonso. A surpresa inicial deu lugar a uma mistura complexa de emoções. Raiva, confusão e uma pontada de traição se entrelaçavam dentro dele.

Any, que era vista por Alfonso como uma presença incômoda, revelava um lado desconhecido, rompendo com as expectativas que ele tinha sobre ela. A visão dos beijos apaixonados com Ramon abalou as estruturas da percepção de Alfonso sobre a dinâmica familiar.

Um nó apertado se formou em seu peito, enquanto o uísque em suas mãos parecia mais amargo do que nunca. A vulnerabilidade exposta naquela cena desencadeou um turbilhão de questionamentos sobre sua própria relação com Any e os segredos que residiam nos cantos escuros daquela mansão.

Coincidências do Amor AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora