capítulo5_Olhando o mundo

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Mesmo não vendo o pequeno ferreiro durante as missões Tokito criou um costume de escrever-lhe uma carta por semana, e a enviava sempre dobrada como um avião de papel. Kotetsu no começo não achava necessário ele lhe contar naquelas cartas cada detalhe que viveu durante a semana, mas também não reclamava.

Principalmente quando se familiarizou com este costume e passou a espera-las ansiosamente até às mesmas chegassem, se sentindo um pouco deprimido quando atrasavam. Com o tempo começou a até escrever algumas para o pilar, quando acontecia algo legal ou interessante que gostaria que o outro soubesse.

Até que um dia as mensagens pararam de chegar. O pequeno apenas achou ser mais um atraso, porém começou a preocupar-se quando se passou mais dias e nada da carta vir, por isso decidiu ele mesmo enviar um aviãozinho para o de olhos claros e perguntar-lhe se o mesmo estava bem.

Foi para seu quarto pegando a folha mais limpa e sem amassos que encontrou, pensando no que deveria falar enquanto deitava no chão de barriga para baixo.

- Caro Tokito-San.... - começou - estou preocupado porqu... - parou.

- Assim não! Isso está péssimo! - falou consigo mesmo, batendo a mão na máscara que cobria seu rosto, amassando a folha em uma bola de papel jogando-a em um canto qualquer para usar outra em seu lugar e começar novamente.

- Caro Tokito-sa.... - reescrevia quando foi surpreendido por Kanamori, batendo em sua porta logo a abrindo minimamente para ver o menino alí.

- Pequeno Kotetsu? - chamou-o da maneira carinhosa de sempre.

- Hum? Kanamori-san! - falou se levantando. Muitos diziam para o menor que agora ele deveria chamar o mais velho de pai, já que o mesmo cuidava de si como se fosse.

Porém ele não via o outro desta forma, sim gostava muito dele, entretanto era estranho para o garoto chamá-lo assim, e o homem a sua frente não parecia se importar com rótulos ou títulos, cuidava com carinho do garoto sem se importar de ser chamado pelo nome.

- Tem alguém a sua procura e... - ele continuaria falando se não fosse pela empolgação do pequeno ferreiro, que animado a pensar que sua carta finalmente chegou correu, passando como uma flecha pelo mais velho.

Sorrindo grande apesar de não parecer por conta da máscara atendeu a porta, ficando ainda mais feliz ao ver um dos ajudantes dos caçadores de demônios alí, já que era sempre um deles que vinha lhe entregar as correspondências.

Kozo logo também apareceu atrás do garoto, pois tinha uma leve impressão de que não se tratava de apenas mais uma mensagem do de cabelos longos, pois também estranhou o fato do ajudante estar carregando não só um avião de papel, mas também um uniforme de pilar e a metade de uma espada que ele reconhecia muito bem.

- Senhor Kotetsu Kanamori? - perguntou o ajudante.

- Sim, sou eu! - respondeu, eufórico para saber o que o de pontas claras escreveu para si desta vez.

- Isto.... É para você - estendeu a folha em forma de avião para o outro de maneira deprimida.

Kotetsu estranhou o jeito que o ajudante estava agindo, e juntando as sombrancelhas desfez o origami da folha com um ar de desconfiança, logo se concentrando na mensagem.

"Caro Kotetsu-kun, como não tenho família esta carta não deveria existir, no entanto eu a escrevi, pois você é a pessoa que eu tenho mais perto de um familiar" começou a ler, sim aquela carta era de Tokito, entretanto a escrita estava mais séria do que o normal, deixando o clima pesado.

"Se estiver recebendo esta mensagem significa que minha jornada chegou ao fim" o menor passou uma das mãos pelos cabelos, o que é está carta? Só pode ser uma brincadeira de muito mal gosto, o pilar não pode estar...

"Porém não se deprima, pois morri para salvar pessoas então também estou feliz" Não, ele não pode, ele prometeu que retornaria, ele não tem esse direito de mentir assim, ele não pode ter morrido.

As lágrimas começaram a brotar dos olhos escuros de Kotetsu, descendo por suas bochechas como um rio. Não queria acreditar pois não podia ser verdade, seus soluços de choro começaram a surgir fazendo-o erguer metade da máscara para secar o choro de seu rosto vermelho, pedindo para que isso não esteja acontecendo.

Kanamori vendo o estado do pequeno vira-o de frente para si, o abraçando apertado enquanto o menor chorava contra as vestes do mais velho, enterrando a dor contra suas roupas.

"Quero que saiba que você deu sentido cada dia de luta que tive, e que sempre que derrotava um oni era pensando em te proteger. Adeus Kotetsu, e obrigado por fazer valer a pena minha vida. Assinado: Muichiro Tokito" o garoto caiu de joelhos ao chão, junto de seu responsável que tentava acalmar seu pranto enquanto era abraçado com força.

Aqueles foram os piores dias do pequeno ferreiro, não se alimentava direito, tinha insônia durante a noite e seu ânimo e energia habitual já não existiam mais. O deixando trancado em seu quarto durante todo o dia, preocupando Kozo que não sabia mais o que fazer para anima-lo, já que nem seus doces prediletos deixava-o contente.

Não tinha escolha se não chamar a única pessoa tão cabeça-dura quanto o menor, pois já faziam três dias que o garoto não comia quase nada e o Kanamori estava começando a preocupar-se com sua saúde.

- Deixa comigo! Que eu vou fazer este muleque comer agora! - falou o Haganezuka a pegar uma bandeja de bolinhos de arroz que a pouco tempo atrás foi rejeitada pelo pequeno Kanamori.

Chegou no quarto do garoto batendo a porta fortemente para entrar sem pedir passagem, vendo o mesmo sentado em sua cama sem sua máscara com o uniforme do pilar em mãos.

Uniforme que foi entregue pelo ajudante dos caçadores junto da carta e do que restou da espada do de olhos claros. Era um costume trazer de volta para a família ou para quem o falecido desejasse suas coisas, como recordação de quem ele foi.

Seu corpo não foi encontrado, por isso o enterro simbólico do Tokito foi somente com homenagens e despedidas entre os Hashiras e alguns espadachins. Sabiam que o pequeno estava muito abalado, então mesmo tendo o direito de comparecer por ser a pessoa cujo o falecido escolheu entregar sua última carta não o chamaram.

Era melhor assim, seria apenas mais sofrimento para o menino.

- Hey garoto, trouxe comida, come - jogou sem delicadeza a bandeja sobre a cama, cujo o outro nem sequer virou-se para olha-la.

- Não quero - disse o menor, ainda sem tirar os olhos das peças de roupa em suas mãos.

- E por que não?! - falou o mais velho começando a realmente se irritar. Todos diziam que ele não servia para ser pai por sua falta de paciência, e ele não discordava.

Só estava fazendo isso porquê lá no fundo infelizmente se preocupava com Kotetsu.

- Porque eu não quero! Me deixe em paz!! Eu.... Eu não sei mais o que fazer... É como se tivesse um vazio em meu coração - as lágrimas do pequeno ferreiro começaram novamente a rolar, já havia perdido as contas de quantas vezes havia chorado apenas naquele dia.

Sem conseguir se conter Haganezuka vai até a frente do garoto e agarra suas vestes, o erguendo da cama assustando o menino que por reflexo solta o uniforme do pilar no chão.

- Garoto tonto! E você acha que morrer de fome o trará de volta?! Não!! Este vazio que sente nunca acabará!! Eu também já perdi pessoas então sei o que estou dizendo! Terá que viver para sempre com esta dor querendo ou não!!! - soltou as roupas do menino que caiu novamente no leito - em vez de se lastimar come e trabalha! Temos coisas para fazer!

O outro ainda com um olhar deprimido e lágrimas escorrendo em seu rosto pega um dos bolinhos de arroz para comer, dando uma grande mordida. Em seguida sentindo a mão do mais velho acariciando sua cabeça de uma forma meio bruta, mas com carinho.

Hotaru tinha razão, afinal o Hashira entregou sua vida para que o menor pudesse continuar vivendo.

O último demônio • Armyotaku (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora