{....E diz que o frio é uma fase ruim, que ele era a flor mais linda do jardim. E a única que suportou, merece conhecer o amor e todo seu calor....}
O de longos cabelos estava travado em seu lugar com um rosto surpreso, encarando aquele garoto que minutos atrás não se passava de mais uma pessoa mascarada como qualquer outra. Mas agora que se recordava dele era impossível vê-lo da mesma forma.
Não sabia como reagir, não sabia o que dizer nem como dizer, pois seu contato com séries humanos não era trabalhado a anos, e aquele não era somente um humano, era Kotetsu. As palavras não saiam de sua boca, nem as reações de seu corpo, por isso ficou estático no lugar enquanto o outro se aproximava lentamente, como se qualquer movimento brusco fosse assusta-lo e fazê-lo correr para longe.
O oni não tirou os olhos do de máscara nem por um momento, encarando seu próprio reflexo naquele mar escuro e brilhante que o mirava com emoção, enquanto a pequena mão porém calejada do mesmo se erguia afim de troca-lo, e constatar de que aquilo era real e não sua imaginação lhe pregando uma peça.
E assim com toda a delicadeza que pode tocou suavemente a ponta dos dedos no rosto de Tokito. Logo apalpando carinhosamente a bochecha do mesmo que fechou os olhos, suspirando ao sentir seu toque quente e espeço em sua pele, era essa a sensação de receber um afago?
Abriu os olhos para voltar a admirar o olhar negro do menor, no entanto se assustou ao fazer isso e ver seu olho a mostra cheio de lágrimas. Entretanto não eram lágrimas de tristeza, mas sim de alegria e emoção por estar tocando na pele macia do de chifres, e sentir que estava tão quente quanto a sua.
Não se importando com nada mais jogou-se contra o corpo de Muichiro, circulando os braços por sua cintura e acolhendo seu rosto mascarado nas vestes alheias. Enquanto chorava alto, apertava o corpo do outro contra o seu, dizendo seu nome inúmeras vezes e confessando o quanto sentiu saudades.
Ainda sem saber como reagir, o demônio passa timidamente os braços por cima dos ombros do pequeno Kanamori com um rosto confuso, pois não esperava essa reação de ninguém que o descobrisse. Talvez tentassem lhe matar ou fugissem de si, mas nunca imaginou alguém o abraçando dessa maneira.
- Por que?... Qual foi o motivo de ter me abandonado? Se não está morto, por que não retornou?... Pensei.. Pensei que éramos amigos - ainda a apertar o outro contra si o de olhos escuros balbuciava alto com a voz chorosa, partindo o coração do de pontas claras que não sabia que havia sido tão cruel.
E era por causa de si que os olhos do outro se inundavam.
O oni não era bom em consolar, pois o único ser que tinha contato era Ginko, e ela não gostava de demonstrar fraquezas. Mas de qualquer forma seguiu seus instintos, e mesmo não sabendo ao certo o que estava fazendo ou se o que fazia era certo agiu.
A primeira coisa que fez foi segurar o rosto mascarado do outro e ergue-lo para si, queria ter certeza que o ferreiro prestaria atenção em suas palavras, olhando novamente para aquela orbe negra e profunda.
Ficou alguns instantes apenas observando o olhar encharcado do outro para si, pensando em como diria e o que diria, já que tudo estava tão confuso até para si próprio.
- Kotetsu-kun.... - pronunciou o nome alheio em sussurro, causando um arrepio no outro por sua voz - olhe para mim, olhe o que me tornei.
O menor não tirava sua concentração da face do outro, o via sim, era Muichiro Tokito. Os olhos semelhantes a lagos cristalinos eram os mesmos, o rosto branco e bonito, os longos cabelos que passou a admirar e a pequena estatura, não havia mudado nada, era o mesmo.
- Eu... Eu me tornei um monstro, não posso voltar. E você deveria ter medo de mim! Tenha medo de mim!! - agarrou os ombros do garoto com força apertando e sacudindo alí, enquanto com o rosto próximo ao alheio bradou, não compreendendo quando o outro não gritou ou fugiu.
Porém para sua surpresa o que recebeu foi apenas mais um abraço por parte de Kotetsu, que se livrou do aperto apenas para rapidamente fazê-lo. Pois mesmo não parecendo quem necessitava de mais amparo e apoio naquele momento não era o de olhos negros, mas sim Tokito.
Ao sentir novamente o calor do corpo alheio a lhe circular o demônio não resiste, caindo de joelhos enquanto com destreza também cerca o corpo do mais novo. Sentindo seus olhos encherem em prantos até escorrerem lentamente por sua face.
Não se lembra de muita coisa, nem da última vez que chorou, no entanto constatou naquele dia que o garoto sentimental de onze anos ainda vivia dentro de si, e que isso era mais uma coisa que o humano que lhe abraçava despertou em seu interior.
Sentia-se um tanto assustado apenas em pensar o que mais o pequeno Kanamori poderia despertar em si.
Queria senti-lo para sempre, ficar nesse abraço até o findar dos tempos e não solta-lo mais, queria passar a noite conversando com o mesmo e saber de todas as coisas que acabou perdendo por não estar ao lado dele nos últimos dois anos, para depois compensar tudo isso. Mesmo que não lembrasse de nada após algumas horas.
Almejava muito isso, mas infelizmente ambos os dois não puderam ficar juntos por muito tempo. Pois quando perceberam já era tarde da noite, então teriam que se separar para que o garoto pudesse voltar para casa, o mesmo já estava um pouco aflito por causa do horário.
- E-eu... - o garoto parado na porta da cabana olhava para o lado de fora e para o Tokito, não sabendo decidir-se em ir para casa e talvez perder o outro, ou ficar e preocupar o senhor Kanamori que já deve estar a sua procura.
- Pode ir, eu estarei à sua espera. Porém antes, prometa que voltará logo - o oni se achegou ao outro, pegando suavemente em uma de suas mãos para fazer aquele pedido tão familiar.
Kotetsu sentiu seu corpo ferver em alegria, parecia que sonhava, pois tanta estranheza e felicidade não podiam ser reais. Assim o mesmo afirma sua promessa e dá as costas rapidamente com o coração acelerado, antes de partir para o meio das árvores.
O de chifres ao ver o outro se distanciar, ligeiro e com agilidade vai até uma árvore. Logo a subindo para utilizar seus adaptáveis e florescentes olhos cintilantes para ver o mascarado a correr de volta para casa, emitindo um sorriso bobo ao avista-lo.
Assim como o menor que saltitava o caminho inteiro, rindo para o nada com tamanha emoção, torcendo para não acordar em sua cama e constatar que estava sonhando.
Pois esse era um novo começo de uma antiga relação de carinho.
{....Aí que saudades de um beija-flor que me beijou e depois voou, pra longe demais, pra longe demais. Saudades de um beija-flor, lembranças de um antigo amor, o dia amanheceu tão lindo, eu durmo e acordo sorrindo}
(Essa música me lembra muito os muitetsu.
Curiosidade sobre a história: quando Genya transformou o Muichiro, ele avisou que não sabia o que podia acontecer já que ele não era um oni verdadeiro. E depois da luta Genya não conseguiu se regenerar, pois sua força demoníaca já estava quase no fim, ao contrário de Tokito, que acabou se tornando um oni real por não ter um estômago como o de Genya.
Muichiro só não morreu quando derrotaram Muzan porque ele não teve sua transformação derivada dele, mas sim de Genya)
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O último demônio • Armyotaku (Concluída)
FanficE se Muichiro Tokito tivesse um destino diferente, o que aconteceria se ele passasse de caçador para oni na luta que deveria levá-lo a morte? Tornando-se assim o último demônio.