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23/09 ☆ 12:00
Point of view: Pedro

Acordei um pouco assustado ao ver que o Carlos não estava do meu lado. Tomei um banho demorado para ver se aliviava esse aperto do caralho no peito. Porque a ansiedade atacou tanto agora, mano?
Tomo um calmante e vou até o Bruno perguntar onde está o Doa e vejo ele no telefone com a Maria abraçada nele chorando muito.

-O que houve, gente?

Maria: O CAÍQUE, PEDRO.

-O QUE HOUVE, PORRA? O QUE TEVE COM O CAÍQUE, BRUNO?

Tomei o telefone e senti uma mão no meu ombro. Empurrei seja lá quem era.

-ONDE ELE ESTÁ? NÃO IMPORTA SE PODE OU NÃO, ONDE ELE ESTÁ?

Vou atrás da chave do carro e não estava no lugar de sempre. Olho pro Bruno.

Bruno: Você não pode dirigir assim, Pedro. Senta e espera.

-Me devolve as chaves. ME DEVOLVE A PORRA DA CHAVE, BRUNO.

Vou pra cima dele, mas três pessoas me seguram. Empurro todas e corro sem parar na direção no endereço. Eu não consigo chorar, nem enxergar nada direito, talvez pela chuva, ou pela dor. Sinto uma dor insuportável no peito, como se eu tivesse tomado um tiro, mas continuo correndo até ver a porta do Pronto Socorro e corro até o balcão.

-Moça, Carlos Henrique. Onde está ele?

-Quarto 15, mas não pode receber visitas agora, senhor.

Corro até o quarto empurrando os seguranças que tentavam me segurar e entrei no quarto. Quando eu vi ele cheio de bagulho no corpo todo e um curativo no peito, me senti sem chão. Era como se eu fosse desmaiar.

-Carlos, Caíque. Eu tô aqui. Volta pra cá, acorda. Eu te amo tanto. Com toda minha alma.

Vejo os olhos dele abrirem e um leve sorriso de formar nos seus lábios mesmo com a dificuldade perante o tubo entre a boca.

-Eu te amo. Estou aqui, forte. Você vai sair daí. -Rapidamente tiro a lágrima que ameaçava sair do meu olho.

Doa: Eu te amo, estarei sempre em você, Pedro. -Era quase inaudível

-Não, não. Você vai sair daí, eu acredito, eu sei. Vou pagar tudo e vão te tirar daí. Você é forte -Pego sua mão e seguro firme

Seus olhos fecham levemente e a máquina começa a apitar mais rápido.

Doa: Te amo.

-Carlos, Carlos acorda, amor. Acorda, pelo amor de Deus. -Não consigo segurar as lágrimas e aparece uma linha reta na máquina com um barulho contínuo e fino. Não. Não. Não.

Corro para fora da sala.

-ALGUÉM AJUDA AQUI, POR FAVOR. ELE DORMIU. PELO AMOR DE DEUS. -O choro me tomou e eu não era capaz de falar. Eu via todo mundo entrar na sala as pressas e tentar reanimá-lo. Só conseguia lembrar das nossas risadas, da gente escolhendo nossa casa, do primeiro beijo, dos "te amo" e uma mulher sai do quarto com uma feição transparente.

-Ele não sobreviveu, senhor...

Ela explicava o motivo, mas eu não era capaz de assimilar nada que ouvi. Vi o Bruno e as outras pessoas que estavam na casa se aproximar e tocar meu ombro. Eu não conseguia respirar direito. Saí dali e peguei um táxi até minha casa. Deitei na cama dele e chamei por ele. Eu gritava alto na esperança dele aparecer, de ser mentira. A dor no meu peito se instalou de forma intensa.
Me encolhi no chão e gritei.

-CAÍQUE, VOLTA PRA MIM. Eu não consigo aguentar sem você. -Me arrasto pelo chão e toco nas roupas, na cama e no móveis em busca de algum conforto nele, mas isso não é possível.
Não teria mais seu toque, sua voz. Carlos morreu.

01/10 ☆ 10:49

Eu não via mais cor em nada. Tinham 8 dias que eu só ficava ali, deitado em seu quarto. Tentaram conversar comigo e minha família veio aqui me ver e ir ao enterro dele, eu não fui. Não consigo andar ou falar. Estou fedendo e sujo de fezes e urina. Há uma poça de lágrimas abaixo da minha cabeça. 
Agora me deram banho e limparam o quarto, escrevi um garrancho pedindo para avisar as pessoas que não iria mais gravar vídeos ou lives.
Não tem mais Orochinho, apenas o Pedro, sem cor e sem alma, com a dor imensurável no peito que insistia em continuar. Meu olhos estavam inchados como uma reação alérgica, porque não parei de chorar em nenhum segundo.
Eu perdi tudo. Não tem mais Manikomio, meu canal, nada tem significado.

25/10 ☆ 01:38
Point of view: Pedro

Consegui levantar pela primeira vez e me olhei no espelho. Eu estava totalmente fudido, não dormia a dias.
Olhei ao meu redor, abri o guarda roupa dele e peguei uma roupa, cheirei e coloquei na direção do meu peito. Ainda não tinha forças e aquela dor insuportável não chegou nem a diminuir. Era como uma maldição.
Ao pisar fora do quarto dele, já senti um aperto enorme, minha cabeça estava pesadíssima, eu era um peso.
Todos estavam dormindo, então decidi ir ao túmulo dele.

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escrevi chorando, nao ironicamente. terá mais um ainda hein
dá u laiqui námorau pacera(e,i,o,u)

Brothers. -Doazin e OrochinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora