13. DA FEITIÇARIA À BRUXARIA

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A transformação gradual da feitiçaria em bruxaria pode ser observada nas crenças populares tal como se expressaram em algumas histórias dos séculos XII e XIII.

William de Newburgh narra uma história sobre o reinado de
Henrique I.

Um camponês estava passando sozinho, certa noite, por um antigo cemitério.

Olhando à sua volta, notou a existência de uma porta no flanco de um cômoro sepulcral e decidiu entrar.

Era uma caverna brilhantemente
iluminada com archotes, onde homens e mulheres estavam sentados num banquete solene.

Um deles levantou-se, convidou o camponês a se juntar a eles
e ofereceu-lhe uma taça.

O camponês fingiu beber, mas, em vez disso, despejou o líquido às escondidas e depois escondeu a taça debaixo de sua jaqueta.

Ao voltar para casa, viu que a taça era de um material de altíssimo valor e com belos desenhos, pelo que resolveu levá-la ao rei Henrique, que lhe deu uma recompensa por isso.

A atmosfera dessa história ainda está muito ligada ao folclore: nela ainda figuram personagens de um mundo encantado, típico dos
contos populares de fadas, e não bruxas.

Entretanto, o banquete atribuído às fadas está bastante próximo daquele atribuído aos hereges, para encorajar a assimilação.

William de Malmesbury, um dos principais historiadores do século XII, conta a história da "bruxa de Berkeley", por volta de 1142.

Apesar do seu nome tradicional, a mulher de Berkeley ainda era mais uma feiticeira do que uma bruxa.

Uma mulher que vivia em Berkeley era praticante de feitiçaria e antigas adivinhações.

Era uma glutona e entregava-se a desenfreadas orgias, pois ainda não era uma mulher idosa.

Certo dia, enquanto ela estava se banqueteando, uma gralha, uma de suas favoritas, causou grande comoção.

Quando ela ouviu o tagarelar do pássaro, caiu-lhe a faca da mão, empalideceu e murmurou: "Hoje o meu arado chegou ao final do seu rego; hoje ouvirei terríveis notícias".

[Ela recebeu mais tarde a
notícia da morte de seu filho e da família dele.

Desencorajada, ela voltou o rosto para a parede a fim de morrer.

Convocando seus outros filhos para junto dela, contou-lhes então que perdera sua
alma por praticar artes diabólicas e implorou-lhes que a ajudassem.]

"Embora não possam anular a
sentença que condenou minha alma, talvez possam salvar o meu corpo.

Costurem o meu cadáver na pele de um porco capado e coloquem-no deitado de costas num esquife de pedra; fechem a
tampa com chumbo e ferro e coloquem em cima dela uma pedra cercada três vezes com uma pesada corrente; e sejam entoados salmos e celebradas missas durante 50 dias."

[Os filhos empenharam-se em satisfazer os últimos desejos de sua falecida mãe, mas]
tão pesadas eram as culpas da mulher, e tão terrível a violência do Diabo, que o trabalho e as orações foram em vão.

Nas duas primeiras noites, enquanto o coro de sacerdotes entoava salmos em redor do corpo, um bando de demônios rebentou a fechadura e arrombou a porta da igreja.

Na terceira noite, já perto do alvorecer, todo o mosteiro foi sacudido pelo estrépito do inimigo que se aproximava.

Um demônio, mais alto e mais terrível do que os outros, estilhaçou o portão de um só golpe.

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