BRUXARIA E MULHERES

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A correlação social estabelecida entre bruxaria e mulheres é das mais acentuadas.

Durante todo o período de caça às bruxas, o número de mulheres
acusadas foi, aproximadamente, o dobro do de homens.

Houve variações notempo e na geografia: no sudoeste da Alemanha, por exemplo, depois de 1620 aumentou o número de homens acusados, e a partir de 1627 crianças foram denunciadas com alguma frequência.

Mas essas ocorrências significam apenas que o predomínio feminino era um pouco mais discreto do que em épocas anteriores.

O certo é que as mulheres dominaram a bruxaria em todos os
períodos e em todas as regiões.

O estereótipo da bruxa é ainda tão poderoso que a maioria das pessoas se surpreende ao saber que existem bruxos, ou então supõe que a contraparte masculina da bruxa é o “feiticeiro”.

Goya, Osabá,c.1794-5. Bruxas eram invariavelmente associadas ao sexo feminino, e a visão de Goya da cabra-Demônio entre suas
adoradoras não é exceção.

Qual é a razão desse sexismo, desse chauvinismo ou, mais exatamente, dessa misoginia?

Midelfort observou que o século XVI mostrou uma tendência excepcionalmente misógina, possivelmente porque as mudanças demográficas produziram um número incomum de mulheres que viviam sozinhas.

Os casamentos ocorriam em idades mais maduras, e uma proporção maior de pessoas nunca chegou a casar.

A Reforma ocasionou a extinção de conventos, e mesmo em regiões católicas o número de mulheres em mosteiros declinou.

Se, como calcula Midelfort, cerca de 20% da população feminina nunca casou, e entre 10% e 20% era representada por viúvas, algo em torno de 40% de mulheres devem ter vivido sem proteção legal e social de maridos.

Muitas solteiras e viúvas encontraram um lar com irmãos, filhos ou outros parentes, mas a
proporção de mulheres solteiras e solitárias parece ter aumentado.

Tais pessoas, isoladas, infelizes, empobrecidas e rabugentas, eram alvo fácil para as acusações de bruxaria.

Esses problemas, possivelmente maiores no século XVI, existiram durante todo o período da caça às bruxas.

As mulheres que viviam sem o apoio da família patriarcal, especialmente de pai ou marido, tinham pouca influência e quase nenhuma proteção legal e social que garantissem reparação para eventuais injustiças que viessem a sofrer.

Tinham de se resguardar como podiam.

Visto que estavam alijadas dos
mecanismos formais vigentes, elas tinham de recorrer a estratégias típicas de grupos socialmente marginalizados.

Os incêndios premeditados, por exemplo, eram frequentemente atribuídos a mulheres de idade, dado ser um crime passível de ser perpetrado clandestinamente e sem o uso de força física.

Numa sociedade que levava a magia a sério, pragas e feitiços formavam outra categoria óbvia de reação.

Uma vez associado esse gênero de crime à mulher solitária, ninguém ficaria livre de suspeita nessa condição.

Um semblante zangado poderia ser interpretado como um olhar maléfico; uma imprecação furiosa, como uma praga; um resmungo, como uma invocação de poderes
diabólicos.

Os anciãos também corriam esse risco, mas as viúvas sempre excederam amplamente em número os viúvos.

É sabido que as mulheres tendem a viver mais tempo que os homens, e assim ocorria também nessa
época, desde que conseguissem sobreviver ao parto.

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