O AUGE DA CAÇA ÀS BRUXAS

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O auge da caça às bruxas ocorreu entre 1560 e 1660, e sua causa mais
importante foram as tensões crescentes entre católicos e protestantes, culminando nas guerras de religião.

A perseguição foi mais severa nas áreas onde esses conflitos vinculavam-se a fortes antagonismos sociais; onde calamidades como a peste, a fome e as intempéries climáticas agravavam as tensões sociais; e onde uma longa tradição de julgamentos por heresia havia
criado as bases para a repressão judicial da bruxaria, como na França.

Os processos eclesiásticos e seculares instaurados contra a bruxaria recrudesceram em número e severidade ao longo desses anos, sobretudo nas regiões católicas
da Europa.

Depois de 1580, os mais meticulosos e incansáveis jesuítas substituíram os dominicanos como principais caçadores de bruxas da Igreja, e o
católico Rodolfo II (1576-1612) presidiu uma longa e cruel perseguição na Áustria.

Continuaram ocorrendo variações geográficas nos julgamentos.

William Monter mostrou que o pânico gerado pela bruxaria não foi tão intenso nas regiões dominadas pelas montanhas do Jura quanto no sul da Alemanha, eque no Jura muitos suspeitos detidos não foram condenados.

Ali a tortura era imposta unicamente dentro dos limites precisos do Código Carolino de 1352, explica Monter, sendo prestada pouca atenção às acusações e confissões feitas
por crianças; quanto aos maleficia específicos, tinham de ser aberta e
publicamente denunciados contra um suspeito antes que este fosse
detido.

Essas restrições legais conseguiram conter a obsessão persecutória em
regiões como a do Jura, mas nas áreas onde tais limitações eram ignoradas,qualquer pessoa podia ser acusada.

Rossell Hope Robbins apontou que o principal motivo subjacente nas
perseguições era o desejo de apropriação dos bens dos condenados.

Se assim fosse, deveríamos esperar que uma porcentagem relativamente elevada de pessoas ricas e poderosas fosse encontrada entre os sentenciados, assim como um número bastante significativo de decretos de confisco de propriedades.

Mas, de fato, não encontramos uma coisa nem outra.

A quantidade de confiscos
foi relativamente pequena, e um número desproporcionalmente grande de acusados correspondia a pessoas de parcos recursos materiais.

De modo geral, somente em regiões onde a perseguição estava totalmente fora de controle é
que pessoas de fortuna foram sentenciadas.

Uma das exceções foi Dietrich
Flade, condenado à fogueira por bruxaria na cidade de Trier, em 1589.

Flade era juiz secular, homem de família proeminente e muito bem
relacionado, o que lhe valeu a nomeação como reitor da Universidade de Trier.

Por algum tempo, ele próprio fora responsável pela instauração de processos contra bruxas.

Nessa função, Flade revelara-se judicioso e comedido, exigindo
cuidadosa apresentação de provas.

Tal moderação era ferozmente combatida pelo bispo sufragâneo Peter Binsfeld e pelo governador Johann Zandt, que tivera experiência como caçador de bruxas na região rural em torno de Trier.

Os esforços de Binsfield e Zandt em prol de uma ação mais implacável contra a bruxaria encontraram ressonância popular depois de 1580, quando condições climáticas adversas, pragas de ratos e gafanhotos e saqueadores de ambos os credos religiosos deixaram a população assustada e angustiada.

Os tempos então eram bem difíceis, e as bruxas deviam ser as responsáveis.

O empenho de Flade para manter a perseguição maníaca sob controle levou seus inimigos a arquitetarem um plano para eliminá-lo.

Fizeram com que um rapaz acusasse Flade de tramar o envenenamento do arcebispo; persuadiram uma velhota que estava prestes a ser executada por bruxaria a apontar Flade como bruxo, a fim de obter a graça do estrangulamento antes de subir à fogueira; e seguiram-se
outras acusações até que em 15 de abril de 1588 uma mulher jurou ter visto Flade num sabá, que tinha ele causado a destruição de searas pelo granizo, lesmas e caracóis, e que fora ele quem persuadira outras bruxas presentes a comerem o coração de uma criança.

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