BRUXARIA NA GRÃ-BRETANHA E NAS COLÔNIAS INGLESAS DA AMÉRICA DO NORTE

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BRUXARIA NAS ILHAS BRITÂNICAS

A bruxaria nas Ilhas Britânicas diferiu substancialmente da bruxaria continental.

No continente europeu, a heresia, a lei, a teologia e a Inquisição transformaram as antigas tradições da bruxaria num culto a Satã.

Mas na Inglaterra não havia Inquisição nem direito romano, e apenas uma fraca tradição de heresia.

A mais importante dissidência medieval na Inglaterra, a
dos lolardos, era uma heresia moderada (substancialmente influenciada pelos ensinamentos de John Wycliffe) com poucas ligações continentais, e que nunca esteve associada à bruxaria.

A bruxaria inglesa permaneceu mais próxima da feitiçaria, embora com ênfase muito maior nos poderes negativos da bruxa para enfeitiçar e rogar pragas.

Casos políticos de grande repercussão, como o da
duquesa de Gloucester, acusada em 1441 de tramar a morte de Henrique VI por bruxaria, favoreceram o recrudescimento dessa falsa crença, mas, durante a Idade Média, as Ilhas Britânicas estiveram quase livres dos conceitos de bruxaria e de culto ao diabo.

A mais importante exceção medieval a essa regra é incomum em quase todos os aspectos.

Trata-se do caso da sra. Alice Kyteler, mulher nobre que vivia em
Kilkenny, na Irlanda.

O caso apresenta indícios de elementos da tradição popular irlandesa mesclados a aspectos mais usuais de bruxaria e feitiçaria.

Alice era uma mulher muito rica que tivera quatro maridos e enfurecera seus filhos mais velhos ao deixar em herança todos os seus bens ao filho caçula.

Em 1324, os filhos mais velhos denunciaram a mãe e os companheiros dela perante o
bispo, que a condenou como herética e bruxa.

A apresentação da acusação de
heresia é incongruente com a Irlanda do século XIV, e a lista de acusações formuladas contra Dame Alice é uma estranha mistura de ideias inglesas,continentais e irlandesas.

A explicação mais provável para tal procedimento é a de que, por motivos venais e políticos, o bispo Richard Ledrede – que vivera em
Londres e conhecera alguma coisa sobre a tradição continental – reunira uma miscelânea de acusações a fim de agradar aos filhos de Alice.

Uma bruxa com seus familiares.

Reproduzido de Adiscourse of witchcraft,1621.

O familiar é um demônio que acompanha e presta serviços à
bruxa.

Essas entidades adotavam com frequência a forma de animais, especialmente gatos pretos e cães.
De acordo com o relato do julgamento, Dame Alice tinha renunciado a Cristo e à Igreja na intenção de obter poderes mágicos; e tinha sacrificado animais a
demônios, especialmente a um seu familiar, um demônio subalterno chamado Robert ou Robin Artisson. Um dos primeiros entes identificados como familiar na bruxaria, Robin era provavelmente a versão de um espírito popular irlandês ao qual o bispo Ledrede vinculou atributos até então conferidos aos demônios
continentais.

Robin aparecia como um gato, um cão peludo ou um homemnegro; como homem negro, era acompanhado por dois camaradas mais altos, um dos quais tinha nas mãos um bastão de ferro.

Esses demônios ensinaram as
artes da bruxaria à Lady Alice que, sob a instrução deles, aprendeu a fazer unguentos nauseabundos e outras cozeduras.

Também deu tudo o que possuía
aos demônios (é nítida a mão nada sutil dos filhos mais velhos de Alice nessa acusação), e eles devolveram-lhe incontinente todos os bens para seu uso enquanto vivesse.

Robin era o demônio amante de Alice; à noite, ela reunia seus
cúmplices à luz de velas e, depois de apagá-las, aos gritos de “Fi, fi, fi, amém”, caíam todos numa orgia sexual.

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