A execução de dos cátaros:Auto de fé, por Pedro Berruguete.
O catarismo enfatizou o poder do Diabo no mundo e preparou o terreno para a associação entre heresia e bruxaria no imaginário popular.
Os cátaros deram grande ênfase à influência demoníaca sobre a teologia ortodoxa, de modo que o Diabo desempenharia um papel muito mais expressivo no pensamento medieval do período tardio do que o tivera na Alta Idade Média.
O medo dos poderes do Diabo foi um dos principais ingredientes da caça às bruxas.
Mas o Diabo cátaro exerceu também uma curiosa influência,
de outra espécie: os cátaros ressaltaram o poder do Diabo não para servi-lo, mas para combatê-lo.Entretanto, essa insistência em defender seu poder como
Senhor deste Mundo engendrava a semente de uma curiosa e errônea interpretação:se o Diabo tem realmente poderes quase iguais aos do Senhor Deus, e se o verdadeiro Deus da luz está distante e escondido; se o Diabo
preside à distribuição de benesses materiais como fortuna, fama, sexo e outras delícias terrenas, alguns poderiam ser tentados a preferir o culto à deidade que
lhes dava acesso a semelhantes prazeres.Esse tipo de pensamento, distorcido tanto do ponto de vista cátaro quanto do católico, pode ter surgido a partir de uma zelosa, porém equivocada, compreensão da doutrina cátara.
A evidência de que isso ocorreu provém da Itália do século XIV, onde os heréticos acreditavam ter sido o mundo material criado pelo Diabo.
E na qualidade de criador do mundo, era Ele mais poderoso do que Deus, e deveria, portanto, ser cultuado em seu lugar.
O pronunciado dualismo dos cátaros também os deixou vulneráveis às mesmas acusações de canibalismo, infanticídio e orgia que já tinham sido formuladas contra os hereges (bem menos dualistas) de Orleans.
Embora os cátaros, como um todo, fossem completamente inocentes de tais acusações, é
possível que alguns possam ter sido culpados.Está provado que alguns
gnósticos dos séculos II e III (os barbelognósticos, por exemplo) entregaram-se
a tais práticas.A união do ascético com o licencioso, da repugnância pela matéria com a sensualidade, é um tema vigoroso no gnosticismo dualístico, que desenvolveu pelo menos cinco razões doutrinais para negar, entre outras, a moralidade sexual: a carne deve servir à carne antes de poder ser dominada;
o corpo, sendo perverso, deve ser degradado por práticas obscenas; uma vez imbuído do Espírito Santo, o indivíduo não pode pecar, e as leis deste mundo não se lhe aplicam; aqueles que não receberam o Espírito podem pecar sempre que lhes aprouver, porquanto, de qualquer modo, nada os poderá salvar; as verdadeiras liberdade e vida no Espírito requerem a destruição da lei.Esses argumentos gnósticos eram todos válidos para os cátaros medievais.
O osculum infame, ou o "beijo obsceno", uma saudação ritual no traseiro do Diabo, era uma acusação típica nos julgamentos por bruxaria.
Se alguns gnósticos praticaram a libertinagem, a sua grande maioria não o fez; e as provas de que os cátaros a cometiam são todas tendenciosas e
suspeitas.As doutrinas e práticas professadas pelos cátaros eram passíveis de tais interpretações antinômicas, mas nada evidencia que a libertinagem fosse realmente um problema sério para eles.
O que está claro, porém, é que o pensamento ortodoxo cogitou o assunto e supôs que tais práticas ocorriam em grande escala.
Uma vez mais, o que as pessoas acreditavam acontecer era mais
importante do que o que realmente acontecia, e a crença generalizada na
libertinagem dos heréticos ajudou a dar forma à caça às bruxas.

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História da Bruxaria
Non-Fiction(EM REVISÃO ORTOGRÁFICA) ATENÇÃO! ESSE LIVRO NÃO FOI ESCRITO POR MIM o nome da escritor(a) é Jeffrey B. Russell aceito críticas construtivas! qualquer discurso de ódio ou ofensa a minorias serão excluído e o usuário será bloqueado! boa leitura ♥︎ at...