2. A FEITIÇARIA NO MUNDO

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São essas as características gerais da feitiçaria.

Seus detalhes variam de
sociedade para sociedade.

Uma das primeiras investigações antropológicas minuciosas da feitiçaria foi empreendida por Evans-Pritchard, que estudou os azande do Sudão meridional.

Os azande distinguiam três variedades de magia.

A primeira era a magia boa, benevolente, a qual incluía a consulta de oráculos e adivinhos, o uso de amuletos para proteção contra feitiços, ritos para obter a fertilidade das colheitas, e até bagbuduma, a magia homicida, desde que limitada à vingança por alguém a quem mataram um parente.

A boa magia era usada para se fazer justiça, tal como era entendida pela sociedade azande, e bagbuduma tornava-se ineficaz quando empregada para fins injustos.

A feitiçaria, por outro lado, era injusta.

Feitiçaria era o uso da magia, em especial a magia que usa objetos materiais, para infligir danos àqueles a quem se odiava sem razões justas.

A feitiçaria era uma forma de agressão injusta decorrente de ciúme, inveja, cobiça, avidez ou outros desejos humanos desprezíveis.

A feitiçaria utilizava a magia numa forma antissocial e era condenada pela sociedade azande.

Evans-Pritchard chamou "bruxaria" à terceira variedade de magia.

Essa "bruxaria" era um poder interior herdado por um homem de seu pai e por uma mulher de sua mãe.

A origem desse poder, ou
mangu, existia fisicamente dentro do estômago do "bruxo" ou da "bruxa", ou estava preso ao seu fígado como um inchaço oval e escuro no qual poderiam ser encontrados vários objetos pequenos, ou então como uma bola redonda e peluda com dentes.

Os bruxos [ou, mais apropriadamente,os feiticeiros] azande celebravam reuniões em que se banqueteavam e praticavam juntos a magia maléfica.

Faziam um unguento especial que esfregavam na pele a fim de se tornarem invisíveis.

Vagavam de noite ou em espírito ou em seus próprios corpos.

Com frequência, supunha-se que o bruxo ficava de noite deitado na cama com sua esposa, ao passo que seu espírito se soltava e ia juntar-se ao de outros bruxos para comerem as almas das vítimas.

Por vezes, os bruxos atacavam a vítima fisicamente, arrancando-lhe pedaços de carne para devorá-los em suas reuniões secretas.

Quem quer que tivesse uma doença demorada e debilitante era suscetível de ser a vítima do bruxo.

Os gatos dos bruxos tinham relações sexuais com mulheres.

Os poderes dos bruxos azande eram enormes:Se uma praga ataca a colheita de amendoim, foi bruxaria;se o mato é batido em vão em busca de caça, foi bruxaria;se as mulheres esvaziam laboriosamente a água de um poço e conseguem
apenas uns míseros peixinhos,foi bruxaria;[...] se uma pessoa está mal-humorada e trata seu
marido com indiferença, foi bruxaria;se um príncipe se mostra frio e distante com seu súdito, foi bruxaria;se um rito mágico não teve êxito, foi bruxaria;de fato, se um insucesso ou infortúnio qualquer se abater sobre qualquer pessoa, a qualquer hora e em relação a qualquer das múltiplas atividades de sua vida, pode ser atribuído à bruxaria.

Os azande empregaram adivinhos e xamãs para protegê-los dos bruxos e
curá-los dos efeitos de bruxarias.

Os bechuana de Botsuana distinguem entre os feiticeiros diurnos, que praticam a feitiçaria de forma irregular e apenas em ocasiões específicas, usualmente contra pagamento, e os mais aterradores bruxos noturnos, que se fazem acompanhar de seus familiares na forma de animais (usualmente corujas).

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