BRUXARIA E SOCIEDADE

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A história da bruxaria é a investigação de um conceito; é também uma tentativa para entender as condições e interações sociais que encorajaram o desenvolvimento desse conceito.

Nas últimas décadas, a maioria dos
historiadores enfatizou a história social da bruxaria, uma vertente que tem virtudes e limitações.

A principal virtude é o reconhecimento de que as ideias
não se desenvolvem em um vácuo, e que as relações sociais contribuem muito para modelar as percepções da realidade.

A segunda é a meticulosidade.

Macfarlane, Boyer e Nissenbaum, Midelfort e Monter concentraram-se em estreitos segmentos de espaço e tempo, e examinaram esses microcosmos da maneira mais refinada que os dados permitiam.

As principais limitações dessa
abordagem residem nos fatos de ela ter se mostrado propensa ao dogmatismo, bloqueando ou repelindo outras abordagens, e, em sua busca pelos mecanismos
sociais, ter desprezado o mais amplo significado ético, intelectual e espiritual da bruxaria.

Uma observação perspicaz dos historiadores sociais é que a bruxaria ou as crenças em bruxas desempenharam um papel social.

Por vezes, a função era consciente e cínica, como quando Henrique VIII acusou Ana Bolena de prática
de bruxaria para seduzi-lo; ou quando os inquisidores tramaram a prisão de homens ricos e lhes confiscaram os bens.

Mais frequentemente, porém, essa
função se relacionava com a necessidade inconsciente de acusar e responsabilizar alguém pelos infortúnios da vida cotidiana.

Se um indivíduo é impotente, por exemplo, é menos embaraçoso e melhor para sua autoimagem se puder culpar um feiticeiro.

Se lhe morre uma vaca, ou se cai doente com disenteria, é mais prudente incriminar uma bruxa do que imprecar contra Deus.

A bruxaria transforma culpa em desgraça partindo de uma força abstrata e inescrutável para uma força identificável, punível e individualizada.

Se Deus, ou o destino, causou alguma doença a alguém, não há meios para revidar; mas se a responsável for uma bruxa, poder-se-á rechaçá-la ou neutralizar-lhe o poder.

Se for possível prendê-la, julgá-la e executá-la, o poder dela malogrará e
o indivíduo terá sua boa fortuna restabelecida.

Essa crença ajuda a explicar o grande número de execuções; matar a bruxa é a única maneira de garantir que ela não volte para armar sua vingança mágica.

Tal como na África uma pessoa
pode ser genuinamente ajudada por um curandeiro, as provas europeias
também sugerem que os julgamentos de bruxas tinham um autêntico efeito terapêutico sobre as supostas vítimas.

Bruxos oferecem uma criança ao Diabo.

Mais suscetíveis a doenças e a medosirracionais do que os adultos, e menossensíveis à dor que as
acusações poderiam causar, as crianças eram frequentemente as catalisadoras das acusações de bruxaria.

Outra função importante da bruxaria era a mesma que a da heresia:definir as fronteiras do cristianismo e obter a coesão da comunidade cristã frente a um aterrador e poderoso exército de inimigos sob o comando supremo do próprio Satã.

Os historiadores sociais investigaram as correlações entre bruxaria e outros fenômenos sociais.

Apesar das caricaturas que descrevem a bruxa como uma
megera velha e feia, a aparência física não era um consenso para acusações de bruxaria.

Os traços mais decisivos, suscetíveis de acarretar acusações de bruxaria, eram mendigar, resmungar, praguejar e altercar.

As bruxas eram de todas as idades, embora em Essex a faixa etária mais comum fosse a dos 50 aos 60 anos, possivelmente por supor-se que a idade eleva a sabedoria mágica.

Embora as crianças fossem frequentemente possuídas, raras vezes eram acusadas de bruxaria.

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