DESCREVENDO A BRUXARIA MODERNA

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Não importa como a visão de Gardner sobre bruxaria tenha sido estabelecida,o movimento que surgiu a partir dela começou a crescer e a se modificar de maneira quase imediata.

Os bruxos de hoje podem rememorar mais de meio século de evolução e inovação; tendo aceitado o princípio da invenção criativa como parte da sua religião, acreditam que sua habilidade de “improvisar à medida que se avança” é uma das principais forças de sua comunidade.

Por causa dessa permanente autotransformação, a bruxaria moderna é difícil de definir.

Mas há ainda uma outra razão devido à qual os leigos acham difícil caracterizá-la com precisão.

A bruxaria é individualista a ponto de se tornar anárquica, sem possuir qualquer autoridade centralizada ou sequer uma definição comum do que é uma “bruxa”.

Após debater demoradamente essa questão, um dos principais grupos de
bruxaria dos Estados Unidos (o COG – Covenant of the Goddess) decidiu que simplesmente não podia definir o termo.

Em sua declaração de 1975, os
organizadores do COG disseram: Não pudemos definir o que é uma Bruxa em simples palavras.

Isto porque existem inúmeras
diferenças.

Nossa realidade é intuitiva.

Simplesmente sentimos quando encontramos alguém que adora da mesma forma que nós, que segue a mesma religião.

Esta é nossa realidade e isto tem de ser compreendido de algum modo, com relação a tudo o que fazemos.

Assim, a identidade religiosa das bruxas deve ser sentida em vez de ser especificada – uma abordagem que (é desnecessário dizer) acomoda uma grande variedade de formas de crença e de prática.

Sob essas circunstâncias, é
obviamente difícil falar em termos gerais e dizer que os “bruxos” acreditam nisso ou naquilo, ou que “eles” fazem tal ou tal coisa ao praticarem sua religião.

Qualquer declaração ao longo destas linhas deverá ser exposta com ressalvas,
com um aviso de que esta fórmula está eivada de exceções.

Contudo, se conservarmos essas ressalvas em mente, é possível discernir uma atitude religiosa – mesmo que não exista uma ideologia religiosa totalmente desenvolvida – por trás das nuanças que se observam na bruxaria moderna.

Há alguns pontos comuns inconfundíveis que unem o movimento e que enlaçam todos aqueles que fazem parte dele.

Os traços comuns da atual bruxaria encontram-se menos nos detalhes das crenças e rituais do que em um sentido de concordância em relação à atitude,ao ponto de vista e à perspectiva.

A atitude religiosa da bruxaria começa com distinção e oposição; a bruxaria se afirma (conforme expressam os sociólogos) “escorada no cenário rejeitado” da cultura dominante.

Sua identidade é proclamada em termos de suas diferenças da e de sua oposição à cultura e à(s) religião(ões) fundada(s) no cristianismo ocidental.

De fato, boa parte da força
motriz por trás do crescimento da bruxaria moderna está nesse senso vital de “resistência contra” os poderes vigentes na cultura contemporânea.

A excitação contagiante da insurreição cultural é o substituto funcional da bruxaria moderna para o zelo missionário.

Margot Adler descreve a atitude religiosa da bruxaria em quatro pontos principais (um dos quais repudia explicitamente uma doutrina cardeal do cristianismo).

Esses pontos podem ser expostos de forma resumida como (1) animismo/politeísmo/panteísmo; (2) feminismo; (3) “não existe nada que possa
ser chamado de pecado” (a fórmula da autora); (4) reciprocidade espiritual (isto é, a ideia de que você recebe de volta tudo quanto fizer aos outros).

Os quatro pontos são facetas da “identidade opositiva” da bruxaria, que recusa cada
aspecto da atitude religiosa dominante (cristã) e, particularmente, seu monoteísmo e sua transcendência.

A perspectiva da bruxaria encara o divino não somente como múltiplo, mas também como imanente e, portanto, acessível – tanto para a iluminação como para o desenvolvimento de poderes ocultos.

A óptica da bruxaria é centrada no feminino e orientada para a deusa, alicerçada na Terra e sensível ao meio ambiente.

A bruxaria repudia fortemente o conceito do pecado.

Por fim, a postura da bruxaria rejeita fundamentalmente a ideia de
que somos responsáveis por nosso comportamento perante uma autoridade moral superior e padrões morais revelados.

Em vez disso, consistente com seu panteísmo, a bruxaria acredita que o comportamento ético surge naturalmente,por meio do funcionamento da “reciprocidade espiritual”.

Com efeito, a bruxaria defende uma ética dominada pela vontade própria, moderada pelo autocomedimento reforçado pelo medo das consequências “recíprocas” de
nossos atos.

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