O CRESCIMENTO DA CAÇA ÀS BRUXAS

9 1 0
                                    


Foi no começo do século XIV que se observou, pela primeira vez, o uso
perverso das acusações de bruxaria para fins políticos.

Nesse primeiro estágio da perseguição, os acusados eram frequentemente clérigos ou outras pessoas letradas, capazes de ler e escrever magia.

(No fim do século XIV, as acusações se ampliariam, com vistas a atingir pessoas comuns.)
O papa Bonifácio VIII (1294-1303)
foi postumamente julgado por seus inimigos por apostasia, homicídio e
sodomia.

Alegou-se que ele havia firmado um pacto com o Diabo paraprecipitar a ruína do povo cristão.

Papas já haviam sido destronados e acusados de crimes antes, mas a acusação de demonolatria era novidade.

Filipe IV da França acusou o bispo Guichard de Troyes de render preito de vassalagem ao Diabo.

No reinado de Eduardo I da Inglaterra (1272-1307), acusações de maleficia foram endereçadas contra Walter, bispo de Lichfield e Coventry.

Entre 1317 e1319, o papa João XXII, obcecado pelo medo da bruxaria, acusou um médico, um barbeiro e um frade de conspirarem contra a sua vida por meio de artes
mágicas; e promulgou a bula Super illius specula, autorizando especificamente a Inquisição a processar todos os feiticeiros, por quanto adoravam demônios e
tinham feito um “pacto com o inferno”.

O inquisidor Bernardo Gui afirmou que bruxaria,o pacto subentendia heresia, e como a Inquisição
tinha o dever de processar os hereges, também estava obrigada a processar as bruxas.

Mas foram os políticos, não os inquisidores, os responsáveis pelo
infame julgamento dos Templários em 1305-1314.

A Ordem do Templo havia sido fundada (por volta de 1118) com o objetivo de libertar a Terra Santa do domínio muçulmano, mas os cavaleiros templários tinham-se tornado extremamente ricos e corruptos, apresentando-se agora
como alvo tentador para os monarcas cujos gastos com a máquina governamental cresciam rapidamente.

O papa Clemente V, o rei Felipe IV (o Belo) da França e o rei Eduardo II da Inglaterra conseguiram a condenação dos templários por heresia, afirmando que eles invocavam o diabo, prestavam-lhe
vassalagem, veneração e serviço, e tinham um pacto com ele.

A fama e a repercussão do processo em toda a Europa disseminaram a crença na existência de uma religião organizada que rejeitava Cristo e cultuava Satã.

A execução de Jacques de Molay e de um companheiro, em 19 de março de 1313.

De Molay, grão-mestre da Ordem do Templo, e outros templários foram condenados à fogueira por Felipe o Belo, da França, sob acusações comparáveis à de bruxaria.

Em meados do século XIV observou-se uma trégua na caça às bruxas.*

Depois, já perto do fim do século, o número de acusações aumentou.

Muitos tribunais seculares adotaram procedimentos inquisitoriais, abolindo penas judiciais para acusadores que não conseguissem provar seus casos.

Os tribunais seculares, episcopais e inquisitoriais repartiram entre si a responsabilidade e o lucro advindos com as condenações por bruxaria durante todo o século XV.

Em 1398, a Universidade de Paris declarou os trabalhos dos maleficia uma heresia se realizados por meio de um pacto com o Diabo.

O pacto podia ser explícito ou
implícito.

Nenhum documento precisava ser assinado ou promessa oficial
apresentada: o simples ato de apelar para a intervenção de demônios constituía um pacto implícito que tornava o acusado passível de ser processado por heresia.

História da Bruxaria Onde histórias criam vida. Descubra agora