19. O Loirinho

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Han tinha passado a semana inteira em uma correria tão grande, perdido entre livros e artigos, que talvez tivesse diminuído a vida útil do próprio cérebro em uns trinta por cento. A sorte que finalmente a sexta-feira havia chegado e aqueles eram os últimos minutos de aula do dia. Precisava resolver algumas burocracias na secretaria da faculdade e depois correr para a clínica, mas queria falar com Kim antes de ir e por isso esperou que a sala estivesse vazia o suficiente para, por fim, aproximar-se do professor.

— Oi, Mini. Será que eu posso falar com você rapidinho? — Jisung perguntou um pouco sem jeito, ganhando uma olhada desconfiada de Seungmin.

— Já está falando, né? — deu um meio riso mudo, parando o que estava fazendo para sentar-se na beirada da mesa. — Manda.

Han pensou por dois segundos e teria tentado escolher as palavras certas, porém a própria afobação fez com que disparasse a primeira coisa que veio à cabeça.

— O que eu preciso fazer?

Mini torce os lábios uma cara engraçada. Aquela pergunta era meio ampla e perigosa, não? Poderia ter levado para o duplo sentido se não soubesse que o bochechudo era inocente demais para ver malícia nas coisas com facilidade.

— Pra mim, nada, obrigado— o peito chacoalhou com a risada e Kim cruzou os braços. — Seja mais específico, garoto.

— Pra ir com o Minho — usou a ponta do tênis para cutucar o pé da mesa. — O que eu preciso fazer pra conseguir ficar com ele lá pra onde ele vai?

O mais velho ficou olhando Jisung em choque, custando a acreditar que estava mesmo vendo aquilo com os próprios olhos. Alguém estava apaixonado por Lee Know àquele ponto. Era verídico, real e oficial. Justo por Minho, que nunca tinha sido um exemplo de doçura e dispensava qualquer demonstração de afeto vinda de um ser humano.

— Você quer saber como viver com ele na Inglaterra, é isso?

— Sim. O que dá pra eu fazer? Entrar em um programa de pesquisa igual ao de vocês?

Seungmin acabou desencostando-se da mesa e fez um gesto para Han, guiando-o consigo até a primeira fileira do auditório. Sentou-se ali e esperou que ele fizesse o mesmo, virando-se em sua direção.

— Você sequer tem interesse em seguir a vida acadêmica? — Mini perguntou, antes de mais nada.

— Não sei, nunca tinha pensado nisso, mas... — moveu os ombros.

Jisung estava claramente perdido, feito um lambari no deserto.

— Escuta, não é uma carreira fácil. Você tem que estar interessado de verdade, disposto a se dedicar. Não estou dizendo que você não tem capacidade pra isso, mas pelo pouco que te conheço, eu diria que seu tipo é mais aquele que gosta de colocar a mão na massa no dia a dia, e não de ficar atrás de uma pilha de livros, morando dentro de um laboratório.

— Eu não posso só fazer qualquer outra coisa lá? Trabalhar em um café, sei lá... — mirou as próprias mãos, que se enroscavam em um nervosismo contido.

— Você pode fazer o que quiser, Han. A questão é se ficaria feliz com isso. Lee não ia gostar de ver você preso em algo que não curte só pra ficar perto dele. Pensa que você gastou todos esses anos da sua vida pra se formar e que gosta muito do que faz, não me parece uma boa ideia a longo prazo jogar tudo pro alto de uma hora pra outra. Eventualmente, você vai se sentir frustrado e achar que algo está faltando. É meu palpite, pelo menos. Além disso, tem a questão do visto. Você não pode trabalhar e morar na Europa sem um visto. Uma empresa ou instituição precisa entrar com o requerimento pra você, é assim que funciona. Eles são um pé no saco com esse tipo de coisa.

Miau, passa no débito | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora