53. O pedido ao contrário

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O dia seguinte amanheceu alguns graus mais frio. Devido ao feriado, poucos estabelecimentos estavam abertos, o que fez com que o casal passasse o dia curtindo o calor do apartamento até a hora de sair para o teatro. O espetáculo era um dos únicos eventos grandes que acontecia no dia de Natal, por isso, nem mesmo a neve foi capaz de espantar as pessoas e evitar o pequeno alvoroço que se formou na entrada da casa de apresentações.

O lugar estava lotado e o show prometia ser imperdível, segundo a crítica. Jisung permaneceu animado e cheio de expectativa durante o caminho, mesmo ciente de que tinha comprado lugares em um setor um pouquinho distante do palco. Em um primeiro momento, aquilo não soava como um problema, contudo. Se vendiam aquelas poltronas pelo mesmo preço das demais, na teoria não podia ser tão ruim assim, não?

Bom...

Quando entraram na plateia, entendeu que "um pouquinho" era uma maneira realmente delicada de colocar as coisas. Na verdade, precisariam praticamente de um binóculo se quisessem enxergar os personagens com alguma nitidez, pois as cadeiras ficavam na ponta da penúltima fileira, tão longe que, se Simba fizesse as malas naquele instante, talvez conseguisse fazer o percurso em uns três dias, sendo bem otimista.

Para a sua tristeza, tudo só foi piorando após o início do espetáculo. Han não era míope e, mesmo assim, não estava conseguindo ver direito a girafa. Menos ainda enxergava o filhote de leão que estava sendo carregado de lá pra cá durante todo o primeiro ato. Aparentemente, seis meses de antecedência era pouco para garantir lugar no famigerado show. Mais um pouquinho e teriam sido colocados para assistir à peça do banheiro dos fundos, abraçados ao vaso sanitário. 

Aquele é o Simba ou é a Nala? — o mais novo perguntou ao namorado em um sussurro, contraindo os olhos ao máximo na tentativa de ver um pouco melhor. 

Os animais eram representados por pessoas fantasiadas, o cenário era lindo e colorido, cheio de detalhes incríveis, segundo o folheto, mas tudo parecia um grande borrão dali. Além de não enxergar bulhufas, Jisung estava muito ansioso e não conseguia parar de chacoalhar as pernas, viajando nos próprios pensamentos por minutos inteiros sem perceber, a ponto de perder boa parte das dramatizações coreografadas. 

Nenhum dos dois, aquele é o Pumba — Lee respondeu baixinho.

O Pumba?!

Bem, era oficial: não estava entendendo nada. Em que parte estavam? O espetáculo era diferente do filme?  Não lembrava do Pumba naquela cena e... arg. O universo só podia ter algo pessoal contra si. De certo, tinha um milhão de pecados das vidas passadas para quitar. Só queria fazer um programa decente de namoradinhos, era pedir demais? 

Tô brincando, gatinho, aquele é o Simba, sim — riu mudo, dando uma olhadela de esguelha. Lee estava apenas descontraindo, no entanto, a cara de perdido de Han chegou a ser comovente.  

Graças a Deus, achei que estava ficando maluco! — suspirou. Estava só distraído e não doido, ainda. Graças aos céus. Cruzou os braços e afundou-se na cadeira no instante seguinte, chateado. Caramba, tinha gastado a maior grana e lugar era tão ruim que mal conseguia distinguir um leão de um javali. 

Ei, não fica assim. Eu adoro não conseguir ver nada quando vou ao teatro, cria um suspense, é até interessante, sabe? — comentou em bom humor, passando o braço pelos ombros do outro. Minho realmente não ligava se o lugar não era lá aquelas coisas, estavam ali, juntinhos, curtindo o momento, e era isso o que importava. O resto era detalhe. — É esse o problema, mesmo? Você parece um pouco inquieto — apontou para a perna agitada, que parecia ter vida própria.

Não. Quer dizer, sim. Ai, não sei — murmurou aflito.

Vem cá, gatinho... — Minho tocou os fios escuros no topo da cabeça, incentivando que Jisung descansasse na lateral do próprio corpo. A mão se moveu em um carinho calmo, deixando que as pontas dos dedos enrolassem as mechinhas morenas em um pequeno cafuné. — Não quer me contar o que tá acontecendo?

Miau, passa no débito | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora