31. Puro azar

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Jisung subiu as escadas do conjunto de apartamentos lentamente, arrastando-se por cada degrau com as poucas migalhas de energia que ainda lhe restavam. Porra, que dia tenso e exaustivo. Além de ter que cumprir todas as suas obrigações acadêmicas pela manhã, o expediente no trabalho não fora nada fácil. Um cachorrinho ferido havia dado entrada na emergência após um acidente e além de entrar em uma longa cirurgia auxiliando o veterinário Choi, Han também teve de passar o restante da tarde em alerta, pois não tinham certeza se o pequeno vira-lata conseguiria sobreviver. 

Felizmente, ele havia resistido e já não estava mais em risco quando o universitário deixou a clínica.  

Apesar da boa notícia, o estado mental de Jisung se encontrava em frangalhos. Isso porque aquele tipo de situação o afetava profundamente. Por mais que fosse um profissional, ainda era um pouco difícil separar as coisas e, honestamente, tinha a sensação de que sempre seria, independente dos anos de experiência. Os animais eram puros, amáveis e indefesos e, embora as perdas fizessem parte do ofício, doía muito falhar e vê-los partir diante de seus olhos. Sem contar que os donos também ficavam arrasados e Han era capaz de colocar-se no lugar de cada um. 

Perder um bichinho era como perder um pedacinho do próprio coração.

Enfim, quando conseguiu se desvencilhar do turbilhão de pensamentos desanimadores que o atingiam, percebeu que já estava na frente da porta de casa. Abriu a mochila para procurar a chave, uma tarefa que havia se tornado um tanto quanto difícil, levando a consideração a escuridão que pairava no corredor. 

Fazia uns dias já que aquelas luzes estavam queimadas e tudo era devagar quando se tratava da manutenção dos apartamentos, Jisung já tinha reparado. Enquanto a mão se remexia dentro do ambiente caótico de dentro de sua bolsa, tudo o que pensava era que tinha que fazer uma nota mental para separar as chaves durante o caminho e deixá-las no bolso. 

Que droga... — murmurou cansado. Conseguia ouvir o barulho metálico aqui e ali, só que não conseguia encontrar a chave e menos ainda o chaveiro de pelúcia no qual ela estava conectada. — Vamos, eu só quero entrar em ca... — começou a choramingar, contudo calou-se e congelou ao sentir uma presença estranha atrás de si, totalmente inesperada. 

Por algum motivo inexplicável, soube na mesma hora que não se travava de Minho e isso fez o seu coração disparar. Poucos segundos depois e uma mão espalmou-se contra a parede, logo ao lado de sua cabeça.

— Você não acha incrível como a vida dá voltas? Depois de tantos anos, acabei justo aqui, sendo o seu vizinho, Ji. Deve ser o destino.

Ah, Jisung conhecia aquela voz. 

Afinal de contas, não fazia tanto tempo assim que a tinha escutado. A sensação foi a mesma do café, náusea, nojo e a vontade de colocar para fora todas as refeições do dia. Não, não, não. Só podia ser um pesadelo! Tudo aquilo de novo, não!!!

"Vizinho"?!

Tantos lugares no planeta Terra para aquele filho da mãe morar, e ele tinha que parar justo ali? Alguns poderiam achar a situação uma incrível coincidência, porém Han tinha outra opinião sobre o assunto: era, na verdade, puro azar.

— Sem palavras de novo, pelo visto — o homem deu um passo para trás, colocando a mão nos bolsos.

Han precisou reunir um pouco de coragem para girar o corpo e mirá-lo. Para a sua tristeza, sabia exatamente qual imagem estava prestes a encontrar, embora estivesse torcendo para que tudo não passasse de um equívoco de muito mau-gosto.

— V-você... tá morando aqui? — o estudante perguntou em um fio de voz, odiando-se pelo tom amedrontado com o qual as palavras saíram de sua boca. 

Miau, passa no débito | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora