51. Um novo lar

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Lee desceu o primeiro lance de escadas do prédio correndo, tomado pelo desespero, mas assim que a recepcionista explicou o que havia acontecido, todo o seu senso de urgência se dissipou em questão de segundos. A história rocambolesca contada pela mulher mais parecia uma piada e se não se tratasse de Han Jisung, o pequeno furacão humano, Minho jamais acreditaria que alguém era capaz daquela sequência de absurdos.

Por culpa daquela tentativa de surpresa de centavos, o mais velho passou quase quinze minutos embaixo de neve, congelando até os ossos, para conseguir um mísero táxi em plena véspera de Natal. Pagou um absurdo, lógico, e ainda teve que ouvir o motorista falando sem parar durante o trajeto, lamentando-se sobre como estava atrasado para a ceia de família e como no próximo ano pretendia mudar de emprego.

Tanto sacrifício para, no fim, Lee chegar no hospital e presenciar uma cena ridícula: Jisung sentado no setor de emergências, na ponta da maca, com um dos tênis desamarrado e o casaco revirado. A "equipe médica", na realidade, consistia em um único enfermeiro de dois metros de altura, bem pouco comovido com a situação, que pressionava um algodãozinho com álcool no machucado recém adquirido do turista acidentado. O resultado da fatídica colisão, em suma, era um queixo ralado e um pulso torcido, apenas.

Uma combinação perigosíssima, mesmo... só que não.

Arg.

Quando viu Minho aparecer na porta da ala emergencial, Jisung encolheu-se e contraiu os lábios, sem saber se sorria ou se procurava um lugarzinho para se esconder no armário mais próximo. Para ser sincero, nem queria ter ido para o hospital, porém a situação tinha evoluído para uma grande confusão que fugiu de seu controle. A mulher que o atropelara fez questão que recebesse o atendimento adequado, disposta a chamar os paramédicos, a polícia, o Papa e até a Rainha Elizabeth se fosse preciso. Para evitar a comoção, Jisung aceitou de uma vez fazer um checkup e, bem, ali estava.

A questão era que, quando a recepcionista do hospital se ofereceu para ligar para o contato de emergência de seu seguro de saúde internacional, o moreno imaginou que ela o deixaria falar diretamente com Minho. Pensou que poderia dizer que estava tudo bem antes de mais nada, explicar o que tinha acontecido e, por fim, pedir o endereço completo do mais velho. Estragaria a surpresa, mas paciência. Àquela altura do campeonato, só queria mesmo chegar na casa de Lee o quanto antes e descansar nos braços de seu amado.

O problema foi que a própria resolveu passar a informação e ainda exigiu que Lee corresse ali para resgatar o namorado. Ela fora tão misteriosa durante a ligação, que era como se Han tivesse perdido uma perna ou ficado entre a vida e a morte, quando, na realidade, o rapaz só tinha protagonizado um encontro infeliz com uma lambreta, pilotada por uma senhora de meia idade.

Minho cruzou os braços, observando o outro a alguns passos de distância.

Cacete. Por que Jisung não podia apenas chegar no aeroporto como uma pessoa normal? Ele tinha que fazer rolo, mesmo diante de algo tão simples, não era? Na verdade, Lee estava até feliz que ele não tivesse conseguido derrubar o avião no meio do caminho na tentativa de executar mais uma de suas formidáveis ideias de gênio.

"Deixa eu pilotar no seu lugar por cinco minutos, comandante? Eu tenho um plano e você não precisa se preocupar, tá tudo certo na minha cabeça".

Han contraiu as sobrancelhas como um gatinho amuado. O outro estava com uma cara sanguinária e o mais novo conseguia ver que, por baixo do casaco, Lee estava com as roupas de dormir, o que era um grande indicativo da pressa com a qual ele havia saído de casa. As peças formavam uma combinação nada estilosa de tênis de corrida verde neon, calça de moletom velha e desbotada, um sobretudo que parecia formal demais para o conjunto da obra e... opa. Espera, espera, espera. Aquele era o suéter que tinha dado de presente?! O suéter do gatinho-rena?

Miau, passa no débito | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora