30. Você deveria experimentar

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Minho suspirou profundamente e fechou a tela do notebook, esfregando as mãos nos olhos cansados. Era segunda-feira ainda, mas parecia que tinha vivido uma semana inteira em um dia. Duas reuniões, aula, plantões de dúvidas, laboratório, compromissos que não tinham fim. Só queria ir pra casa e se enterrar entre duas patinhas macias depois de um banho quente.

— Chega — Lee Know declarou, dando uma olhada no relógio. — Pra mim já deu. Vamos embora? — perguntou para Mini, que estava sentado logo ao seu lado e parecia concentrado no que estava fazendo. Estavam na faculdade ainda, ocupando a sala dos professores que, a uma hora daquelas, não tinha mais nem sombra de nenhum dos docentes. 

— Vai lá, eu tenho que terminar essa correção e devolver um livro na biblioteca.

— Tem certeza? Já passamos do horário e logo mais o campus vai fechar.

— Tenho, pode ir — garantiu sem mirá-lo. — Volta pra sua esposa, ela deve estar te esperando de lingerie de rendinha uma hora dessas, doidinha pra matar a saudade.

— Já te mandei à merda hoje, Mini?— questionou enquanto enfiava as suas coisas dentro da pasta. Quando terminou de guardar o último item, jogou a alça de couro em um dos ombros e se levantou, dando um tapinha implicante no ombro de Kim antes de caminhar até a porta. 

— Hoje ainda não — respondeu casual.

— Vai à merda então — falou simples, parando perto da porta por meio segundo antes de se mandar de uma vez. — E vê se não trabalha demais pra não ficar mais insuportável do que já é. Vai viver um pouco, vai — aconselhou e saiu andando pelo corredor, fazendo o outro dar um pequeno meio riso sem som.

Ah, como era bom ter amigos, não? 

***

A biblioteca fechava às nove e o relógio já marcava oito e meia. Seungmin teve que apressar um pouco o passo para atravessar o pátio extenso que dava acesso ao lugar, mas conseguiu chegar à tempo. Como esperado, aquela parte da faculdade já estava praticamente vazia, salvo dois ou três gatos pingados. 

Devolveu o livro emprestado no balcão e assinou a comanda, um processo que não levou mais do que dois ou três minutos. Estava distraído quando virou-se para caminhar até a saída, porém seus olhos acabaram imediatamente no rapaz de cabelos loiros, no canto da primeira mesa, rodeado por livros e anotações.

Hum, que bonitinho e dedicado. 

Kim não tinha notícias de muitos alunos que permaneciam na biblioteca até tão tarde, muito menos em plena segunda-feira, mas lá estava Yongbok, jogado à vontade na cadeira com as pernas levemente afastadas, a mochila aberta ao lado e os olhos em uma apostila, balançando de leve a cabeça enquanto escutava algo no fone de ouvido.

Francamente, quem estudava ouvindo música? Só mesmo um adolescente. Talvez ele nem estivesse prestando atenção no que estava lendo, pela forma como parecia compenetrado em acompanhar o ritmo. Ainda por cima, estava com um pirulito enfiado na boca, fazendo um volume definitivamente sugestivo na bochecha direita.

Seungmin pensou que deveria ir embora o mais depressa possível, sem se deixar notar. Se fosse usar de seu excesso de bom-senso costumeiro, daria a volta e sairia pelos fundos só para não ser visto, e em hipótese alguma pararia para conversar com o sardento. Acontece que a saída alternativa já estava fechada e passar por Yongbok era parte do caminho, então... fazer o quê? Ossos do ofício.

Você sabia que é proibido comer na biblioteca? 

O loiro levou um susto quando sentiu um dos fones que usava ser puxado com sutileza e a voz melodiosa falar baixinho em seu ouvido. Assim que percebeu de quem se tratava, deu um meio sorriso e virou um pouco o rosto, puxando o pirulito para fora da boca com uma demora calculada.

Miau, passa no débito | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora