36. Muito tempero e um pouquinho de amor

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[ Quebra de tempo - 2 meses depois ]

Minho chegou em casa no horário de sempre e, quando entrou, sentiu um cheiro estranhamente raro no ar. Cebola? Tempero? Nada que lembrasse um restaurante cinco estrelas, certamente, porém aquela era a noite de Han providenciar o jantar e, pela primeira vez na história do relacionamento dos dois, talvez ele estivesse...

— Você tá cozinhando? — Lee questionou incrédulo ao ver o mais novo com uma frigideira na mão e uma espátula na outra. 

Precisou de alguns segundos para que os olhos confirmassem que aquele era mesmo Han Jisung, vulgo Miauzinho, dando uma de Master Chef. Percebeu que não se tratava de um sonho (ou pesadelo) ao dar de cara com a pilha de louça imensa que o outro tinha construído na bancada da pia, fruto das habilidades de um bagunceiro profissional.

Tantos pratos, potes, facas e garfos fariam qualquer pessoa achar que Han estava organizando a Santa Ceia quando, na realidade, ele estava fritando um mísero omelete. 

— Oi, Mi, você chegou! Ahn... surpresa? — deu um sorrisinho amarelo e sem jeito, desligando a chama às pressas quando viu uma fumacinha começar a preencher a cozinha.

— Pelo amor de Deus! — Minho correu até as janelas para abrir todos os vidros de uma vez, pois não queria morrer asfixiado pelos dotes culinários inexistentes do namorado. Era o tipo de coisa que não ficava bem em um epitáfio, afinal.

— Ai, acho que queimou um pouquinho — disse entre uma tossida e outra. Bom, achar que algo tinha passado do ponto era relativo, não? Tinha gente que gostava do saborzinho defumado.

Lee colocou as mãos na cintura e só não suspirou profundamente porque aquela era a pior coisa a se fazer no momento, levando em consideração a qualidade do ar dentro do apartamento.

— O que deu em você? Agora não quer mais cuidar da galinha, resolveu trabalhar com o ovo? 

Caramba. Não era tão complexo assim. Han era péssimo cozinheiro, de fato, mas já tinham treinado o omelete várias vezes e aquela era a receita da página dois do livro para iniciantes na cozinha, nível "fácil pra cacete".

— Eu quis cozinhar pra você. Fiz mal? — deu uma olhada no filhotinho de cruz-credo dentro da frigideira. Tinha usado cebola, tomate, coentro, presunto e queijo também. Não parecia tão ruim assim, parecia? O problema era só que o  presunto tinha ficado com as bordas queimadas e o queijo havia grudado no fundo da panela de um jeito que levaria uma encarnação inteira de molho para se recuperar.

Fora isso...

Huf. Fez um biquinho de tristeza.

E lá estava. 

Aquela cara de gatinho desolado que Lee não conseguia mais ignorar já tinha um bom tempo.

— Não, Miau, claro que não fez mal — aproximou-se, segurando a vontade de gritar e sair correndo só de espiar aquela coisa feia. — A sua comida tá... até que ela parece... apetitosa. O que são esses pontinhos pretos, aliás, que mal lhe pergunte?

— Pimenta-do-reino! — contou satisfeito, alternando a expressão desolada para um enorme sorriso de orgulho. Já sabia: pimenta do reino era o coringa dos temperos!

— Pimenta? Espera, espera. Você jogou a pimenta aí sem triturar? 

— Ué. Precisava triturar? — coçou a bochecha. Aaaaah, isso explicava muita coisa. Provavelmente estiva distraído na hora que Lee comentou a respeito desse passo nas lições esporádicas de culinária. É, fazia sentido. Han tinha achado a aparência meio diferente, mesmo. 

Puta merda. O comentário ácido estava na ponta da língua de Minho, prontinho para bater asas com a sutileza de um elefante bailarino, porém o outro estava tão bonitinho em sua versão chef de cozinha que o mais velho não teve coragem de destruir os seus sonhos.

Miau, passa no débito | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora