50. Contato de emergência

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Mais de doze horas dentro de um avião deixariam qualquer pessoa um pouco abalada, ainda mais se o sujeito em questão já tivesse embarcado completamente ansioso. Verdade era que Jisung nunca tinha ficado tão distante do chão e só havia lembrado desse pequeno detalhe quando já estava a quarenta mil pés de altura, rezando para os todos os santos possíveis do catálogo celestial. 

Além de ter sofrido uma queda brusca de pressão durante a decolagem, ainda tinha passado mal depois de comer três pedaços de pudim na tentativa de se distrair. O mais trágico de toda aquela aventura humilhante foi que descobriu, ao receber a conta, que os pudins não eram de graça e, puta merda, que docinho caro! Se soubesse que pagaria em dólar por um punhado de açúcar, ovos e leite condensado, teria levado comida escondida no casaco.

Por fim, quando nada parecia capaz de superar o trauma de quase viver uma dor de barriga naquele banheiro minúsculo e desconfortável, foi agraciado com o golpe de misericórdia: duas arremetidas na hora de pousar devido ao mau tempo e um aviso tranquilo do piloto de que se a situação não melhorasse, teriam de pousar em uma das cidades vizinhas.

Graças aos céus, a meteorologia resolveu colaborar no fim das contas, e com uma hora de atraso, a imensa lata alada colocou as rodas no chão, fazendo tudo chacoalhar e tremer como se fosse uma escola de samba. A alma do pobre Han Miau deixou o corpo por alguns segundos durante o processo, levando o pobre coitado a cravar os dedos no encosto da frente com tanta força, que talvez tivesse de lembrança para a companhia aérea meia dúzia de buracos.

No mesmo segundo que a porta da aeronave se abriu, o rapaz saiu correndo pelo corredor, hiperventilando e prometendo a si mesmo que, da próxima, pegaria um navio. Depois de resgatar a mala, iniciou a ingrata missão de seguir as milhares de placas que davam para o metrô. Apesar das direções confusas, tinha pesquisado bastante e estava certo de que conseguiria alcançar o seu objetivo. Era só trocar de linha três vezes e andar um trajeto de vinte minutos a pé, uma logística bem aceitável. Pelo menos, Minho morava relativamente perto da estação, o que soava como um alívio.

Ao atingir o acesso às plataformas, a primeira coisa que viu foi um banner gigante e luminoso, com pessoas sorridentes ao lado da frase: "Bem-vindo a um dos maiores metrôs do mundo!".

Ah, mas que ótimo. 

Ao mirar o circuito de estações, a sua autoconfiança começou a murchar. As centenas de nomes eram tão pequenas que as letrinhas pareciam um formigueiro alucinado. 

Precisava ser sincero consigo mesmo: quais eram as chances de fazer uma baldeação errada, ainda mais depois de doze horas dentro de um avião, uma queda de pressão e três pedaços de pudim malsucedidos? Altas, simplesmente. Se já era atrapalhado em dias normais, quem diria exausto daquele jeito?

Talvez optar por fazer uma surpresa não tivesse sido a melhor ideia do século. Quer dizer. Podia só ter chegado e encontrado o seu namorado ali, com uma plaquinha cheia de corações escrita seu nome, sorrindo, lindo e maravilhoso, pronto para guiá-lo pelas linhas coloridas e macarrônicas do metrô... mas não. 

Havia escolhido o caminho mais difícil, pra variar.

Como se o conjunto da obra não fosse ruim o suficiente, era véspera de Natal e tudo estava ridiculamente lotado. Uma quantidade insana de pessoas pra lá e pra cá, oitenta por cento delas estressada e com cara de poucos amigos. 

Os londrinos não pareciam muito simpáticos, reparou de imediato. Só naquele curto trajeto, Jisung contou um total de quatro esbarrões, cinco xingamentos cabeludos e seis ou sete encaradas feias. Após quarenta minutos de um sobe e desce infernal de plataformas, arrastando a mala pesada e também o restante de sua dignidade, finalmente conseguiu acesso para a rua e sentiu vontade de chorar de alívio.

Miau, passa no débito | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora