Tudo Vermelho - Wantasha

Capítulo 23 - A Probabilidade que Há Em Nós

Wanda point of view

Minha cabeça doía, não precisei abrir meus olhos para lembrar a razão disso, mais uma vez estava pensando em Pietro. Meus músculos doíam, minha mandíbula doía, meu peito doía, tudo em mim estava exausto. Senti aquele cheiro de lençol quando está muito tempo sendo atingido pelo sol e suspendi minhas pálpebras. Eu ainda estava na minha cama, e mesmo sem ter ido dormir acompanhada, foi inevitável procurar por Natasha no ambiente e perceber que eu estava sozinha.

O silêncio era exagerado, eu me mantia nele tentando captar qualquer sinal de vida. Não havia ninguém aqui além de mim. Me assustei quando a luz do sol começou a sumir, como se estivesse sendo tapado por uma sombra. O quarto começou a escurecer e meu receio aumentou, era como se algo estivesse o invadindo, tomando-o conta de fininho.

Eu tenho pavor do silêncio e do escuro, mas principalmente de estar no silêncio escuro. Senti aquele medo irracional aparecer, sequela do que vivi em Sokovia. Deitei de volta na cama e fechei meus olhos, tentando a todo custo fugir disso. Tapei meus ouvidos com as mãos, eu não queria ouvir nada.

— É só um pesadelo. — Murmurei, rezando para acordar logo. Senti meu corpo suar, minha respiração tão densa que poderia me matar de ansiedade. — Acorda, acorda…

Quando comecei a perceber a névoa escura rondar pela minha cama, meus olhos molharam, minha lágrima escorreu por cima do nariz. Meu lábios tremiam e um choro baixo começou a fugir através deles.

— Sai dessa, Maximoff! — Obriguei-me, com mais raiva do que medo da situação, e o resultado foi automático. A sensação de estar sendo cercada sumiu.

Minhas pálpebras, que ainda estavam descidas e escuras, ficaram vermelhas, anunciando que a luz havia retornado. Ao abrir meus olhos, tive que semicerrá-los para amenizar o efeito da claridade repentina, da luz amarelada que eu sabia exatamente de onde era... Não, não, não. Avaliei com dificuldade o meu redor, só existia a minha cama no meio do completo nada quase branco naquele vento estrondoso. Eu sabia o que iria acontecer em seguida e não poderia fazer nada para evitar, só consigo acordar deste pesadelo quando ela aparece.

Meu coração doía, doía de cansaço, de medo, de angústia, de luto. Ele sempre doeu, até quando eu não sabia o porquê. Coloquei minha mão na minha blusa para evitar que ela balançasse tanto, o vento estava tão veloz que gelava o meu rosto. E então, mesmo de longe, ela começou a aparecer.

Esperei que acontecesse o que sempre acontece: ela aparece, fica ali e eu consigo me livrar acordando. Mas estava demorando, e quando percebi que seu rosto ficou minimamente visível, entendi que eu não acordaria tão cedo. Meu desespero foi aumentando como o nível do rio que tive que atravessar, meus lábios secaram e nunca senti tanto os meus pelos corporais como agora.

— É só um pesadelo, é só um pesadelo… — Sussurrei para me convencer, mas a verdade é que eu estava em estado de transe.

— Sou nomeada de muitas coisas, pesadelo não é uma delas. Pelo menos não para quem me pertence… Talvez para quem me enfrenta.

Eu pensei estar enlouquecendo. Não existia diferença alguma entre mim e um veado que tenta atravessar a pista, olhando atentamente o farol de um veículo e esperando o golpe que tirará sua vitalidade. Há momentos em que o filme da sua vida parece passar diante dos seus olhos, você pensa em tudo que irá perder em pouquíssimos instantes. Natasha era meu único pensamento ali, naquela cama, no meio do nada.

— Por que tem tanto medo, Wanda? — A voz ressoou novamente e tive a comprovação de que não era minha imaginação. Meus olhos estavam em seu rosto escuro, borrado. O vento havia diminuído de intensidade, estava como uma simples brisa de fim de tarde. No entanto, a iluminação poderosa ainda existia. — Não é como se fossemos completas desconhecidas.