Capítulo 35 - Conexão Via Temor

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Natasha encarava aquela porta fechada de cara com o que havia acontecido entre ela e Wanda nos últimos minutos. Começou a sentir como se tudo pudesse ser destruído em questão de segundos, não importava o quão indestrutível parecesse. Sua ação era a prova viva disso.

Wanda não a queria por perto, e isso era tão inimaginável que não fazia sentido, então ela deu alguns passos para tentar ir até o outro quarto num instinto natural de acolhê-la, parando ao notar que ela era o atual problema da sua namorada. A loira não sabia como agir, mas uma coisa sentia; deveria pedir desculpas. Ela foi embora tão rápido que Natasha não teve oportunidade.

Era óbvio que não iria encontrar a porta aberta. Não sabia se seria ouvida do outro lado, se Wanda ainda estaria acordada ou se havia adormecido no conforto das lágrimas. Analisou bem o que deveria dizer, pois teria que valer a pena. Afinal, estava indo atrás dela quando a mesma não queria. Engoliu a sua própria vontade de chorar e, segurando uma mão na outra, soltou um suspiro.

— Wanda, se ainda estiver acordada… Quero que saiba que eu sinto muito. — Ela ficou em silêncio, tentando ouvir alguma resposta. O ar continuou sem entregar nenhum sinal de comunicação. — Sei que não quer meu contato, mas também sei que meu papel como sua companheira é reconhecer quando erro. Eu quebrei algo importante entre nós ao encobrir a verdade. Não sabia como contá-la, e por isso fui acobertando, com medo de te decepcionar. Mas acho que isso aconteceu do mesmo jeito.

Um suspiro a cansou, mas lhe permitiu uma pausa coesa. Escolheu ser honesta, verdadeiramente honesta.

— Quando acordei outra vez sob o teto da SHIELD, após ter ficado cara a cara com o passado e com uma possível morte, eu me senti como um nada. Não entendia porquê merecia ter voltado. Mas você olhou para esse nada como se fosse seu tudo, e essa foi a primeira vez que pude ver a personificação do amor e entender porquê eu havia retornado. Alguém que realmente me ama esperava por mim. Você não desistiu de mim, mesmo que eu não fosse a mesma, mesmo que eu estivesse magra e surrada… Assustada. E então, me senti numa encruzilhada; como eu poderia retribuir este amor quando eu não o tinha para mim mesma? Quando tudo de bom que você cultivou em mim foi destruído em um mês naquele lugar?

Fungou o nariz, sentindo uma onda de tristeza afetá-la ao proferir a última frase.

— Acontece que eu sempre soube que isso não era um fardo que você deveria carregar. Então, mesmo que fosse difícil, eu iria lutar por mim, até que estivesse lutando por nós duas. Eu vi o quão frágil estava seu coração, não iria arriscar quebrá-lo ao revelar que mesmo com seu tremendo esforço ao cuidar de mim, meu cérebro não me fazia sequer engolir um comprimido idiota. Eu não tinha cara para isso. Não sabia como dizer sem me sentir… Desprezível. Não quero fazer uma chantagem emocional, estou dando-lhe o que merece; a verdade. Espero que possa me perdoar se… Se esse “tempo” tiver um fim.

Natasha foi cortada pela sua própria vontade de chorar ao perceber a situação em que se encontrava. Ela havia cometido um deslize no pior momento possível, colocando lenha na fogueira que já queimava em Wanda. “Ah, Deus” Ela lamentou baixinho, mas a outra foi capaz de ouvir mesmo estando do outro lado da porta. A ruiva permanecia imóvel, usando o lençol de escudo contra a voz da sua namorada. Ela estava chorando desde o momento em que a mais velha apareceu pedindo desculpas, apertando os lábios para não ser escutada.

— Eu acordarei mais tarde para que não precise me ver quando estiver saindo amanhã, se for. — Natasha nunca achou que iria precisar dizer isso. Secou a coriza que deslizou em sua boca, mesmo que seus dedos estivessem trêmulos. Só agora sua ficha estava caindo. — Boa noite… Eu te amo, Milaya.

O apelido saiu tão amoroso de seus lábios que Wanda sabia que aquilo não era uma tentativa de chantageia-la. Foi a gota d’água para a garota, que dessa vez, não conseguiu ser silenciosa. Natasha estava se afastando quando a ouviu em prantos, mas continuou sua rota, lutando contra a vontade de arrombar a porta e trazê-la para seu colo. Engolia as tentativas de choro que sua garganta insistia em pôr para fora, mas era uma tarefa inútil. Ela voltou ao quarto em meio às lágrimas, soluçando, assim como Wanda fazia no outro. Saber que ela estava daquela forma por sua causa era demais.

Tudo Vermelho - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora