Capítulo 37 - Para Sempre

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Natasha point of view

Já fiz muitas escolhas extraordinárias, no sentido impulsivo da palavra mesmo, mas nenhuma delas pareceu ser tanto quanto essa. Ao decorrer dos tenebrosos anos, aprendi que lidar com as consequências de nossas ações não é uma escolha, mas um dever, por maior que seja o estrago a ser reparado. Posso não ter sido um exemplo de mulher na maior parte da vida, mas regredir não é mais uma opção. Aconteceu, é isso.

Dizer a ela que estava pronta para qualquer coisa que viesse acrescentar em nossas vidas foi como um furacão; apesar de natural, avassalador. Com “pronta”, eu afirmo que sei que era minha responsabilidade assumir, mas meu coração estava longe de estar preparada. Tive tempo para pensar sozinha, ler-se “surtar”, e não consigo numerar a quantidade de emoções que já senti nessas poucas horas. Tudo poderia dar tão certo na mesma medida que poderia dar errado, e não digo isso porque uma criança “estragaria” nossas vidas, mas talvez o contrário poderia acontecer. É sobre mim que estamos falando. Eu não tive mãe, não tive família, escola, nunca pratiquei bullying com alguém (convenhamos, eu não seria a que ouviria calada), nunca sofri um acidente por não ter ouvido meus pais e aprendido do pior jeito possível... Eu nunca fui inocente como ele virá a ser, ou ela. Sei que estamos em um processo, mas não consigo não me precipitar. Parte de mim me encoraja, e a outra parte está querendo me dar uma paulada, questionando-me onde eu estava com a cabeça quando disse aquela frase no auge do tesão.

Desliguei a boca do fogão, quase deixando a macarronada queimar. Se eu continuasse pensando daquele jeito, iria acabar incendiando o apartamento. Não deveria estar acordada a essa hora, mas comer foi o melhor jeito que encontrei de combater meus sentimentos. Wanda estava dormindo, mas não era tão diferente de mim. Não é todo dia que se engravida. Nós conversamos, mas o futuro é incerto. Só concluímos que, por hora, deveríamos manter a calma e não perder uma noite de sono, conselho que claramente não escutei.

Vi o meu celular na bancada, meus dedos coçaram para ligar para Clint e contar tudo. Eu precisava desabafar. Não era o tipo de coisa que se esconde como se fosse um segredo qualquer. Ter a opinião de uma outra perspectiva poderia me fazer sentir melhor, me orientar, mas era a privacidade de Wanda... Teimosa, eu liguei. Minha única saída foi tentar não ser direta, pois ele já havia atendido:

— Oi, ruivinha. Tudo certo com os olhos flamejantes? — Ele a citou, me tirando um pequeno riso.

— Estou no caminho para que isso aconteça. E você? Tudo bem com a família? — Me aconcheguei no acento da cozinha. Meu olhar ansioso dividia atenção entre os móveis e a vista brilhante dos prédios, tentando distrair-se. Abracei meu cotovelo com os dedos, tentando manter uma postura segura. Ele não estava me vendo, eu sei, mas ainda me ajudava.

— Tudo, sim. Eles estão crescendo rápido, é assustador. Mas você sabe, faz parte. — Sua resposta saiu risonha, mas não ativou nada muito divertido em mim. Mordi o lábio. Minha mão subiu para coçar o meu pescoço.

— Clint, posso fazer uma pergunta? Talvez vá soar estranho…

— Manda a ver. Eu não esperava nada muito normal com você me ligando a essa hora.

Soltei um riso nasal. Eu queria que a minha voz saísse o mais natural possível, soando como uma dúvida estúpida. Minhas unhas arrastaram-se na bancada quando eu desci o braço e meus suspiros estavam audíveis, mesmo que eu tentasse prendê-los enquanto procurava as melhores palavras.

— Você acha que eu seria uma boa mãe? — Não existia diferença entre mim e uma criança de cinco anos perguntando algo aos pais. Fechei os olhos, me repreendendo pela forma que me expressei. — Quer saber, esqueça…

Tudo Vermelho - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora