Capítulo 06 - Noite Estrelada

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Música citada

Vincent - Don McLean

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Wanda point of view

Depois que pedi para ficar e fazer companhia, deitamos na cama. Fiquei na parte esquerda, de costas para a janela, e ela na direita. Shark estava entre nós duas tirando um cochilo leve.

— Será que vai demorar muito? — Minha voz saiu como um sussurro. Não era exatamente uma pergunta, estava mais para um desabafo. O olhar dela, que antes estava no cachorro, subiu para mim.

— Provavelmente, não. Relaxa. — Suspirou, colocando as costas da mão esquerda debaixo do rosto, ajeitando a cabeça. Ficamos em silêncio, mas logo uma lembrança invadiu a minha mente:

— Quando as luzes caíam onde morávamos em Sokovia, eu e Pietro adorávamos brincar de fazer imagens de sombra com as mãos. E, às vezes, a gente só... gostava de ficar pertinho da vela, observando ela derreter. — Senti um sorriso se formar em mim com a vaga imagem de nós dois.

— Parecia ser divertido — respondeu enquanto alisava Shark, que se remexia na cama.

— É, era divertido. Notar como as coisas são fascinantes de perto, sabe? — falei, observando o ambiente.

— Sei. — A voz de Natasha saiu grave, o que puxou minha atenção para seu rosto rapidamente. Ela estava fazendo aquilo com os olhos de novo.

— Para.

— Parar com o que? — perguntou, com um sorriso no rosto.

— Você sabe, com essa "cara" que você faz. — Expliquei sem jeito, e ouvi ela rir ligeiramente.

— Sinto informar, sr.ta Django, mas não estou fazendo cara nenhuma. Talvez você só tenha se encantado com o meu rostinho.

— Ha-ha, convencida — respondi, e então ouvi o pitbull choramingar, se aproximando para pedir carinho. — Tá bem, tá bem. Estou aqui.

Fiz um cafuné nele e o vi descer da cama em seguida.

— Ele gostou mesmo de você. Já teve cachorro?

— Não, nunca tive. E você?

— Também não. — Deitou com a barriga para cima, cruzando os braços e me dando a vista de seu perfil. — E de qualquer forma, acho que gatos combinam mais com o meu currículo de espiã.

— É, eu vejo isso. — Soltei um riso nasal. Ela fitava o teto como se pensasse em algo. — Está pensando em quê?

Suspirou, como se quisesse falar. Sorriu deprimida.

— Em um sonho que tive.

— Ah. — Deixei sair inaudível.

— Lembra do nosso primeiro dia de treino? — Concordei com um "Uhum". — Na noite anterior, eu sonhei com a Sala Vermelha, o lugar para onde eu fui depois que me separaram da minha "família".

— Oh. Isso explica porquê você parecia frustada na manhã seguinte. — Afirmei cautelosa. O semblante dela entristeceu, e ouvi soltar um "É" abafado. Natasha tinha razão, eu não sei muita coisa sobre ela. — Por que "Viúva Negra"?

— Como? — Franziu a testa, me deixando nervosa. Não queria parecer indelicada com seu passado.

— Eu só... fiquei curiosa sobre o que ele significa. Eu não...

— Desacelera, bruxinha. Tudo bem. — Se virou de frente para mim, determinada em me responder. — Esse era o nome que nos davam porque éramos agentes formadas apenas por mulheres. Ninguém desconfia que uma mulher possa trazer algum perigo real, e além disso, temos baixa estatura. Não iriam nos ver se aproximar até que fosse tarde demais. Pequenas e letais, como viúvas negras.

Tudo Vermelho - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora