Construção

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*Reis*


Última manhã na mansão, já estamos todos de pé recolhendo nossos pertences, o clima é de total despedida, Ingrid já veio me abraçar pelo menos umas três vezes, Buiar está distante, se fechou em sua bolha como costumava fazer para gravar as cenas com maior carga emocional, eu sei que é pelo fato de estar indo comigo para a casa da minha mãe, mas tenho certeza que ela vai relaxar assim que conhecer a dona Fernanda, minha mãe é uma pessoa muito acolhedora e comunicativa e vai amar minha namorada.

Descemos e tinha uma mesa linda de café posta para nossa ultima refeição conjunta, participamos do café e falamos algumas palavras de agradecimentos, Natalie nós informou que na próxima quinta-feira será a estreia de Stupid Wife e conforme fosse tendo retorno do público poderíamos ter alguns projetos futuros, provavelmente uma segunda temporada e outras coisas mais que ela não quis revelar

- Reis vai sentir falta do BBB? – Lucas pergunta

- Eu? Buiar vai sentir falta do BBB? – jogo a pergunta para minha namorada

- Mais ou menos – ela responde

- Mais para mais ou mais para menos? Insisto

- Vamos deixar essa pergunta em aberto – foge da resposta

- Tu- tu- tu... – brinco imitando o sinal de ocupado do telefone

Estamos todos saindo da casa aos poucos, Buiar já colocou nossas malas no carro enquanto eu dou um último abraço na minha amiga

- Ingrid presta atenção, se você não responder minhas mensagens eu te acho onde você estiver só pra te dar uns tapas tá ouvindo? – essa pessoa é uma das que vou carregar comigo pra sempre, nossa amizade foi quase que instantânea

- Pode deixar amiga, vou te perturbar todos os dias e enquanto você estiver aqui no Rio podemos marcar um barzinho no final de semana

- Isso com certeza, vamos marcar sim – nos abraçamos e fui em direção ao carro

Já no caminho para a casa da minha mãe resolvi quebrar o silêncio que existia ali dentro daquele carro

- Amor, porque você não quis responder a pergunta sobre sentir saudade da mansão?

- Porque tivemos muitos dias difíceis e não sei se isso vai me fazer falta – ela respondeu sem tirar os olhos da estrada

- Sim, mas tivemos muitos dias bons também e tivemos a oportunidade de nos aproximar e nos apaixonar

- Realmente, sempre serei grata a Ponto Ação por me aproximar do amor da minha vida, mas posso te confessar uma coisa?

- Claro amor, o que quiser

- Toda a situação com a Larissa estava me incomodando muito e não vou fazer sentir nem um pouco de falta, eu não estava sabendo como lidar com tudo e a maneira que você reagia, sei lá

- Você acha que eu agi de forma errada com ela ou com você em algum momento?

- Não é isso. É que no meu último relacionamento eu sofri muito por conta de ciúmes e abusos constantes por parte do meu ex, esse relacionamento durou 3 anos e eu só percebi o abuso quando já havia saído dele – Ela relembra que tudo começou com um homem, aparentemente, romântico e família, mas sua obsessão, as humilhações, julgamentos e excesso de controle a fizeram perceber que aquilo era tudo, menos uma relação saudável.

- Quando a gente está apaixonada é difícil ver todos os problemas que muitas vezes são claros – continua falando - Mas depois que acabou, olhei para trás e percebi que aquilo não estava certo e me culpei também por ter deixado chegar a tal ponto. As pessoas à minha volta não percebiam porque o comportamento dele com a minha família era como o cara mais legal, bem diferente de como era comigo em particular.

- Amor, você não é culpada por nada disso – coloco a mão em sua coxa

- Sim, consigo ver isso agora. Depois que terminamos, percebi que ele vinha me tratando mal há um tempo, me rebaixando  e desvalorizando nas campanhas que eu trabalhava e até dizia que eu nunca acharia outro homem como ele. No sexo também aconteceram algumas coisas que, hoje, eu vejo como estupro, muitas vezes eu não aceitava algo e mesmo assim ele fazia, tirava a camisinha sem eu ver... Foi uma fase tensa! Era sempre a vontade dele que prevalecia e foi se tornando um relacionamento muito pesado, ele controlava meus horários e minhas amizades, até que um dia eu falei ‘ou você muda ou acaba aqui’: ele não me respondeu, foi embora e depois, por mensagem, ele simplesmente concordou em terminar. Aquilo foi a ruína, porque mesmo sabendo que não estava bom, eu tinha uma esperança. Eu não queria que você conhecesse esse meu lado tão vulnerável e por isso não quis enxergar as investidas da Larissa, entende?

- Claro que eu entendo amor, e você não precisa dar uma de heroína, ainda mais comigo, eu sei que não é fácil tudo que passou e agora ainda tem a obra do AP que está te obrigando a fazer parte de uma realidade que não está na sua zona de conforto.

- Eu confesso que tudo isso estava me deixando bastante chateada, mas não tem porque ficar chateada, não vai mudar nada não é mesmo?

- Não vai, mas mesmo assim está tudo bem você se sentir desse jeito – faço um carinho em seu rosto

- Eu sinto que não tenho um minuto de paz, é sempre uma coisa atrás da outra

- Você passou por muita coisa – a conforto

- E você também – ela diz me olhando nos olhos enquanto o farol está fechado

- É, e você me deixou chorar e gritar e depois chorar mais um pouco – dou um sorriso tímido pra ela

- Mas chorar comigo não funciona – volta sua atenção ao trânsito

- Então vamos achar o que funciona, você sabe que estou do seu lado para o que precisar, né?

- Sei, sei sim e obrigada - ela pega minha mão e dá um beijo

- Eu te amo - falo

- Também te amo.

No restante do caminho fomos ouvindo música e Buiar voltou ao seu silêncio inicial. Fiquei pensando em como é delicado construir um relacionamento, sempre existirão as bagagens do passado que vamos carregar e nela vem nossos traumas, medos e inseguranças, por isso o diálogo sempre será o primordial em todo relacionamento, saber dessa parte da vida da Buiar me torna mais sensível a sua dor e me faz mais capaz de torná-la feliz, tendo comportamentos diferentes dos que ela já presenciou em outros momentos de sua vida.

Chegamos em casa perto da hora do almoço, minha mãe já estava providenciando a comida, eu já havia avisado de que Buiar passaria uns dias conosco e por ela estava tudo bem, queria muito conhecer a nora pessoalmente.

- Mãe, chegamos – chamo ao entrar na sala, Buiar está ao meu lado olhando curiosa para o ambiente

- Estou aqui na cozinha filha – dona Fernanda responde mexendo nas panelas

- Vamos lá amor conhecer a sogrinha – pego na mão da minha namorada a conduzindo até a cozinha

- Vamos, espero que eu agrade – diz com tensão na voz

- Mãe essa aqui é a Priscila Buiar minha namorada, Pri essa é dona Fernanda minha mãe

- Prazer dona Fernanda – Pri estende a mão para um cumprimento formal

- O prazer é todo meu – minha mãe puxa ela para um abraço – vai ser muito bom ter você aqui conosco, fique a vontade.

- Eu agradeço, não vai ser por muito tempo, prometo – Buiar fala tímida

- Imagina fique o tempo que precisar - minha mãe solta ela  e vem me dar um abraço

- Tá certo mãe, vamos subir para descansar um pouco, quando estiver tudo pronto a senhora nos chama? - peço
- Chamo sim filha, vão descansar- ela afirma e saímos

Quando tudo se torna real (BuiaReis)Onde histórias criam vida. Descubra agora