(Murilo's POV)
Chovia forte do lado de fora. O barulho das gotas grossas batendo no telhado de amianto do estacionamento era alto o bastante para apavorar ainda mais a situação, ainda mais depois da queda de energia.
Marcela acordou chorando perto da meia noite, e dormiu abraçada em mim depois que a peguei no colo e a coloquei na minha cama. Seu corpo pequeno tremia, era audível até os batimentos do seu coração, sua respiração estava ofegante e eu simplesmente odiava vê-la assim.
Desde pequena, o trauma que Marcela têm de trovões e tempestades só cresceu com o tempo. Durante os seus primeiros anos, Maia e eu passamos por algumas noites com nossa filha deitada entre nós dois, com medo dos raios. Pelo resto dos anos, eu tomava conta sozinho, mas tudo piorava quando a luz acabava, pois além do seu medo de tempestades, o medo do escuro é bem forte.
Sua cabeça estava deitada em meu peito, e seu bracinho ao redor de minha barriga, enquanto eu acariciava seus cabelos na intenção de que ela conseguisse dormir, por um lado estava adiantando, mas seus soluços ainda deixavam seus lábios. Deixei um beijo em sua testa, sussurrando um 'eu estou aqui', para que ela soubesse que eu não sairia daqui em momento algum e sua resposta foi se grudar ainda mais em meu corpo, abraçando-me apertado.
Enquanto ela não dormisse, eu sabia que seria em vão tentar pegar no sono. Então alguns pensamentos invadiram minha mente. O primeiro deles, foi minha noite com Marília, nem eu sei o que sentir em relação a isso. Sei que foi muito bom o nosso momento e que eu fiquei extasiado com seu corpo, mas no fundo eu sei que foi além de um desejo carnal, havia mais. Na manhã seguinte, acordei com um sorriso filho da puta nos lábios, percebendo que ela não estava mais ali, e um bilhetinho dizia que ela havia ido trabalhar e que a chave estava no chão perto da porta.
Levantei antes que Marcela acordasse para que eu tomasse um banho e trocasse o lençol do meu colchão, o colocando novamente no meu quarto. Hoje não nos falamos, mas fiquei surpreso quando Marília me mandou uma mensagem dizendo que não iria aparecer no prédio por hoje, porque dormiria na casa de uma amiga. Ok, eu acho que eu ficaria preocupado se não a visse por aqui e fico feliz por ela ter me falado.
Sem que nem mesmo eu notasse, meus olhos pesavam aos poucos e o sono me consumia.
Um estrondo e alguns gritos chamaram-me atenção, enquanto eu passava pelo corredor caminhando até em casa. Um tanto quanto receoso, girei a maçaneta depressa, querendo entender o que se passava no apartamento.
A minha primeira visão, foi de Marcela e Marília presas. Marília abraçava Marcela com tamanha força, como um sinal para que ela ficasse quieta e assim, ela a protegesse. Ela sussurrava para minha filha 'Não se mexa, não se mexa'.
Numa tentativa ousada e débil, ergui o rosto e cruzei diretamente com o olhar feroz do homem que tinha seu rosto coberto por uma touca preta. A pele que lhe envolvia ao redor dos olhos e em parte do nariz à mostra era branca, porém encontrava-se rosada e suada. Sua pupila dilatada quase saltava a órbita. O sorriso débil e assustador abriu-se, e foi quando eu vi a arma apontada para as duas.
De imediato, tentei correr para ajudá-las, mas foi um trabalho inútil, os meus pés não se moviam, pareciam colados ao chão, queimava. Podia sentir minhas mãos tremerem e meus olhos molhados pelas lágrimas que eu me obrigava a conter.
E foi tudo muito rápido. Dois tiros, um em Marcela, outro em Marília.
- AAAAAHH! - minha voz áspera rasgou a garganta, o pulmão ofegando impedindo-me de respirar com regularidade. Minha testa suava e minhas mãos estavam geladas. Meu coração batia extremamente forte contra a caixa torácica.
- O que houve, papai? - além de ter acordado a mim mesmo, Marcela também se sentou na cama com os olhos esbugalhados e seus olhinhos lacrimejavam ao ver o meu estado.
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Flashlight ● adaptação Murilia
Romance⚠️ATENÇÃO: esta história é uma adaptação!⚠️ Uma proposta irrecusável para salvar a vida de seu irmão é o suficiente para que Marília Mendonça, uma fotógrafa destemida, conheça Murilo Huff, um jovem policial que teve seu coração partido inúmeras veze...