53 ➨ From Far Away

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(Murilo's POV)

Abro a porta de casa e fecho-a quando entro.

Tiro a farda que aperta meus órgãos com uma força desmedida e sento no sofá para tirar os coturnos. Jogo as chaves do carro e o distintivo na mesa de centro.

Como todos os dias da minha vida, eu procuro por Marcela nesse apartamento que, de repente, se tornou tão vazio. Sorrio fracamente ao vê-la dormir enrolada em seus cobertores, travesseiros e ursos de pelúcias infinitos. Beijo seus cabelos dourados e apago as luzes.

- Não ouvi que tinha chegado. - Olga diz ao aparecer no quarto, acredito que por ter escutado barulhos.

- Eu cheguei agora pouco.

- O jantar está pronto. Ela já comeu, tomou banho e se deitou. - eu sorrio e a agradeço, me despeço quando ela vai embora, marcando o horário do dia posterior.

Olho de novo para a minha filha, buscando nela o conforto e a sensação de lar que sempre sinto quando encontro-a. Uma sensação boa de segurança, de saber que, não importa onde e como, ela sempre estará sobre minha proteção e que, pelo menos por agora, posso tê-la tão pertinho.

- Ela parece confortável aí. - comentei baixinho para não acordá-la ou interromper nosso primeiro momento tranquilo como pais. - Vai se acostumar com o seu cheiro.

Maia sorriu serenamente ao esticar os pés sobre a mesinha de centro para poder se encostar melhor ao sofá em que tínhamos nos acomodado. A luz de primeiro plano da sala estava apagada, deixando trabalho para as lâmpadas embutidas nos rodapés. A televisão, porém, estava ligada no volume mínimo para intensificar a atmosfera natural e minha esposa e eu estávamos vestidos com nossos moletons enquanto ela segurava nossa bolinha envolta em cobertor. Uma bolinha sonolenta que abriu os olhos uma única vez desde que a trouxemos do hospital naquela mesma noite: durante o banho. Inclusive, coloquei uma touca minúscula nela e quase chorei ao perceber que a peça de lã cabia perfeitamente na palma das nossas mãos.

Apoiando-a firmemente nas costas, endireitei o corpo pequeno mais certamente sobre o peito de Maia, que parecia bem confortável; motivo pelo qual nosso bebê fazia até mesmo um biquinho enquanto dormia, a mão fechadinha exatamente em cima dos meus dedos.

- Não quero nunca mais largá-la. - sussurrou, sorrindo tanto ao ponto de fazer as duas covinhas aparecerem proeminentes, os fios loiros curtos cobrindo seus olhos azuis. - Ela é tão pequena. Tenho medo de machucá-la.

- Você não vai. - assegurei antes de deitar a cabeça no ombro de Maia, conseguindo uma visão ainda mais próxima do nariz pequeno e delicado e das feições tranquilas, não resistindo em acariciá-lo com as pontas dos dedos. Em resposta, ela apertou ainda mais as mãozinhas e o biquinho ficou ainda mais evidente. - Ela está protegida aqui, conosco.

- Para todo o sempre.

Ela disse, virando a cabeça o suficiente para me beijar devagar ao mesmo tempo em que entrelaçava nossas mãos sobre as costas do nosso neném.

O parto ocorreu rápido, e logo nosso pedaço de céu veio ao mundo, seu choro naquela sala me fez ter a certeza que, após esse minuto, nada no mundo seria mais importante. Eu cortei o cordão umbilical com os dedos trêmulos e não evitei lágrimas ao ouvir um 'parabéns, papai', da enfermeira.

Dada as 24hrs, viemos direto para casa e, após mandarmos inúmeras fotos para o grupo da família, Maia dar de mamar e um banho quentinho nela, caímos no sofá para assumir nossa posição de mãe babona e papai mais babão ainda.

- Com fome? - perguntei baixo, assistindo seus cílios tremularem de forma delicada. - Você não comeu nada o dia inteiro, amor. Não dá pra sobreviver com aquela comida de hospital.

Flashlight ● adaptação MuriliaOnde histórias criam vida. Descubra agora