55 ➨ Turning 21

88 15 2
                                    

(Marília's POV)

Fecho a porta do meu quarto e me jogo na cama, conectando o carregador na tomada ao lado da cabeceira. Abraço um travesseiro e solto um gemido de deleite ao sentir o gelado do tecido contra o meu rosto.

Tudo no meu quarto permanece o mesmo, exceto por algumas coisas que comprei, como vasos de plantas novos e o aparelho de som para conectar o celular. Mas, tirando isso, parece que eu estou de volta aos meus quinze anos. As paredes pintadas de cinza-chumbo, sendo uma delas inteira coberta com vários pôsteres de banda, ingressos de show e imagens gigantes de cantores, o tapete macio preto, a cama de solteiro...

Tudo a mesma coisa. Eu pareço ser uma intrusa, totalmente alheia a tudo, sendo a única coisa aqui dentro que está constantemente mudando.

Rolo de novo na cama e abraço o outro travesseiro, o vento vindo da janela refrescando meu rosto.

Reflito que desde o diagnóstico de João Gustavo eu nunca tomei uma decisão pensando em mim, na minha vida, em meu benefício próprio. Eu não tive tempo para pensar em morar sozinha, ou fazer algum estágio, viajar com meus amigos... Nada disso. Eu só pensava no João e no seu bem-estar, no que ele precisava de ajuda e no que fazer para animá-lo. Eu passava os dias constantemente pensando em maneiras de deixá-lo feliz.

Não me martirizo, me arrependo ou me culpo, ou culpo a ele por isso. João tem sido uma luz na minha vida desde que minha mãe descobriu a gravidez e eu faria tudo de novo se fosse para tê-lo bem e saudável como ele está agora. Só é maluco pensar que mais cedo ou mais tarde, eu preciso tomar as rédeas da minha vida e tomar decisões pensando em mim e a mim somente.

Talvez eu devesse começar isso imediatamente e não adiar o inevitável.

- Vovó, eu vou voltar para casa. - levanto-me da banqueta. - Nunca pensei que uma loja de restauração pudesse ser tão torturante. Eu nem sei como cogitei essa ideia, eu nem levo jeito para isso.

- Não, senhora. - ela empurra meu ombro e me faz cair sentada novamente. - Termine de anotar o nome dos clientes que virão essa semana junto com o tipo de restauração que será feita para que eu possa pedir seu avô para compras as ferramentas. Vou terminar de colar as partes daquela cadeira, e se você fugir, eu te deixo com fome até a hora de ir embora de noite. - ela aponta uma chave de fenda em minha direção. - E estou falando muito sério.

Vovó empurra a porta de vidro que leva aos fundos da loja, onde acontece toda aquela mágica de restauração com ferramentas que eu nunca ouvi falar, e deixa bater a porta atrás de si ao passar.

Sabendo que Dona Teresa sempre, sempre cumpre a palavra, endireito-me na banqueta atrás do balcão do caixa e olho para as duas folhas de sulfite. Pego uma caneta azul no porta-lápis e uma régua que está ali em cima para fazer as divisões na folha marcando cada cliente. Após dezoito quadrinhos, abro o caderno onde ela escreve os horários e os nomes das pessoas.

Escrevo o nome da primeira pessoa marcada para hoje de tarde e o tipo de restauração quando meu celular vibra no bolso de trás do meu short. Ergo os quadris para pegá-lo e desbloqueio, apoiando os cotovelos sobre o balcão enquanto rolo a tela de notificações para baixo.

Amor: espero que dia esteja sendo bom.

Amor: e que tenha gostado das flores de hoje (ps: Marcela quem escolheu)

Sorrio e respondo que amei muito, tanto quanto as de ontem e que os amo mais que tudo.

Depois de nossa conversa da semana passada tudo se tornou mais complexo; eu penso e repenso sobre o que foi falado durante todas as horas livres do meu dia, e foi por esse mesmo motivo que decidi ajudar vovó, para que algo me distraísse dos pensamentos hostis e confusos.

Flashlight ● adaptação MuriliaOnde histórias criam vida. Descubra agora