13 ➨ When I Lay With You

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(Marília's POV)

- Marília, não podemos continuar com isso. - aquela tinha sido a única vez que eu havia desejado que seus olhos não encontrassem com os meus.

- O quê? - perguntei, engolindo em seco, com suas palavras frias martelando em minha cabeça. Eu só desejava que tivesse escutado errado, mas com sua expressão, soube que havia escutado perfeitamente.

- Isso não pode continuar. - disse, por fim, depois de um longo e angustiante tempo. - Você é uma mulher incrível, é linda, engraçada, mas... - ele coçou a nuca, enquanto eu já sentia meus olhos pinicarem, odiando-me por ser tão sensivel. - Eu não posso. Não mais. Nós temos princípios diferentes. Eu tenho uma filha e sou muito ocupado. Você veio 'pra cá por causa do seu irmão e eu não quero te atrapalhar com isso, fora outros motivos...

- Quais motivos? - perguntei, por um fio, sentia um nó se formar em minha garganta.

- Vários. - ele suspirou, desviando seu olhar do meu, como se me ver chorando fosse forte demais pra ele. - Eu adoro sua companhia, Marcela também, não quero que isso acabe. Só que não podemos ser mais do que amigos. Nunca deveríamos ter avançado isso, igual fizemos anteontem. - a primeira lágrima escorreu dos meus olhos e eu a limpei rapidamente, virando o rosto para o lado. - Eu só faço isso para o seu bem, porque eu só quero o melhor pra você.

- Para o meu bem? - meu tom estava alterado - Você só está pensando em você!

Ele inclinou a cabeça, provavelmente processando o que eu tinha acabado de dizer. Tinha sido tão idiota, em ter pensado o dia todo que ele iria se declarar, da mesma forma que eu iria, quando, na verdade, não tinha chegado nem perto disso.

- Eu sinto muito, Marília. - ele me encarou, mas não soube dizer o que ele estava pensando ou o que aquela expressão queria dizer.

A cozinha ficou em um silêncio mortal, e eu nem sequer tinha coragem de levantar o olhar até ele, sabia que não conseguiria segurar caso eu o olhasse. Limpei mais algumas lágrimas com a palma da mão, soltando um soluço dolorido em seguida, sentindo-me como se fosse uma idiota total. O jantar já estava pronto, e eu não sabia se conseguiria comer com ele agora. Olhei para as panelas por cima da trena do fogão, pensando no que dizer. Ele estava no direito, não é? Eu não tinha mais o que fazer.

- Tudo bem. - um suspiro longo deixou meus lábios. - Você é quem sabe. Essas coisas acontecem, né. - meu coração se apertou com tanta força, que eu poderia escutar o barulhinho do mesmo ser quebrando em mil pedacinhos e a dor emanava. - Eu só te peço que não me afaste da Marcela, ela é muito especial pra mim, e eu não consigo mais ficar longe dela. - pedi, olhando em seus olhos que pareciam tão vazios nesse momento. Não reconheci o mesmo brilho da noite de anteontem.

- Não vou afastá-la de você, fique tranquila, pode ir vê-la quando quiser. - ele disse prontamente, sorrindo de lado, tentando amenizar a situação, e por mais que eu estivesse murcha por dentro, também exibi um sorriso de lado, sem mostrar os dentes. - Bom... acho melhor deixarmos o jantar para outro dia.

- É, eu também acho. - minha voz falha, e sinto mais lágrimas se acumularem em meus olhos. Não reconhecia minha própria voz graças ao bolo em minha garganta que pesava algumas tonelada.

- Boa noite e... - seus olhos se encontraram com os meus pela última vez e eles me mostravam os mais sinceros olhares de desculpa. - Eu sinto muito, novamente. - murmurou, seguindo até a porta sobre o meu olhar embaçado.

- Tchau, Murilo... - sussurrei, desviando o olhar, encostada no balcão de mármore. Esperei que ele saísse, caminhando até a porta e trancando-a, encostei-me contra a madeira e passei a mão pelos braços em busca de calor. Era como se um frio pesado tivesse descido no cômodo. Fechei meus olhos e lágrimas copiosas desceram pelos mesmos, e alguns soluços as acompanharam, escutando o barulho da porta da frente ser fechada. Empurrei o cabelo para longe do rosto e, recusando-me a ser um clichê completo e me encolher contra a porta, com passos lentos, como se tijolos tivessem impossibilitando que eu caminhasse, adentrei a cozinha, desligando o forno, percebendo que o frango já estava no ponto certo.

Agora não fazia sentido nenhum comer tudo isso sozinha, então mais uma vez deixei a cozinha, caminhando com os mesmos passos até o meu quarto. Minha cama era gelada, entrando em contato com minha pele, causando-me arrepios bizarros. As lágrimas rolavam sem a minha interrupção e eu apenas deixava com que isso acontecesse. Aquilo não havia sido a primeira vez que eu havia me decepcionado com alguém, só que com Murilo, tudo mudava de figura, era como se doesse mil vezes mais, como se fosse ainda mais difícil.

O meu grande problema, foi ter colocado sentimento em algo que poderia dar errado em qualquer momento. A boba fui eu que quis acreditar que isso poderia acontecer. Eu não deveria ter me entregado, não deveria ter entregado o meu coração. Murilo acidentalmente havia aberto algumas feridas bem grandes do passado, além de ter criado algumas novas.

Soltei um suspiro, tentando mudar o rumo de meus pensamentos. Ou não pensar em nada.

(Murilo's POV)

Acordei, sentindo-me um pouco tonto. Minha cabeça latejava e minha boca estava seca. Também sentia minhas costas doloridas e meu braço esquerdo também, provavelmente porque havia dormido por cima do mesmo. Senti um peso em meu outro braço, e abri os olhos, apenas para encontrar Marcela deitada sobre o mesmo, assistindo algum desenho animado que passava na televisão, foi quando me dei conta que estava na sala e não no meu quarto, como de costume.

- Bom dia, papai! - Marcela exclamou, seu tom animado e alto fez com que minha cabeça latejasse, o que resultou em uma careta da minha parte.

- Bom dia, princesa. - murmuro, levantando-me e necessitando que minha garganta seja molhada. Espreguicei-me quando levantei do sofá, recordando-me de não dormir ali nunca mais. Não tive boas experiências no mesmo há algum tempo.

- Bom dia, querido. - Olga disse, no momento em que adentrei a cozinha, percebendo que ainda era cedo, pelo fato da mesma estar preparando o café. Cortando alguns morangos, e panquecas estavam feitas empilhadas em um prato.

- Bom dia. - abri a geladeira, retirando da mesma a jarra de água, abrindo um dos armários para pegar um dos copos de vidro, servindo o mesmo com o líquido, não demorando em descer o mesmo pela minha garganta, sentindo um súbito alívio.

- Houve algo? - perguntou, estranhando o meu comportamento rude. Eu poderia até ter alguns dias ruins, mas sempre procurava não descontar a minha frustação nas pessoas em minha volta, e Olga, com certeza, era uma pessoa que eu jamais descontaria.

- Não. - respondi simples, não querendo nem entrar no que havia acontecido ontem e sobre o fato de eu estar péssimo.

Mesmo que, talvez, esteja bem notável em minha expressão.

- Tem certeza? É a primeira vez que eu chego aqui e você está dormindo jogado no sofá. E eu ainda me recordo que misteriosamente você deixou Marcela em minha casa, afirmando que tinha um jantar com alguém misterioso. - ela disse, seu tom irônico, enquanto despejava os morangos frescos dentro do liquidificador.

Optei por ficar em silêncio, sabendo que Olga poderia ser bem curiosa quando quer, e conseguiria, de uma forma ou de outra, arrancar alguma coisa de mim. Nisso ela tinha um dom surreal, de fato parecia minha mãe, e se pudesse, ainda encaixava uma bronca em seus conselhos.

Me distanciei dela, abrindo a porta da varanda, para que pudesse colocar ração na vasilha do Thor. Sorrindo para o cachorro que quase pulou em cima de mim quando apareci, pelo medo de Marcela, ele só fica em casa quando ela não está. Fiz carinho em seu pelo, puxando a vasilha para onde ele estava, saindo da varanda e fechando a porta novamente.

- Vou tomar um banho. Tenho que ir trabalhar em menos de meia hora. - deixei a cozinha, sorrindo ao ver Marcela vidrada no desenho que passava na televisão, virando-se em minha direção apenas para me mandar um beijinho, onde eu fingi lhe pegar no ar, o que fez com que uma gargalhada gostosa escapasse.














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Lançando este capítulo para ninguém me matar😂

Espero que gostem, não se esqueçam de comentar e deixar a estrelinha

Amo vcs,
Luana.

Flashlight ● adaptação MuriliaOnde histórias criam vida. Descubra agora