51 ➨ We'd Have A Last Kiss

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(Marília's POV)

Acordo no meio da madrugada com o vento congelante que está entrando pela janela e tomando o quarto inteiro, o barulho irritante das árvores chacoalhando lá fora com o vento me impedindo de simplesmente puxar a coberta, rolar para o lado e dormir novamente.

Bocejando de sono, me levanto. Preciso me apoiar na parede com a cabeça baixa por alguns segundos por causa da falta de equilíbrio, mas assim que tudo volta a ficar claro no limite do possível devido às luzes apagadas, fecho as janelas, quase tropeçando nos próprios pés ao puxar as cortinas.

Acendo a luz do abajur e dou poucos passos até o lado em que Murilo está. Seu corpo esguio está jogado na cama de qualquer forma e eu me aproximo para que possa cobri-lo. Eu sorrio fraco ao observá-lo dormir tranquilo e eu sinto meu coração diminuir de tamanho ao me dar conta de que é a última vez que vejo-o assim.

Passamos uma grande parte da noite fazendo amor, explorando nossos pontos fracos e plantando beijos molhados e lentos conforme tentávamos conter os gemidos altos; parte eu vejo como uma despedida, a outra parte vejo como uma tentativa de memorizar com o tato cada pedaço de pele.

Balanço a cabeça e troco o moletom cinza por um suéter de lã grosso. Pego meu celular, a garrafa d'água e meu carregador na mesa de cabeceira e saio do quarto.

O corredor está silencioso, escuro e gelado. Minha única claridade é a lanterna do celular, já que não quero acender as luzes e acordar Marcela, que sempre dorme com a porta aberta como exigência de Murilo.

Desço as escadas e passo pela sala antes de seguir até a porta, abro-a e me sento na escada de madeira do prédio, parcialmente iluminada pelos poucos postes de luz instalados ao lado dos apartamentos.

Bebo a água e apoio o queixo nos joelhos ao encolher as pernas, deixando o frio amortecer todos meus pensamentos gritantes que sempre tento empurrar para o fundo do meu subconsciente, não os permitindo me deixar louca; essa é a ultima coisa da qual preciso agora. A última coisa entre ir embora em três exatas horas, Marcela irritada e tudo escorrendo pelos meus dedos. 

Subo a cabeça quando encaro as rosas na porta da nossa vizinha idosa, aquela que eu encontrei na primeira vez que cheguei aqui, elas ainda estão em botões, algumas no processo de abrir e outras já desabrochadas, completamente vívidas e coloridas vibrantemente de vermelho por causa do inverno.

Como algo que antes parecia tão certo pode ser tornar tão errado?

Eu amo minha família, sempre amei, mas o problema está concentrado no x da questão. O problema está na situação ao todo e tudo que eu vou deixar para trás. Eu estou indo com minha família, mas deixando minha outra família para trás. 

O problema é, da forma mais básica possível, isso.

- O começo do inverno fez bem para elas.

Olho para o lado e vejo mamãe se sentando ao meu lado, apertando o robe de seda em volta do corpo enquanto aponta com a cabeça para as roseiras.

- Sim, dá pra ver. - só percebo o quanto minha voz está quebrada quando tento falar. - Estão tão bonitas, mãe.

- Estão, meu amor. - ela sorri e eu sinto seus olhos me estudando por um tempo. Todos dizem que as mães sentem e sabem o que os filhos estão sentindo e sei que isso se aplica a ela. - Você sabe que ainda dá tempo de desistir, não sabe?

- Não vou deixar vocês. - eu rebato, meu tom mais rude do que eu gostaria.

Ela suspira fundo. - Meu amor, não é isso que você-

Flashlight ● adaptação MuriliaOnde histórias criam vida. Descubra agora