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Capítulo não revisado.

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Era madrugada quando Rindou sentiu falta do quentinho ao seu lado, abriu os olhos, vendo que estava sozinho na cama. Se levantou, procurando qualquer sinal meu, indo até o banheiro e vendo que estava vazio, indo então até a janela e me vendo sentada na grama ao lado de fora.

Suspirou aliviado por eu estar ali. Colocou um casaco e desceu para o exterior da casa, descendo também com uma garrafa de vinho e duas taças, pelos velhos tempos, se sentando ao meu lado em silêncio, demorei um pouco para perceber o homem ao meu lado.

– O que está fazendo aqui? – Perguntei com um pequeno sorriso em meus lábios.

– Senti sua falta na cama e vim te procurar. E você? O que faz aqui?

– Vim apenas refletir e pensar um pouco nas coisas, na vida, na minha mãe... acho que a ficha ainda não caiu, entende?

– Acho que é por isso que você não está sentindo tanto, justamente pela ficha não ter caído. Quando meu pai morreu, foi assim também.

– Desculpe perguntar, mas por que ele morreu?

– Suicídio. – Respondeu simples, meus olhos se arregalaram naquele mesmo momento. Rindou abria a garrafa e enchia nossas taças.

– Sinto muito pela minha pergunta.

– Não tem problema. Ele se suicidou eu era uma criança, e uma das memórias mais marcantes que tenho é que me culpei muito pelo que aconteceu, desde então prometi que não deixaria mais ninguém próximo a mim, morrer.

– Então vem daí essa sua necessidade de sempre me proteger?

– Mais ou menos isso.

– Eu não tinha tantas memórias boas com a minha mãe, ela quase nunca tinha tempo, e quando tinha, não o gastava comigo, mas lembro que vez ou outra, nós olhávamos as estrelas juntas. Eu dizia que um dia queria ir para o céu, ver as estrelas e os planetas de pertinho, ela dizia que um dia eu poderia ir, que eu teria uma portinha que me levaria até o céu, mas que eu só poderia usá-la uma vez, e não poderia sair de lá, então eu nunca quis entrar nessa portinha até aproveitar o máximo da minha vida aqui, e depois eu poderia explorar todo o universo.

Rindou ouviu com atenção a minha história, sorrindo vez ou outra admirando a inocência da infância e a forma como minha mãe me ensinou sobre a morte. Ele me olhava fixamente, como se também admirasse cada centímetro do meu rosto e do meu ser.

– Acredito que nesse momento ela tenha entrado nessa porta, ou deve ter entrado na portinha do inferno, nunca se sabe. – Falei rindo sem achar muita grande, virando todo o conteúdo da minha taça e a enchendo novamente.

– Você usa essa mesma metáfora com a Kiyoko?

– Não sei. Ela é muito inteligente, sabe bem como é a morte, mas não sei se seria uma boa ideia contar sem historinhas, ela tem apenas 3 anos.

– Não entendo muito sobre criação de crianças, mas eu acho que seria bom. Por mais que ela seja inteligente, será melhor para ela se confortar e não sentir culpa. Eu ao menos gostaria que tivessem me contado de forma mais pacífica.

– Então assim que amanhecer, contarei a ela. Você pode estar comigo nesse momento, por favor?

– Com toda certeza, princesa. Quero te apoiar em cada passo da sua vida. – Segurou minha mão, e a partir daí, ficamos em silêncio por um bom tempo, apenas observando as estrelas até decidirmos entrar.

[...]

Não havia nada no mundo que me magoasse mais do que ver minha princesinha chorar. O rosto dede Kiyoko já estava vermelho e inchado de tanto que chorou ao receber a notícia, e é claro que chorei junto também. Rindou estava ali junto a mim, tentando consolar a pequena que mal conseguia falar.

𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐟𝐫𝐨𝐦 𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫 𝐥𝐢𝐯𝐞𝐬 - Rindou HaitaniOnde histórias criam vida. Descubra agora