Dois

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— RA TIM BUM! — Bati palmas. — FELIZ ANIVERSÁRIO PRA MIM! — Sorri assoprando as velinhas.

Como as coisas mudam.

Como o tempo passa rápido.

Faz três anos desde a morte da minha mãe e hoje completo dezoito anos de idade. Estava dentro do quarto, havia comprado um bolinho e uma velinha. Minha mãe me fez prometer que não passaria um dia triste, que todos os meus dias na terra seriam bons e mesmo que não fosse (que na maioria dos dias é o caso) eu simplesmente tentaria ver o lado bom das coisas. Hoje Owen me deu o dia de folga, ele viajou recentemente para uma viagem de trabalho. Owen vivia mais fora do que dentro desta mansão, pelo menos ele não se esqueceu da folga que me prometeu.

Fiz um pedido e assoprei as velinhas. Sorrindo, olhei de relance para a porta, pois senti o olhar de alguém pairando sobre mim. Era ela.

— Precisa de alguma coisa, senhora?

— Sim. — Colocou a mão na maçaneta da porta, terminando de abri-la. — Vou receber a visita de uma amiga que não vejo a muito tempo, quero que organize tudo.

Me levantei da cama afastando o bolo um pouco mais para o lado da mesinha minúscula que havia aqui.

— Mas é o meu aniversário. O senhor Owen disse que eu...

— O senhor Owen não manda em nada quando o assunto é você, Amélia. — Me cortou. — O salário que recebe, o colégio que frequenta e a cama que dorme sou eu quem banco.

— Mas...

— Mas nada, Amélia! — Se estressou. — Vá agora, depois que terminar você poderá sair.

Sorri.

— Certo!

Ela encarou o bolo sobre a mesinha.

— A senhora quer? — Ofereci. — Comprei naquela padaria perto de casa.

— Não. Puxar meu saco não vai adiantar.

— A senhora sabe melhor do que ninguém que eu não sou de puxar saco de patrão, só não queria comer sozinha.

Adele permaneceu relutante, negou o meu convite e se retirou em seguida. Desde que tinha oito anos de idade, não aceito mais as patadas dela. Sempre respondo quando é necessário, às vezes acho que Adele gosta desse meu jeito, se não porque ela não me manda embora?

Dei de ombros.

Comi um pedaço de bolo e depois fui me trocar, coloquei o uniforme e antes de começar os afazeres deixei o bolo na geladeira. Passei pela área da casa, havia um quartinho de limpeza lá. Antes de chegar, observei a senhora Adele na beira da piscina. O sol estava escaldante e eu sabia o quanto ela detestava sentir calor. Na mansão possuía ar condicionado, porém a sua renite atacava facilmente. Depois que a gente convive a vida toda ao lado de uma pessoa, é impossível não reparar nas suas manias e trejeitos. Inclinei a cabeça para o lado ao vê-la tirar a roupa, ficando apenas de biquíni.

Adele tinha quarenta anos redondo e possuía um corpo e disposição invejável por muitos. Ela é linda, principalmente quando era mais jovem e hoje em dia nada mudou. Cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso que ela fazia questão de esconder de todos. Posso contar nos dedos a quantidade de vezes que vi ela sorrir. Fora a elegância e sensualidade que Adele exalava... Confesso que não sei o motivo de admirá-la tanto assim.

— Amélia! — Em falar nela.

me aproximei da área de piscina.

— Sim?

— Tem umas coisas que quero que compre, deixei a lista em cima da bancada na cozinha. — Começou a passar protetor solar no seu corpo. — Na limpeza você foca mais na copa, não pretendo ficar muito em casa, pode ser que eu saia com a minha amiga.

Encarava a forma delicada com a qual ela passava o protetor solar. Quase não prestei atenção no que ela dizia.

— Tá. Algo a mais?

— Não, acho que não.

Concordei pedindo licença.

— Amélia!

Me virei novamente.

— Sim?

— Pode passar protetor nas minhas costas? — Ela se virou de bruços, me dando uma visão mais privilegiada de seu corpo.

Confesso que poucas coisas me deixavam nervosa. Ter um contato tão próximo com o de Adele era um deles. Me aproximei como se o chão fosse feito de vidro, me agachei pegando o protetor e derramando um pouco nas suas costas. Seu corpo se arrepiou devido ao contato do creme gélido na sua pele exposta. Comprimi os lábios. Comecei a massagear a região das suas costas em seguida.

— Coloca mais força nessa mão, Amélia, quase não estou sentindo. Preciso que passe direito, Deus me livre ficar com manchas por causa do sol.

— Tá.

Adele fechou os olhos.

Terminei de passar o protetor, deixei o creme em um canto aleatório da área e depois me recolhi. Precisava terminar logo os afazeres se quisesse sair de casa.

(...)

Assim que terminei todos os afazeres, Adele finalmente me liberou. Fui para meu quarto me arrumar. Tomei um banho e depois fui até o guarda roupa ver uma roupa para usar, optando por um vestido meio rodado na cor creme que havia ganhado em um verão passado pela minha mãezinha. Ele era um pouco acima do joelho. Deixei meu cabelo solto e fiz uma maquiagem simples, apenas para realçar a minha beleza. Norma, amiga de Adele, já havia chegado. Passei na copa apenas para avisar sobre a minha saída, não queria correr o risco de Adele vim com mais surpresas.

— Com licença, só vim avisar que já estou saindo... — Informei timidamente.

Norma me encarou de cima a baixo. Adele assentiu e finalmente eu pude me retirar, porém enquanto caminhava para fora da mansão, notei que havia esquecido minha carteira. Revirei os olhos. Corri para dentro novamente.

No meio do caminho ouvi uma conversa entre Norma e Adele.

— Como disse que essa menina se chamava?

— Amélia.

— Quando foi que você há contratou?

— Na verdade ela cresceu aqui, sua mãe trabalhava pra mim. Se lembra da Adelaide? — Questionou e Norma assentiu. — Então, Amélia é sua filha.

— E o que ela faz aqui?

— Adelaide faleceu há pouco tempo e Amélia assumiu o seu posto.

— Por Deus, Adele! Como pode deixar uma garota dessas trabalhar na sua casa? — Perguntava com o tom de voz carregado de indignação. — Não notou como ela é bonita e jovem? Coragem de deixá-la perto do Owen.

Franzi a testa.

Adele olhou por cima dos ombros de Norma, notando a minha presença. Pisquei algumas vezes, recuei alguns passos para trás e me retirei de imediato do seu campo de vista. Torcendo para que ela não nutrisse o veneno que sua "amiga" estava destilando. Já sentia um pouco a sua frieza com a minha pessoa, não queria que as coisas entre nós piorassem. Nunca daria bola para o seu marido, nunca! Espero que Adele saiba disso.

Passei em um barzinho com uma garota chamada Lili. Ela estudava comigo e a professora designou nós duas como uma dupla, para fazer um trabalho. Confesso que foi a melhor coisa que aconteceu, pois consegui fazer a minha primeira amiga. Lili era um amor de pessoa, tinha quase a mesma idade que eu (levando em conta que sou um pouco mais velha devido ao atraso que tive para entrar na escola). Nos divertimos, só tomei cuidado para não ficar bêbada, não queria correr o risco de acordar de ressaca. Imagina ter que trabalhar e estudar assim no dia seguinte.

Retornei para mansão tarde da noite.

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