Seis

117 17 10
                                    

Senti meu coração errar as batidas. Me repreendi mentalmente por ter soltado aquilo. Adele virou e de braços cruzados perguntou:

— E daí?

Franzi a testa incrédula.

— Como assim, e daí?

— Ué, você me viu fazendo sexo com o meu marido, qual é o problema?

— Qual é o problema? É sério que está me perguntando essa merda? — Fiquei vermelha de raiva. — Eu também moro aqui, acho que vocês acabaram se esquecendo desse detalhe.

— É de se admirar que isso não tenha acontecido antes, mas fico feliz que já seja adulta e saiba lidar com a situação. — Dizia serenamente.

Balancei a cabeça em negação.

— Eu mereço!

Adele estreitou os olhos inclinando a cabeça para o lado.

— Então é por isso que está tão brava. — Isso soou como uma afirmação. Adele começou a rir me deixando ainda mais constrangida. — Sinto muito, Amélia, mas acidentes acontecem... Isso poderia acontecer a qualquer momento, não é como se eu tivesse criado um show para você assistir.

— Eu sei. — Abaixei a cabeça. — Mas isso me deixou muito desconfortável e irritada.

— Além do sentimento de vergonha que te causou, você não sentiu mais alguma coisa que queira me contar? — Se sentou ao meu lado segurando a minha mão.

Encarei aquele contato.

E depois tomei coragem de olhar em seus olhos.

— Não.

— Hm, sério?

— Sei lá! — Revirei os olhos. — Não gostei de ver você com ele, Adele. — Juro que não foi proposital chamá-la tão informalmente, mas senti como se não fossemos apenas empregada e patroa. — Me sinto muito estranha quando o assunto envolve você.

Notei as bochechas dela corarem, acho que essa foi uma das poucas coisas que melhoraram o meu dia. Adele parecia não acreditar nas coisas que eu estava dizendo, mas era a verdade.

— Tá dizendo que ficou com ciúmes?

— Não sei.

— Tem mais alguma coisa que queira me dizer?

Pensei um pouco.

— Bom, você me faz sentir umas sensações que nunca senti com nenhuma outra pessoa. Me sinto assim desde muito nova, mas antes era só admiração, eu te achava bonita e super descolada por ser tão independente e hoje o sentimento continua só que tem alguma coisa a mais que não sei explicar.

Adele começou a ficar pálida, estranhei.

— Acho melhor a gente parar essa conversa por aqui, tudo bem? — Deu alguns tapinhas na minha mão e se levantou ajeitando sua roupa no corpo.

— Falei alguma coisa de errado?

— Não, não.

— E então? A senhora ficou muito estranha.

— Impressão sua. — Comprimiu os lábios em um sorriso. — Descanse um pouco, certo?

Concordei.

Adele saiu quase que imediatamente. Será que ela se chateou por me ouvir chamá-la de "Adele" e de "Você" ao invés da minha forma mais formal? Franzi a testa tentando entender.

(...)

Os dias foram passando e por incrível que pareça Adele ficou super estranha comigo. Quase não nos víamos pois ela saia de manhã e voltava quase a noite, ou então quando estava em casa passava o dia todo no quarto, biblioteca e escritório. Ela estava um pouco mais ríspida e arisca também.

Owen resolveu dar uma festa, pois foi promovido na empresa onde trabalhava. Ele daria um coquetel durante a noite, pensei que sobraria para mim cuidar de tudo, mas foi totalmente ao contrário. Owen contratou um bufê e garçons. Ele estava tão animado que até me convidou para a festa, timidamente olhei para Adele e perguntei se realmente poderia. Nunca havia ido em uma festa como essas antes, seria uma experiência nova, e felizmente Adele concordou.

— Essa é a roupa que havia prometido, Amélia! — Lili falou sorridente ao me entregar um dos seus looks favoritos, ela me emprestaria para usar no coquetel.

— São lindas!

Demos pulinhos de alegria e alguns gritinhos.

A peça se tratava de uma saia de couro preta, um body lindo na cor branca puxando um pouco para o prata. Ele tinha um decote enorme entre os seios, pensei várias vezes se iria com essa roupa ou não, mas Lili acabou me convencendo.

— Tem que me prometer que vai tomar cuidado com essa roupa! Se a minha mãe descobrir que eu te emprestei, ela me mata!

— Eu prometo! — Estendi o dedo mindinho e selamos o juramento.

— Agora se joga, garota! Não é todo dia que é convidada para um evento como esses. — Dizia e eu concordava eufórica. — Imagina só se você encontrar um ricaço ou uma ricaça nessa festa, poderá mudar a sua vida.

Dei risada.

— Aí Lili, você é meu anjo! — Te abracei. — Eu te amo muito.

— Eu também te amo, amiga. — Beijou minha bochecha. — Agora se arruma, vamos passar no salão para você dar um jeito nesse cabelo lindo.

— Não tenho dinheiro. Tudo que tenho está guardado para quando eu sair desse lugar.

— E quem falou em dinheiro, Amélia?! — Pegou a minha mão e me arrastou para fora do quarto. — É tudo por minha conta. — E fomos.

Passamos o dia no salão como Owen havia me dado folga, aprovado por Adele é claro. Fiz uma escova no cabelo e a cabeleireira fez alguns cachos no babyliss, deixando bem soltos. Lili me deu de presente também uma maquiagem feita através de uma profissional. Voltamos para mansão no finalzinho da tarde, descemos do táxi. Lili me deixou na porta, me deu um abraço apertado e um beijo na bochecha para me desejar uma boa sorte e por fim ela se foi.

Corri para dentro.

A mansão estava bem movimentada pelos preparativos. Não consegui ver a Adele até o momento, provavelmente nos encontraríamos só de noite.

A Bela Dama Onde histórias criam vida. Descubra agora