Três

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Caminhei em passos lentos em direção ao meu quarto, porém senti um pouco de fome e resolvi comer o restante do meu bolo que estava na geladeira. Não pensei duas vezes e fui para cozinha. Acabei encontrando Adele deitada sobre o balcão, ao lado havia uma garrafa de bebida vazia. Estranhei. Ela não ia sair com a amiga?

— Senhora? — Me aproximei. Cutuquei seu ombro.

Adele foi despertando com uma cara de poucos amigos.

— Hmmm? — Resmungou.

— Me desculpa, mas acho melhor a senhora ir se deitar no seu quarto.

— Não quero. Não estou cansada. — Tentou se levantar sozinha, se desequilibrando.

Te segurei com um pouco de dificuldade. Adele repousou seu queixo sobre meu ombro, senti o cheiro agradável de seu perfume.

— Senhora, por favor... Vamos para o seu quarto.

— Amélia, coloca na sua cabeça que você não manda em mim! Quem é a patroa aqui?

Concordei já sem paciência.

— Certo. — Afastei ela de mim. — Então espero que tenha uma boa noite!

Adele mais tropeçava nos seus próprios pés do que andava. Dei as costas e comecei a andar como quem não quer nada.

— Améliaaa!

Ouvi sua voz de longe e sorri.

— Aí senhora. — Balancei a cabeça em negação. Passei o seu braço envolta do meu ombro e conduzi até o andar de cima. Adele balbuciava algumas palavras, não estava conseguindo compreender muito bem. Só sei que não foi um trabalho muito fácil levá-la até seu quarto, porém quando entrei, deixei ela deitada sobre a cama.

Tirei seus sapatos e ajeitei seu corpo melhor na cama. Olhei ao redor, observando a decoração vintage do seu quarto, pensei que nunca na minha vida entraria nesse cômodo. Também pensei que nunca lhe veria dessa forma, mas até bêbada ela exalava elegância.

— Pronto! Durma bem, senhora. — Me virei para ir embora.

Senti sua mão segurar meu pulso.

— Amélia!

Olhei para o seu contato meio boquiaberta

— Sim? Precisa de mais alguma coisa?

— Sim, de você. — Respondeu simplesmente. — Se senta aqui do meu lado?

Fiz conforme o seu pedido.

Adele levantou a cabeça para me olhar.

— Do quê precisa?

— Aquela cobra da Norma. Ela falou coisas horríveis pra mim... — Balbuciava. — Depois que você foi embora? Bom, mandei aquela mocreia embora da minha casa! — Me encarou. — Ela disse que eu sou louca por deixar uma garota tão bonita como você ficar na minha casa, perto do meu marido.

— É, eu ouvi ela dizendo.

— Teria coragem de fazer isso comigo, Amélia?

— Como?!

— Meu marido é um homem muito atraente, tem dinheiro... — Abaixou a cabeça como se tivesse pensando nas suas próximas palavras. — Alguma vez já se sentiu atraída por ele?

Arregalei os olhos com a sua pergunta. Se ela soubesse que meu nervosismo e minha atração se deram início a partir do momento em que virei mulher, a partir do momento em que meus hormônios estavam à flor da pele e a única coisa que conseguia questionar era o motivo de me sentir tão esquisita ao seu lado. Ainda não entendo essa parada de sentimentos, atração e vontades, acho que nunca foi uma prioridade. Estou tão focada em me mudar desse lugar e me tornar finalmente independente, esse tem sido o que eu mais almejo, quase não tenho tempo para pensar em outras coisas. Sei que é só uma questão de tempo para Adele se irritar ou enjoar de mim. Depois que isso acontecer, o quê farei?

Tenho muitos questionamentos e pensamentos, mas nenhum deles envolve Owen Winters.

— Claro que não. Eu respeito muito a senhora, não faria uma coisa dessas.

— Ele já deu em cima de você?

— Não.

— Tem certeza?

— Senhora, não fique colocando coisas que não existem na sua cabeça, por favor. — Me levantei. — Ao invés disso, acho melhor você ir se deitar.

Me direcionei até a porta.

— Escuta, como foi o seu aniversário? — Seu olhar estava sonolento.

— Foi bom, obrigada.

— Me conta como foi.

— A senhora parece muito cansada, amanhã conversamos.

— Minha presença é tão desagradável assim? Porquê tanta pressa em sair? Hoje você me convidava até para comer o seu bolo...

Voltei a fechar a porta do quarto, cruzei os braços e te encarei com um sorriso sem humor.

— Sempre imaginei como a senhora ficaria se tivesse bêbada, só não imaginei que ficaria tão carente! — Me aproximei me sentando do seu lado. — Se tiver muito carente eu posso te comprar um hamster.

— Eu adoro o jeito que é atrevida. — Sorriu. — Desde pequena...

Pela primeira vez em muito tempo eu vi o seu sorriso e por algum motivo isso me cativou. Devolvi o sorriso gostoso com a qual Adele me encarava. E sabia! Sabia que ela gostava do meu jeito, se não fosse por isso, eu já estaria no olho da rua. Já vi funcionários seus serem mandados embora por muito menos.

Comecei a contar como foi o meu aniversário, acho que foi entediante pois em minutos Adele pegou no sono. Me levantei e sai de fininho do seu quarto, indo para o meu em seguida. Me joguei na cama e adormeci de tão cansada.

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